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Contrariando todas as expectativas, a população de Niterói encolheu. É o que aponta o Censo de 2022 do IBGE, divulgado nesta quarta-feira (28). A população da cidade, que era de 487.562 moradores em 2010, agora é de 481.758, uma redução de 1,19%, invertendo pela primeira vez a curva de crescimento. Uma perda de 5.804 moradores. Os técnicos do IBGE consideram, numa análise geral, que a redução do crescimento do país se deve à pandemia da Covid e ao processo de migração global.
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O Censo de 2010 apontou a existência de 487.562 moradores na cidade. Desde então o Instituto passou a informar no seu site uma projeção baseada na curva de crescimento dos últimos anos. A última delas, divulgada ainda este ano, apontava para uma população de 516 mil moradores. Com isso, Niterói, que historicamente aparecia como o quinto maior município do Rio, perdeu posições para Campos e Belford Roxo e figura, agora, em sétimo lugar, ficando na 21ª colocação na região Sudeste e na 44ª colocação no Brasil.
A pesquisa do IBGE também aponta que a cidade de Niterói tem uma densidade demográfica de 3.601,74 habitantes por km² e uma média de 2,47 moradores por residência.
O panorama divulgado no site do IBGE revela que, desde 1970, Niterói não tinha apresentado, até o levantamento deste último Censo, nenhuma redução populacional. Em 1970, a cidade tinha 324.256 moradores. Em 1980, a população cresceu para 397.135. Em 1991, para 436.155 e, em 2000, para 459.451.
Mas Niterói não foi um caso à parte. Outras cidades da Região Metropolitana e também a própria capital do estado perderam população. No estado do Rio, o crescimento foi ainda menor, de 15.989.929 para 16.054.524, aumento de 0,40%. São Gonçalo teve a queda mais relevante. A população que era de 999.728 em 2010 ficou em 896.744, uma queda de 10,30%. Na contramão, Maricá apresentou um aumento populacional. A cidade cresceu 54,79%, entre as maiores taxas de todo o Brasil; mais precisamente, a nona maior do país. De acordo com o Censo 20/22, a cidade passou de 127.461, em 2010, para 197.300, no Censo 20/22.
– Infelizmente, o estado do Rio de Janeiro é o que tem revelado o pior desempenho em termos de emprego dentre todos os estados brasileiros. O problema é antigo e vem desde que a transferência de capital não gerou nenhum programa de compensação para a capital do estado e para o estado. Nos anos recentes, o péssimo desempenho econômico do estado se acentuou, o que gera êxodo das cidades mais importantes.
E acrescenta: – São Gonçalo e outras cidades também perderam população. Nos últimos anos, a falta de infraestrutura mínima tem prejudicado muito a vida cotidiana nessas cidades, o que pode ter provocado a saída de pessoas dessas cidades, em direção a outros estados. Veja o caso de Maricá, que tem excelentes administração e muitas obras sociais. Em Maricá, houve importante expansão da população. O desempenho econômico e social são muito importantes – explica Fernando Mattos, professor de Economia da UFF e pesquisador com ênfase em estudos relacionados à Demografia, Desigualdade Econômica e Distribuição de Renda.
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O Censo mostrou, ainda, a migração da população da Região Metropolitana para Maricá, Saquarema e Cabo Frio, ente outros municípios. Uma grande surpresa foi o crescimento da população na Região dos Lagos, como Rio das Ostras, por exemplo. Segundo Fernando, a expansão da produção de petróleo em Macaé pode ter contribuído para o aumento de população na cidade e em Rio das Ostras, município vizinho.
– Macaé tem desenvolvimento. Muita gente foi morar em Rio das Ostras para trabalhar em Macaé. A produção de petróleo aumentou muito a partir do primeiro governo Lula – observa.
A população diminuiu, mas o número de domicílios aumentou em Niterói desde 2010, de acordo com o Censo do IBGE divulgado nesta quarta-feira (28). A cidade tem 230.792 endereços, um aumento de 20,72% em relação ao Censo anterior. Já o tamanho das famílias em cada residência diminuiu, acompanhando a tendência de todo o país: 2,47 moradores em média, contra 2,79 na pesquisa nacional. O IBGE documentou ainda 45 pontos de residência improvisados e 154 abrigos coletivos na cidade de Niterói.
Domicílios têm tido, em média, menos moradores. Essa é uma tendência geral. Mais pessoas morando sozinhas e também casais tendo menos filhos – acrescenta o especialista.
De acordo com o professor de Sociologia da UFF, Daniel Misse, o estado do Rio de Janeiro talvez tenha sido aquele em que esse processo é mais visível. Ele afirma que no início da década de 1990 havia a previsão de que o estado alcançaria 19 milhões de habitantes na virada do século, porém essas previsões não se confirmaram. O estado teve uma média de crescimento populacional em torno de 1% nos anos 90 e 2000, chegando a uma estabilidade populacional de cerca de 16 milhões de pessoas de acordo com os primeiros dados do censo 2022.
– Percebemos que houve uma diminuição da concentração do número de moradores por domicílio no estado. Isso pode ser observado de forma ainda mais intensa em municípios com alto IDH, como Niterói. Houve regiões do estado que viram um aumento populacional como a Região dos Lagos, muito influenciada pela exploração do petróleo, que trouxe dinheiro para a região e ampliou o setor de serviços, demandando mão de obra, mas não necessariamente impactando numa melhora efetiva nas condições de vida na região – explica.
O A Seguir questionou a Prefeitura de Niterói sobre quais fatores ajudam a explicar a redução populacional. Em nota, a Prefeitura informou que está aguardando a disponibilização dos microdados do Censo Demográfico 2022 por parte do IBGE para tecer análises mais aprofundadas a respeito dos dados sobre a cidade. A pasta acrescenta que Niterói é um dos poucos municípios do Brasil a contar com uma Subsecretaria de Avaliação e Gestão da Informação de Políticas Públicas e afirma que a equipe está acompanhando os desdobramentos do Censo desde o início da operação em parceria com outros órgãos municipais.
O Brasil vem passando por uma transição demográfica muito intensa nos últimos 30 anos com uma redução no número de nascimentos e um envelhecimento da população de modo bastante rápido. De acordo com o sociólogo, esse processo se viu um diversos países industrializados, porém não de forma tão rápida como a que observamos no caso brasileiro.
Misse acredita que a pandemia pode ter ajudado nesse processo, pois houve um aumento nos óbitos em um período de redução forte da natalidade. No Rio de Janeiro, por exemplo, foram registradas 77.291 mortes oficialmente pela Covid até 24/06/2023, sendo uma morte para cada 4.652 pessoas. O estado em que proporcionalmente mais gente faleceu em decorrência da pandemia. Ele ressalta que houve muita subnotificação quanto a esses dados, que, na realidade, podem ser bem maiores.
Outro aspecto que pode ter influenciado a estabilização do crescimento populacional no Rio foi a crise econômica. Esse fator produziu uma queda na renda de forma geral, gerando um aumento do mapa da fome, que chegou, em 2022, a 4 milhões de pessoas no estado vivendo abaixo da linha de pobreza. Apenas em um ano, de 2020 a 2021, houve um aumento de 36% na pobreza extrema no estado. Isso veio somado a um processo de estagnação econômica que dura quase uma década.
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