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Instituto Fogo Cruzado mostra que Niterói tem maior ocorrência de tiroteios no Fonseca

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Niterói aparece como segundo município do Leste Fluminense com maior número de ocorrências
Bairro do Fonseca visto do alto. Foto: Marcelo Scancetti
Bairro do Fonseca, visto do alto. Foto: arquivo

A posição de Niterói no Mapa da Violência melhorou no primeiro semestre deste ano, se descolando dos municípios do  Rio e da baixada Fluminense. Mas o município foi o segundo do Leste Fluminense com mais ocorrências de tiroteios, atrás de São Gonçalo. Nesse período, aconteceram na cidade 57 tiroteios, que resultaram em 19 mortos e 34 feridos. Os dados fazem parte do Relatório Semestral do Instituto Fogo Cruzado, divulgado no último dia 18 de julho.

Ao menos 1.784 tiroteios foram mapeados na região metropolitana do Rio de Janeiro, sendo que 10% deles (181) ocorreram no Leste Fluminense, composto também pelos municípios de São Gonçalo, Itaboraí, Maricá, Rio Bonito, Cachoeira de Macacu e Tanguá.

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Ao todo, 197 pessoas foram baleadas na região, representando 8% do total de baleados na região metropolitana do Rio de Janeiro, no primeiro semestre.

O maior número de ocorrências foi registrado em São Gonçalo: 77 tiroteios, com 45 mortos e 41 feridos. Em terceiro lugar ficou Itaboraí (29 tiroteios, 26 mortos e 15 feridos), seguido por Maricá (17 tiroteios, 14 mortos e 2 feridos) e Rio Bonito (1 tiroteio, 1 morto).

Dentre os 92 municípios do estado, São Gonçalo também aparece no ranking dos mais violentos. Ficou em terceiro lugar, atrás de Duque de Caxias (115 tiroteios, 37 mortos e 40 feridos) e Rio de Janeiro (1.223 tiroteios, 334 mortos e 282 feridos). A Cidade Maravilhosa concentrou 68,5% dos tiroteios, 57% dos mortos e 53% dos feridos mapeados neste primeiro semestre.

Bairros

Dentre os municípios do Leste Fluminense, somente Niterói e São Gonçalo aparecem na lista que aponta os seis bairros com maior número de tiroteios, na região.

Lidera o ranking o Jardim Catarina (São Gonçalo): 16 tiroteios, 6 mortos e 11 feridos.

Em segundo lugar está Fonseca, em Niterói: 10 tiroteios, 10 mortos e 11 feridos

Completam o ranking:

3 – Bom Retiro (São Gonçalo): 5 tiroteios, 1 morto e 1 ferido

4 – Caramujo (Niterói): 5 tiroteios e 6 feridos

5 – Colubandê (São Gonçalo): 5 tiroteios, 4 mortos e 1 ferido

6 – Santa Rosa (Niterói): 5 tiroteios e 1 ferido

Menos tiroteios, mais vítimas

Na região metropolitana do Rio de Janeiro, ao todo, no primeiro semestre de 2023, houve 1.784 tiroteios. Em média, aproximadamente 10 tiroteios ocorreram, por dia, de janeiro a junho deste ano. O número de tiroteios teve uma leve redução de 2,5% em comparação com o primeiro semestre de 2022, que concentrou 1.830 tiroteios.

Porém, o número de vítimas aumentou: 1.112 pessoas foram vítimas de disparos de armas de fogo, no período, o que significa, seis pessoas baleadas por dia, em média. Desse número, 581 foram mortas e 531 ficaram feridas. Nos primeiros seis meses de 2022, 952 pessoas foram baleadas, sendo que 502 morreram e 450 ficaram feridas. Os números indicam um aumento de 16% entre os mortos e de 18% entre os feridos.

Dos baleados de janeiro a junho, 92 pessoas foram vítimas de balas perdidas. Entre as vítimas, 29 morreram e 63 ficaram feridas. O número de vítimas no primeiro semestre é o maior registrado nos últimos quatro anos, segundo Relatório Semestral do Instituto Fogo Cruzado. Nos primeiros semestres anteriores foram mapeadas 54, 68 e 71 vítimas em 2022, 2021 e 2020, respectivamente. O total de vítimas mapeadas neste primeiro semestre fica atrás somente do registrado em 2017, 2018 e 2019, que acumularam 105, 102 e 96 vítimas, respectivamente.

– O relatório semestral do Fogo Cruzado é um retrato do que vive o Grande Rio neste 2023: operações policiais altamente letais, disputas entre grupos armados e uma total ausência de política de segurança que foque em proteger a população em territórios conflagrados. Dados de segurança pública precisam ser prioridade para o Estado investir em uma política de proteção à população, voltada para a proteção da vida e redução dos tiroteios – avaliou Carlos Nhanga, Coordenador Regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro.

Segundo ele, as balas perdidas são tidas como o aspecto mais cruel dos tiroteios, “a consequência que mais amedronta”:

– Por trás das balas perdidas há toda uma dinâmica violenta que causa transtornos diários para a população. São escolas e postos de saúde fechados, transporte interrompido, trabalhadores que faltam ao serviço. Quando um tiroteio acontece, toda a sociedade sofre – observou.

No segundo semestre de 2022, o Instituto Fogo Cruzado passou a mapear a cor/raça das vítimas dos tiroteios. E neste primeiro semestre de 2023, dos 581 mortos acumulados, 68 eram negros, 84 eram brancos e 429 não tiveram a cor/raça identificada. Entre os 531 feridos, 17 eram negros, 12 eram brancos e 502 não tiveram a cor/raça identificada.

Ações e operações policiais

De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, as ações e operações policiais foram o principal motivo dos tiroteios. Entre os 1.784 registros acumulados no semestre, 672 deles (37%) se deram nestes casos. Em média, é como se a cada três tiroteios ocorridos, um tivesse sido nestas circunstâncias, deixando 656 pessoas baleadas – 274 morreram  e 382 ficaram feridas. Em 2022, 578 tiroteios se deram durante ações e operações, deixando 603 pessoas baleadas (273 delas mortas e 330 feridas).

Nesses confrontos, 80 agentes de segurança foram baleados na região metropolitana do Rio de Janeiro no primeiro semestre. Entre eles, 40 morreram (sete em serviço, 22 fora de serviço/de folga, nove eram aposentados/exonerados e dois não tiveram o status de serviço identificado) e 40 ficaram feridos (24 em serviço, 12 fora de serviço/de folga, dois eram aposentados/exonerados e dois não tiveram o status de serviço identificado). Os policiais militares foram a maioria das vítimas, com 61 baleados (sendo 30 mortos e 31 feridos).

Nos primeiros seis meses de 2022, que concentrou 66 agentes baleados, sendo 30 mortos (quatro em serviço, 18 fora de serviço/de folga e oito eram aposentados/exonerados) e 36 feridos (22 em serviço, 11 fora de serviço/de folga e três eram aposentados/exonerados). Os policiais militares foram a maioria das vítimas, com 49 baleados (sendo 16 mortos e 33 feridos).

Houve 31 chacinas na região metropolitana do Rio neste primeiro semestre, deixando 109 pessoas mortas. Entre as chacinas mapeadas no ano, 61% delas (19) foram durante ações ou operações policiais, deixando 74 civis mortos – o que representa 68% dos mortos em chacinas.

Em 2022 houve 25 chacinas com 109 mortos no total – sendo 18 delas (72%) em operações policiais que deixaram 89 mortos (82%).

As disputas entre grupos armados – facções do tráfico e milícias – também são responsáveis por um grande número de ocorrências. Ao menos 98 tiroteios se deram entre grupos armados, provocando a morte de 62 pessoas e deixando outras 25 feridas. Em 2022, houve 56 tiroteios em disputas, deixando 29 mortos e 20 feridos.

A Zona Norte do Rio de Janeiro concentrou a maioria dos tiroteios ocorridos em disputas de grupos armados, foram 45 registros na região. O maior número de vítimas, porém, foi registrado na Zona Oeste da capital fluminense: dos 87 baleados em disputas entre grupos armados, 48 foram atingidos na região (38 morreram e 10 ficaram feridos).

As vítimas

14 crianças, 26 adolescentes e 21 idosos foram baleados no Grande Rio no primeiro semestre. Entre as vítimas, cinco crianças, 11 adolescentes e nove idosos morreram.

Em 2022, neste mesmo período, quatro crianças, 23 adolescentes e 21 idosos foram baleados no Grande Rio no primeiro semestre. Entre as vítimas, uma criança, oito adolescentes e 10 idosos morreram.

O relatório do Instituto apontou que, no primeiro semestre, 26 pessoas foram mortas e 10 ficaram feridas quando estavam dentro de casa. Outras 18 pessoas foram mortas e 14 ficaram feridas quando estavam dentro de bares, enquanto 4 pessoas foram mortas dentro de transportes públicos. Além disso, 2 pessoas ficaram feridas dentro de barbearias; uma pessoa foi morta dentro de um shopping; e uma pessoa ficou ferida dentro de unidade ensino.

Entre os 1.112 baleados, o Instituto identificou que 10 mortos e 5 feridos eram mototaxistas; 13 mortos e 1 ferido eram entregadores/motoboys; Quatro mortos e 2 feridos eram vendedores ambulantes; e 3 mortos e 1 ferido eram motoristas de aplicativo.

 

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