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A campanha eleitoral começa com muitas promessas. A implantação da Linha 3 do Metrô talvez seja a maior delas. A obra, projetada em 1968, sem nunca sair do papel, foi citada, esta semana, pelos três candidatos ao governo do Estado do Rio de Janeiro que estão melhor posicionados nas pesquisas de intenção de voto: o atual governador Claudio Castro (PL), o deputado federal Marcelo Freixo (PSB) e o ex-prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT). Cada um deles, porém, indicou um traçado diferente para o transporte.
Promessa de campanha
Freixo e Neves abordaram o tema durante campanha, respectivamente, em Niterói e São Gonçalo. Já o atual governador falou sobre o assunto durante uma caminhada por ruas do Centro do Rio de Janeiro. Na ocasião prometeu, se reeleito, fazer a Linha 3 do Metrô, “ligando Itaboraí, São Gonçalo e Niterói”. Ele informou que o projeto já está pronto. A verba para a obra, segundo Claudio Castro, virá do leilão da Cedae.
Durante a caminhada, ele lembrou que já está fazendo o corredor expresso em São Gonçalo e “com certeza” seu final será com a junção da Linha 3 do Metrô:
– O projeto está pronto, a gente só não fez antes porque não tínhamos dinheiro. Agora temos porque fizemos a maior concessão do Brasil – afirmou.
O leilão de concessão da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) do Rio de Janeiro, em abril do ano passado, resultou na venda de três dos quatro blocos em que a empresa foi fatiada, por R$ 22,69 bilhões. Entre os municípios beneficiados com o negócio estão Rio de Janeiro (R$ 5 bilhões) São Gonçalo (R$ 1 bilhão) e Duque de Caxias ( R$ 750 milhões) ,então sob gestão do prefeito Washington Reis, atual vice na chapa de Claudio Castro.
Castro e Freixo falaram sobre a Linha 3 do Metrô no mesmo dia, na última segunda-feira (22). O Candidato do PSB, porém, estava em Niterói, mais precisamente, na Praça Araribóia, no Centro da cidade, em frente à estação das barcas. Foi quando prometeu, se eleito, reduzir o preço da tarifa do transporte aquaviário:
– A passagem está cara porque há omissão do governo, falta de planejamento e integração dos transportes – afirmou.
Em conversa com eleitores, disse que, como governador do Rio de Janeiro, pretende tirar do papel a Linha 3 do Metrô “ligando São Gonçalo a Niterói”, além de completar a Linha 2, levando o traçado atual até a Praça XV, no Rio. Na ocasião, ele não informou quais recursos garantiriam a execução da obra.
O ex-prefeito de Niterói já tinha feito promessas relacionadas com a Linha 3 do Metrô quando, no mesmo dia 22, voltou ao tema ao ser entrevistado pelo site G1, que pertence às Organizações Globo. “Vamos fazer a Linha 3 do Metrô que estava prevista para ser feita antes da Linha 4. Vamos começar no primeiro mandato. Escreva aí”, prometeu.
Quatro dias antes, em campanha por São Gonçalo e Itaboraí, Rodrigo Neves apontara a criação dessa linha de Metrô como a solução para os problemas de mobilidade enfrentado por moradores dos municípios do Leste Fluminense:
– Hoje o trabalhador de Itaboraí e São Gonçalo leva duas a três horas para chegar no Centro de Niterói e no Centro do Rio, viajando igual sardinha em lata pela Niterói-Manilha. Em nosso governo, vamos tirar do papel a Linha 3 do Metrô, o Metrô dos mais pobres, o Metrô que sempre foi esquecido. Isso será uma mudança para melhor na qualidade de vida do povo – prometeu à época, durante a caminhada.
Na entrevista para o G1, Neves afirmou que iria começar “no primeiro dia do mandato”, a fazer a Linha 3 do Metrô, “que estava prevista para ser feita antes da Linha 4”. Ele explicou que para tirar a obra do papel lançaria uma licitação internacional para a construção do Metrô que ligaria a capital do estado a Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. Na sua opinião, o custo dessa obra, atualmente, deve ser mais baixo do que em 2015, quando, segundo ele, o projeto foi orçado em cerca de R$ 4 bilhões.
A Linha 4 do Metrô que liga Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, à Barra da Tijuca, na zona oeste, foi inaugurada para os Jogos Olímpicos, em 2016, pelo então presidente interino Michel Temer e pelo governador em exercício Luiz Fernando Pezão. As obras começaram em 2010. Dois anos depois, o governo do Estado do Rio de Janeiro divulgou que o custo total do investimento seria de R$ 8,7 bilhões contra os R$ 5 bilhões inicialmente informados. No final da obra, estima-se que custou R$ 10 bilhões.
Planos de governo
Claudio Castro: Nas “Diretrizes Gerais” do seu Plano de Governo, o candidato Cláudio Castro afirma que “o êxito absoluto da estratégia financeira” da sua atual gestão fez com que o Estado virasse, em 2022, “um enorme canteiro de obras, deflagrando obras de infraestrutura significativas” em todos os municípios fluminenses.
“Nosso otimismo encontra fundamento em obras efetivas, que estão modernizando a antiquada estrutura viária do Estado, indo até o mais remoto trecho vicinal rural, viabilizando novas centralidades metropolitanas ao rasgar poderosas artérias de escoamento sobre trilhos (o Metroleve Baixada – Arco) e a Linha 3 (São Gonçalo – Praça Araribóia), ao promover drenagens, desassoreamentos de rios e contenções de encostas”, diz um trecho do documento que tem, ao todo, 37 páginas.
No capítulo “Eixos do Programa de Governo”, no item 5, dedicado também à mobilidade urbana, dentre as nove metas listadas, não há referência à Linha 3 do Metrô, mas à implantação do Metroleve da Baixada Fluminense.
Marcelo Freixo: Com 100 páginas, o plano de governo do Marcelo Freixo apresenta, a título de introdução, o programa “Rio Integrado” que aborda a importância de “retomar o planejamento e o controle público do sistema de mobilidade, especialmente da Região Metropolitana”. O capítulo afirma que é preciso “voltar a investir em mobilidade e reorganizar o sistema para priorizar os modos de alta capacidade (trens e metrô) e integrar linhas de ônibus, assegurando viagens mais confortáveis e tarifas mais baixas”.
“O programa também buscará a retomada do fluxo de investimentos públicos em mobilidade no estado, a partir da articulação com o Governo Federal para investimento prioritário nos trens da Supervia e na construção da Linha 3 do Metrô (São Gonçalo – Niterói)”, afirma um trecho do documento. “É preciso, ainda, fortalecer o transporte hidroviário, dando solução permanente às Barcas, criando novas estações e reformulando a política de concessões para esse modal”.
Quando aborda mobilidade, o plano de governo cita, dentre as propostas prioritárias, a implementação, em caráter emergencial, já no primeiro ano de governo, de um “Plano Emergencial de Mobilidade” para, dentre outras questões, garantir a continuidade do serviço das barcas em caráter emergencial”.
Rodrigo Neves: No seu “Plano de reconstrução do Estado do Rio de Janeiro”, o candidato Rodrigo Neves aponta “12 objetivos centrais que nortearão as ações de toda a Administração Pública” do seu governo, caso eleito. O sexto deles aborda “transporte de qualidade e infraestrutura para o desenvolvimento”. O que diz o este trecho do programa de governo que, no total, tem cinco páginas:
“Ter um sistema de mobilidade e logística de alto padrão é requisito de sucesso para alcançamos padrões de competitividades superiores e levarmos qualidade de vida as pessoas. É urgente que se faça uma efetiva modernização do sistema ferroviário, aquaviário, metroviário e rodoviário de passageiros, combinando um amplo programa de segurança pública com investimentos em estações, seus acessos e áreas lindeiras, além de atuar no plano institucional com os municípios, fortalecendo as instituições de caráter metropolitano, para reformular a integração de forma que os passageiros possam acessar os diferentes modais de forma facilitada”.
Linha 3 do Metrô
A primeira vez que se pensou na criação de um modal de transporte ferroviário para ligar as cidades do Rio de Janeiro e Niterói data do final do século 19, ainda sob reinado de Dom Pedro II. Na prancheta, o primeiro traçado do que veio a se chamar Linha 3 foi feito em 1968 e ligaria a zona norte carioca a Niterói.
De acordo com Caio Barbosa, em artigo para o site Casa Fluminense, em 2015, quando a Linha 3 voltou a ser falada pelo Governo do Estado, a ideia era ligar o Centro do Rio a Niterói, tendo como um dos trechos um túnel a ser escavado por baixo da Baía de Guanabara. Do outro lado da Baía, a linha do metrô seguiria a antiga linha de trem, passando por Alcântara e chegando na Estação Guaxindiba, em São Gonçalo.
Antes, em 2013, o Governo do estado chegou a cogitar fazer a ligação entre os dois municípios por um monotrilho.
A construção da Linha 3 do Metrô já teve seu custo estimado em R$ 1,2 bilhão pelo Governo federal, em 2011. Dois anos depois, o valor passou para R$ 2,57 bilhões em estimativa do Governo estadual.
O ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que teve Cláudio Castro como vice, também prometeu, na época de campanha, que tiraria a Linha 3 do Metrô do papel. No cargo, porém, afirmou que seria mais barato e eficaz construir mais estações de barca, em São Gonçalo. Witzel sofreu impeachment em 2020 e se tornou inelegível por cinco anos. Mesmo assim, registrou sua candidatura e, até este momento, é um dos nove candidatos ao cargo de governador do Rio de Janeiro, nas próximas eleições.
No site Mapas do Rio de Janeiro, o traçado da Linha 3 do Metrô liga a estação Araribóia, no Centro de Niterói, a Itaboraí.
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