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Assembleia legislativa quer investigar Prefeito de Itaboraí por intolerância religiosa

Por Redação
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Alerj aciona Ministério Público para investigar discurso de intolerância religiosa do Prefeito Marcelo Delaroli e de pastor da Igreja Lagoinha
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Ato aconteceu depois que pastor Felipe Valadão proferiu falas intolerantes em evento de aniversário da cidade. Reprodução

A festa dos 189 anos de Itaboraí, comemorada no dia 19 de maio, vai terminar na Justiça, numa ação por intolerância religiosa. No evento organizado pelo Município, o Prefeito Marcelo Delaroli (PL), apoiador do Presidente Jair Bolsonaro, que, como ele, se declara evangélico, deu palco a um apoiador, o pastor Felipe Valadão, para atacar e fazer ameaças contra  religiões de matriz africana.

Itaboraí, como de resto todo o território nacional, é uma cidade laica, como estabelece a Constituição Nacional, que abriga  cidadãos de diferentes religiões, algumas cristãs, outras não. Mas não foi este o clima da festa. O pastor  da Igreja da Lagoinha usou o termo “endemoniados” para se referir aos pais e mães de santo da cidade, e fez ameaças de fechamento dos centros de Umbanda da cidade.

– Avise aí aos “endemoniados” de Itaboraí: o tempo da bagunça espiritual acabou, meu filho – disse o pregador, apoiado pelo Prefeito, eleito com votos da igreja evangélica. E continuou: “A igreja está na rua! A igreja está de pé! Pode matar galinha, pode fazer farofa, pode fazer o que você quiser. Prepara pra ver muito centro de Umbanda fechar na cidade.” – conforme transcrição do vídeo com a apresentação do pastor.

Praticantes e devotos da umbanda e do candomblé da cidade se sentiram ameaçados pela fala de Valadão.

MP recebeu denúncia contra o Prefeito e o pastor da Lagoinha 

A situação chegou à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), e o deputado estadual Átila Nunes (MDB), que é relator da CPI da Intolerância Religiosa, levou o caso ao Ministério Público. O Prefeito de Itaboraí Marcelo Delaroli (PL) também foi denunciado ao MP, pelo uso de dinheiro público para promover um evento religioso que incentiva o ódio a outra religião.

Os umbandistas e praticantes de diversas religiões da cidade de Itaboraí organizaram uma manifestação no dia 22 de maio, no mesmo local onde sofreram intolerância. Segundo o produtor cultural Thiago Magalha, que organizou o protesto e esteve em reuniões com o próprio Prefeito antes do ato, a ideia era confrontar a Prefeitura e falar também à população de Itaboraí ao microfone, como um direito de resposta às ofensas sofridas no dia 19 de maio:

– Foram entre mil e mil e quinhentas pessoas entre mães e pais de santo, também pessoas evangélicas, católicas, protestantes, juntos com a gente. Tivemos figuras públicas, deputados, vereadores, lideranças de todos os portes possíveis ajudando a gente nessa manifestação.

A Prefeitura de Itaboraí enviou uma nota à imprensa no dia 23 em que critica a manifestação dos representantes de religião de matriz africana. A nota oficial acusa os manifestantes de atrasarem a festa e colocarem em risco crianças que participaram do desfile cívico. Entretanto, ao observar atentamente as imagens do evento do dia 22, não é possível observar crianças nas proximidades do palco, no local onde as lideranças religiosas e políticas estão falando ao microfone.

Veja as imagens:

Prefeito afirma que Itaboraí é “de Jesus”

Dois vídeos enviados ao A Seguir mostram o Prefeito de Itaboraí Marcelo Delaroli  afirmando que tanto ele quanto a cidade de Itaboraí eram “de Jesus”, fazendo menção à própria religião. Magalha diz que isso faz os cidadãos praticantes de demais religiões se sentirem ofendidos, pois questiona a validade de sua fé apenas pelo fato de não ser a mesma do Prefeito:

– Ele pode ser “de Jesus”, mas não pode afirmar que Itaboraí é “de Jesus”, porque Itaboraí é uma cidade laica, que tem direito a todas as religiões. O Deus dele não é maior que nenhum Deus. Mais uma vez, ele escorregou com isso – disse o organizador da manifestação.

Em sua opinião, o Prefeito cometeu o mesmo crime que Felipe Valadão, ao afirmar categoricamente que a cidade era  “de Jesus”. Nos dois vídeos enviados ao A Seguir, Marcelo Delaroli faz essa afirmação. Uma vez no dia 19, antes do evento com o pastor da Lagoinha, e de novo durante o protesto realizado no dia 22.

 

 

A religião na política

A Prefeitura tentou transformar a queixa dos praticantes de outras religiões numa questão política. O Prefeito conta com o apoio do voto evangélico e abre espaço na agenda oficial para a programação da igreja.

Marcelo Delaroli alegou que os manifestantes usavam adesivos e bandeiras do PT e gritavam “fora Bolsonaro.” Moradores que acompanharam o evento disseram que também houve manifestação contra o próprio Prefeito.  Delaroli sustenta que “o governo de Itaboraí é para todos, mas da mesma forma que respeito todas as crenças, também quero ser respeitado, nunca escondi de ninguém que eu sou de Jesus!” No vídeo gravado durante a manifestação e postado na internet, no entanto, diz mais do que isso:  “Eu sou de Jesus e Itaboraí Pertence a Jesus”.

Veja no vídeo:

Os organizadores da manifestação disseram que, antes do protesto, em uma reunião com a municipalidade, Delarolli prometeu se retratar com a população das falas que fez no dia 19. No entanto, isso não só não aconteceu como o Prefeito voltou a afirmar a mesma coisa. Para a organização isso demonstra falta de palavra por parte do Prefeito, e demonstra que ele não se arrepende do que disse:

– Uma das coisas que a gente pediu a ele na reunião lá na parte de trás do palco, quando os líderes [religiosos] foram conversar com ele, foi que se retratasse. Ele disse pra gente que ele iria se retratar na frente do povo, e ele não se retratou. Por isso ele é vaiado.

O A Seguir solicitou no dia 26/05 à Prefeitura de Itaboraí uma declaração do Prefeito sobre a intenção de sua fala no evento, mas não obteve resposta sobre a questão.  A Prefeitura também não se posicionou sobre o discurso do pastor Felipe Valadão.

 

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