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O que os nomes Ary Parreiras e Ernâni do Amaral Peixoto têm em comum? Quem mora em Niterói é bem possível que lembre que eles batizam ruas (na verdade, avenidas) constantemente engarrafadas. Ambos, porém, marcam presença na história dos governadores do Rio de Janeiro, nascidos em Niterói.
Desde os tempos coloniais, o Rio de Janeiro teve 190 “governadores”. As aspas se devem ao fato de que os mandatários nem sempre receberam essa designação. Desse total, apenas cinco nasceram em Niterói, cidade que foi capital estadual fluminense por duas vezes: entre 1834 e 1894 e de 1903 até a fusão entre os estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, decretada em 1974.
Há 67 anos, um niteroiense não ocupa o principal cargo executivo do Estado do Rio de Janeiro, sendo que a transferência do poder do Palácio do Ingá (Niterói) para o Palácio Guanabara (Rio) foi há 47 anos. Desde a fusão, Niterói perdeu influência política e não elegeu mais um governador. Moreira Franco até levava a fama de ser da cidade, porque foi prefeito e morava aqui, mas era do Piauí.
Foram governadores do Rio de Janeiro os niteroienses Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho (1800 – 1855), Antônio Nicolau Tolentino (1856 – 1858), Francisco Xavier da Silva Guimarães (1857 – 1917), Ary Parreiras (1890 – 1945) e Ernâni do Amaral Peixoto (1904 – 1989), que vale por dois porque ocupou o cargo duas vezes.
Pela ordem, foram o 26º governante do chamado Período Regencial (1844-1848), 11º governante do Segundo Reinado (1840-1889), 14º governador da Primeira República (maio de 1917 – junho de 1917), 5º governador da Segunda República (1931–1935) e o único da Terceira República (1937–1945; 1951-1955).
Atualmente, o Rio de Janeiro está na sua Sexta República, iniciada em 1985. O atual governador, o paulista Claudio Castro, que é candidato à reeleição, é o mandatário 64 do período Republicano e o 12º da sexta República. Também buscam se tornar o 13 º governador desse período republicano o gonçalense Marcelo Freixo e o niteroiense Rodrigo Neves.
No caso de Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho, muitos podem não ligar o nome à pessoa, ou melhor, à rua. Ele foi o Visconde de Sepetiba. Filho de um coronel, foi juiz, comerciante, jornalista, diplomata e militar. Tinha influência junto ao jovem imperador Dom Pedro II e os bailes que dava em sua casa eram famosos principalmente pela possibilidade de networking. Como Presidente da Província do Rio de Janeiro, seu principal feito foi a construção do canal de Magé. Ele está na origem do surgimento de uma colônia de alemães, na serra fluminense, denominada Petrópolis.
Sobre Antônio Nicolau Tolentino praticamente não há informações. Teria contribuído para que a ideia de um banco que incentivasse a poupança saísse do papel. Era a então chamada Caixa Econômica e Monte de Socorro, criada em 1861, pelo Imperador Dom Pedro II.
O militar Francisco Xavier da Silva Guimarães era o vice-presidente do Estado do Rio de Janeiro governado por Nilo Peçanha. Ele assumiu o cargo após a renúncia de Peçanha para se tornar ministro (mais tarde, se tornaria Presidente da República). Guimarães exerceu a presidência do Rio até sua morte, literalmente – ele teve um ataque cardíaco e morreu enquanto trabalhava no Palácio do Ingá, que foi sede do executivo do Estado do Rio entre 1903 e 1975, quando a fusão foi implantada. Atualmente, o Palácio, que fica no bairro niteroiense do Ingá, abriga o Museu de História e Arte do Rio de Janeiro. Oficialmente, se chama Palácio Nilo Peçanha.
Integrante da Marinha, Ary Parreiras foi nomeado interventor federal no estado do Rio de Janeiro. Sua gestão ficou marcada pelo grande número de obras. Em 1935, deixa o cargo e volta para a Marinha, quando se muda para Natal (RN) onde constrói e comanda a Base Naval de Natal. Era sobrinho e irmão dos pintores Antônio e Edgar Parreiras. Seu enterro foi acompanhado por uma multidão, pelas ruas de Niterói. Logo após sua morte, o escultor Honório Peçanha fez uma estátua de corpo inteiro de Ary Parreiras que, atualmente, se encontra na Praça Getúlio Vargas, na praia de Icaraí. O escultor era primo de Celso Peçanha, que também foi governador do Rio de Janeiro. Celso era primo-irmão de Nilo Peçanha.
Como Ary Parreiras, Ernâni do Amaral Peixoto foi um militar egresso da Escola Naval e nomeado interventor federal no estado do Rio de Janeiro. Em pleno Estado Novo, se tornou genro do presidente Getúlio Vargas. A implantação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, e da Fábrica Nacional de Motores (FNM), em Duque de Caxias, teria sido fruto de sua influência junto ao sogro.
Após a redemocratização do país em 1946, Ernâni do Amaral Peixoto ajudou na fundação do Partido Social Democrático (PSD). Voltou a ser governador do Rio de Janeiro, dessa vez, pelo voto, ficando no cargo entre 1951 e 1954. Manteve a aparente eterna meta de promover a recuperação econômica do estado, dessa vez, com foco na expansão da malha rodoviária. Governou durante a crise política que resultou no suicídio de seu sogro.
Nesse período em que os historiadores convencionaram chamar Sexta República, um governador é bastante associado à Niterói: Moreira Franco, que governou o estado de 1987 a 1991. Ele não é niteroiense, mas foi o primeiro prefeito eleito da cidade (1977 – 1982), depois do golpe militar de 1964.
Nascido em Teresina, no Piauí, foi casado com a filha do ex-governador Ernâni do Amaral Peixoto, Celina Vargas, que vinha a ser também neta do ex-presidente Getúlio Vargas. Moreira Franco começou sua atuação política no movimento estudantil, mas foi pelas mãos do sogro que teve a carreira consolidada.
Ele disputou o cargo de governador pela primeira vez em 1982, quando foi realizada a primeira eleição direta para o Palácio Guanabara depois da edição do AI-2, o Ato Institucional baixado pelo regime militar, em 1965, para “melar” o resultado das eleições à época. Moreira Franco perdeu a disputa para o gaúcho Leonel Brizola.
Também não é niteroiense o ex-governador Roberto Silveira (1923-1961). Patriarca de uma família política cujo nome é quase sinônimo de Niterói – tanto que também batiza uma avenida constantemente engarrafada – ele nasceu em Bom Jesus do Itabapoana e governou o Estado entre 1959 e 1961. Roberto Silveira morreu aos 37 anos, no exercício do cargo, vítima da queda do helicóptero em que viajava para verificar áreas inundadas na região serrana, mais precisamente, em Petrópolis.
Moreira Franco foi um ferrenho opositor da fusão dos antigos estados do Rio e da Guanabara, imposta pelo governo militar.
Com a fusão, a Guanabara se tornou um município do Estado, sendo que a cidade do Rio de Janeiro passava a exercer a função de capital dessa nova unidade federada. Dessa forma, Niterói perdia o status de capital de Estado, sendo convertida em sede de um município, o que acarretou um esvaziamento econômico, social e político.
Se há 67 anos um niteroiense raiz não ocupa o cargo de governador do Rio de Janeiro, isso não significa que os moradores da cidade não tenham intimidade com esses mandatários.
Pelo menos nove ruas e um túnel foram batizados com nome de um ex-governador do Rio de Janeiro. Algumas ruas: Gavião Peixoto, Marquês do Paraná, Visconde de Uruguai, Feliciano Sodré , Visconde de Itaboraí e Aurelino Leal. Coube a Raul Veiga, de São Francisco de Paula, atual Trajano de Moraes, batizar o túnel que liga o bairro de São Francisco a Icaraí, entre as Avenidas Quintino Bocaiúva e Roberto Silveira. Sim, Quintino Bocaiúva, nascido em Itaguaí, também é ex-governador, na verdade, ele foi Presidente do Rio de Janeiro, entre 1900 e 1903.
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