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Falta de planejamento, imprudência e falta de educação de trânsito. Essas são as razões que a especialista em Direito de Trânsito, Fernanda Arenásio, acredita serem as maiores responsáveis pelos problemas do trânsito de Niterói. Funcionária da Rio Multas há 10 anos, ela observa de perto os problemas, e ao A Seguir: Niterói ela comentou os pontos positivos e negativos do tráfego da cidade, e demonstrou preocupação sobre o crescimento urbano sem um estudo sobre o impacto do aumento de moradores, e consequentemente de veículos, no já tão conturbado trânsito.
Dra Fernanda, como especialista, na sua opinião quais são os problemas do trânsito de Niterói?
Os engarrafamentos por causa do acúmulo de carros, imprudência no trânsito. Na Noronha Torrezão, onde eu moro, sempre acontecem muito acidente. Na frente da minha janela, fico vendo vários. Geralmente, acidente é causado por imprudência. E principalmente por parte dos motociclistas. Eles andam de qualquer jeito, cortando todo mundo, e se envolvem em acidentes.
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E é algo muito importante de se falar, que acontece por falta de fiscalização. Tem muita gente trabalhando de moto sem habilitação, então não tem o mínimo de aprendizado para saber agir no trânsito. E falta fiscalização para ver isso; veículos sem condições de circular. Eu atendo a parte de infração de trânsito, e acabo vendo esses problemas também.
O que você acha da citação “Niterói é uma fábrica de multas?”
Eu escuto meus clientes falarem isso bastante. Mas assim, eu pessoalmente dirijo e não tenho multas. Se fosse de fato uma ‘fábrica’, eu teria multas sem justificativa.
Hoje não tem mais nenhum radar na cidade. A cidade tirou os radares, diminuíram as multas? Não. Aqui em Niterói eu não vejo situações de fraude dentro da Prefeitura, na NitTrans, eu nunca ouvi aquela história que se ouviu sobre o Rio de Janeiro há alguns anos atrás de fraude, que ficou gravado que os agentes tinham ‘metas de multa’; aqui nunca vi. Então, eu atribuo mais à imprudência no trânsito mesmo.
A Prefeitura colocou mais agentes nas ruas, deu treinamento, então o guarda acabou assumindo o papel dos radares.
O trânsito é um problema para quem dirige em Niterói, que é uma cidade de 500 mil habitantes e 300 mil carros registrados, segundo a NitTrans; também há os motoristas de outras cidades, que passam por Niterói para irem para o Rio, ou que trabalham na cidade como motoristas. A malha viária de Niterói é adequada para a quantidade de carros que rodam aqui todos os dias? Se não, como poderia ser melhor?
Eu acho que não suporta mais. Inclusive, nesse crescimento urbano que teve na cidade há alguns anos atrás, e que agora está retomando, acaba trazendo muita gente pra cidade. Destruir uma casa em que morariam cinco pessoas, uma família, e colocar um prédio de 10 andares, onde moram muito mais pessoas, e com carros, isso aumenta a demanda das vias urbanas. As pessoas em Niterói ainda têm a cultura financeira muito baseada no Rio de Janeiro, então dirigem pro Rio pra trabalhar.
Com a pandemia, algumas empresas de ônibus diminuíram a quantidade de carros em circularam, e até eliminaram linhas. Considera a medida eficiente? Ela ainda é necessária?
Acho que eles aproveitaram para retirar as linhas e ver como ficava, porque as empresas de ônibus desde que surgiram os serviços de carro por aplicativo se sentem no prejuízo. Por exemplo, para ir ao médico com minha filha em Icaraí, eu gasto uns R$ 8 de carro de aplicativo. De ônibus, eu gasto mais, e ainda tenho que andar até o ponto, e me misturar com outras pessoas na pandemia, esperar em pé no ponto, toda a falta de comodidade.
Você comentou que mesmo sem radar na cidade, as multas continuam. O que você acha que causa tanta imprudência e, consequentemente, tanta multa?
Os motoristas de aplicativo que eu atendo cometem muita infração. É aquele pessoal que precisa do dinheiro, às vezes nem tinha experiência em dirigir, e vai pra rua dirigir o dia inteiro. E é diferente pra uma pessoa que usa o carro pra fins pessoais, e não dirige muito. Você acaba cometendo uma infração ou outra. O motorista de Uber acaba ficando muitas horas por dia dirigindo, então ele comete mais infrações. Esse pessoal é mais novo como motorista. A maioria não era, anteriormente.
Os taxistas são mais experientes, trabalham na profissão há anos. Motorista de aplicativo é uma coisa nova, então eles tendem a ser mais inexperientes e cometerem infrações. Hoje, pra ser um motorista profissional você faz um exame psicotécnico no Detran e tira sua licença. Também se deduz que você saiba as leis e regras de trânsito que se aprendeu na autoescola. Mas você acaba indo trabalhar em uma profissão sem ter um treinamento devido.
Por exemplo, o local onde embarcar e desembarcar passageiro, como ajudar o passageiro nesse momento, o tempo que pode ficar parado… e aí ele vai aprendendo com a lei, com as fiscalizações, não tem jeito. Enquanto não tiver uma obrigação de fazer um treinamento, a pessoa não vai fazer.
Motorista de ônibus comete muita infração de trânsito?
Tenho poucos clientes em Niterói que são motoristas de ônibus e que têm muitas infrações.
O planejamento urbano acompanha a demanda do trânsito? As ruas são adequadas, as ciclovias são suficientes, há garagens e vagas que atendam à demanda? O que poderia mudar?
Acho que esse é o ponto principal aqui pra cidade. Por exemplo, a faixa 3D. Em vez de fazerem algo que vá ajudar a melhorar o trânsito, a segurança no trânsito, eles pintam borboleta na faixa de pedestre. E isso gera custo para a cidade, dinheiro que poderia ser usado de uma forma mais eficiente, e ainda gera trânsito. Agora, a pintura na faixa é irregular.
Na frente do Abel, por exemplo, fizeram uma colorida. Qual o fundamento disso? De pagar alguém pra fazer isso, de parar o trânsito para fazer isso? E vai mudar em que? Qual é o objetivo disso? Não tem objetivo nenhum. Então, às vezes eles acabam usando o tempo e o recurso público pra fazer uma coisa que não vai gerar nada.
Agora, a implantação de ciclovias foi uma coisa muito legal, eu acho ótimo. Algumas pessoas criticam, dizendo que pode trazer mais trânsito, diminuir o espaço nas ruas, e isso não é verdade.
Aqui na Noronha Torrezão, por exemplo, todos os veículos fazem fila dupla, e aqui é via única, então não comporta isso. Se eles fizessem uma ciclovia na Noronha Torrezão, que ainda não tem, no início as pessoas ficariam revoltadas, mas depois que vissem que os carros teriam mais espaço pra passar, e ia melhorar o trânsito, elas iam gostar.
No Fonseca inauguraram uma na João Brasil. Ótimo. Mas ela dá para onde? Em lugar nenhum, não dá em outra ciclovia. Ela dá na Alameda, onde tem carro o dia todo, toda hora. Cadê a segurança para essa pessoa que vai pedalar ali? Não tem, porque não tem ciclovia na Alameda.
Outra coisa são os ônibus. O ônibus também precisa de recuo para parar, porque não é bom o ônibus fazer o trânsito de carros atrás dele parar quando vai deixar e pegar passageiro. Ali perto do Largo do Marrão, tudo engarrafado. Se um ônibus parar ali, ninguém mais passa. Passou dali, não tem mais engarrafamento nenhum.
É o acúmulo de veículo e falta de organização: falta de recuo pros ônibus, falta de uma faixa reversível pra cidade, que também é uma solução muito boa… Mas aí precisa de que? De planejamento. Pessoas na rua pra fazer isso. Niterói tem uma reversível, ali no Rio Cricket, que funciona super bem. Então tem que ter o planejamento disso para outros lugares também.
A Nova Lei de Uso do Solo (PL416/2021) que propõe mudanças na estrutura da cidade permitiria o aumento do gabarito, e por consequência, de carros circulando na cidade. Acha que a cidade conseguiria atender uma quantidade maior de motoristas?
Pra isso tem que ter um estudo adequado do trânsito da cidade, pra saber se vai comportar. O carro também é positivo pra cidade em uma série de questões, pro comércio, por exemplo. Porém, sem um planejamento, pode ficar impraticável. Em São Paulo (SP), por exemplo, tiveram que fazer um rodízio de placas, porque já não cabia mais carro circulando nas ruas. Estacionamento para comportar isso tudo. Você vai de carro pro trabalho, vai parar o carro onde? Os estacionamentos particulares estão todos lotados. E isso é o futuro de um crescimento desenfreado, sem planejamento, sem programação. E isso vai acabar afetando todo mundo, o município também.
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