2 de dezembro

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Verônica Lima: indústria naval e moeda social serão temas de atenção da futura deputada na Alerj

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Depois de três mandados como vereadora de Niterói pelo PT, a parlamentar assume, em 2023, uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
vereadora verônica lima
Foto: reprodução rede social

Em 2012, a então dirigente do Partido dos Trabalhadores de Niterói, Verônica Lima, recebeu pouco mais de três mil votos, nas eleições da época, e foi levada a ocupar uma vaga na Câmara Municipal da cidade. Foi a primeira mulher negra a ser eleita vereadora, em Niterói.

Dez anos depois, no exercício do seu terceiro mandato, 15.652 votos a levarão para a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, no novo ano legislativo, que se inicia no primeiro dia de 2023. A diplomação será no próximo dia 16 de dezembro.

A vereadora em seu gabinete na Câmara Municipal de Niterói. Foto: Divulgação

Nas últimas eleições, Verônica foi a terceira mais votada candidata à deputada estadual, em Niterói. No “placar total”, ficou em 29º lugar dentre os 70 eleitos para a Alerj.

Atual presidente da Comissão Permanente de Habitação e Regularização Fundiária da Câmara dos Vereadores de Niterói, Verônica se orgulha de ter criado o primeiro Estatuto Municipal de Igualdade Racial do Brasil, além da Lei de Diretrizes para Mulheres Vítimas de Violência.

Na Alerj, pretende manter uma atuação semelhante à da Câmara, no sentido de atuar em diferentes frentes. Dois temas, porém, ela pretende dar mais atenção: a retomada dos empregos na indústria naval e replicar pelo estado a implantação de moeda social – política pública de transferência de renda que, no Estado do Rio, existe em Maricá, município administrado pelo PT, e também em Niterói. A criação da moeda Arariboia contou com um “empurrão” de Verônica, então secretaria de Governo do então prefeito Rodrigo Neves.

Quando for para a Alerj, sua vaga na Câmara será ocupada pelo atual secretário de Participação Social, Anderson Rodrigues, mais conhecido como Pipico.

Nascida em São Gonçalo, Verônica frequentava Niterói desde criança, por conta de familiares que moravam na cidade. Aos 17 anos, veio para estudar e ficou de vez:

– Niterói é a cidade que eu amo, que me acolheu, me abraçou  – conta ela que tem por hábito caminhar pelo calçadão da praia de Icaraí, no final da tarde, para ver o pôr do sol, de preferência, do Museu de Arte Contemporânea (MAC).

Moradora do bairro de Santa Rosa, onde também vive sua companheira (mais precisamente, na mesma rua), Verônica, que está “na faixa dos quarenta”, como gosta de dizer, em 2023, não vai mudar apenas de status político, mas também de estado civil, uma vez que há planos de casamento lá pelo meio do ano.

Na sua opinião, graças à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidente da República, 2023 tende a ser um ano de muito trabalho:

– A gente tem um processo de reconstrução do país e do estado do Rio de Janeiro pela frente. Então, a expectativa é de muito trabalho, muita dedicação, esperando que dias melhores venham para o povo e toda a sociedade brasileira.

Confira a entrevista concedida pela vereadora Verônica Lima, em seu gabinete na Câmara Municipal, ao A Seguir

 

Niterói vai junto com Verônica Lima para a Alerj?

A minha trajetória parlamentar tem início na cidade de Niterói, cidade que eu amo, que me acolheu. Evidente que as pautas e toda experiência político-parlamentar que tive na Câmara, exercendo meu mandato, vai comigo para a Alerj. E essa trajetória tem um tempo. Este ano, estou fazendo uma década de Câmara dos Vereadores. Fui eleita pela primeira vez em 2012, com pouco mais de três mil votos. Fui a primeira mulher negra vereadora na história da cidade de Niterói. Depois, fui reeleita aumentando em 50% a minha votação, em 2016, e mantive essa mesma votação em 2020. Em 2018, fui candidata à deputada federal, fiquei na segunda suplência com quase 30 mil votos, em um momento adverso para a esquerda e o meu partido, que é o PT. Então, acho que tive um bom desempenho eleitoral e é possível dizer que tivemos uma vitória política. Agora, estou na metade do meu terceiro mandato como vereadora. E felizmente – digo felizmente porque coloquei meu nome à disposição do Estado do Rio de Janeiro e fui eleita deputada estadual com uma grande e representativa votação.

Na Alerj, pretende se dedicar a algum tema em especial?

Eu me considero uma parlamentar não monotemática. Eu transito por vários temas. Tem gente que acha que sou uma vereadora que trabalha muito a questão do combate às desigualdades, que defende políticas de transferência de renda. Eu tive a oportunidade de ser secretária de Assistência Social de Niterói, entre 2015 e 2016, quando o governo era do PT, na gestão do Rodrigo Neves. Em um segundo momento, com Rodrigo Neves já no PV, eu retornei para a secretaria de Governo e tive a oportunidade de implementar, dar o pontapé inicial, na implementação da maior política de transferência de renda do Estado do Rio de Janeiro que é a moeda Arariboia.

Se inspirou na moeda Mumbuca, de Maricá, onde a gestão é do PT?

Não, me inspirei na defesa que o PT sempre teve da política de transferência de renda para combate às desigualdades. A Mumbuca está nesse bojo também. O PT tem uma vasta experiência da defesa da política de transferência de renda, com o (Eduardo) Suplicy, que defende a renda mínima há muitos anos. Nós aqui, em Niterói, já somos o maior programa de transferência de renda do estado do Rio de Janeiro, atendendo 31 mil famílias. Toda a concepção e a luta para que Niterói incorporasse essa política pública veio conosco, desde o primeiro momento em que assumimos, não só o mandato, como também a secretaria de Assistência Social. Nenhuma política pública é implementada apenas em um determinado momento do tempo. Política pública demanda muito tempo e eu tenho muito orgulho de ter feito parte deste processo, que culminou na implementação da moeda Arariboia.

A vereadora com o então candidato à presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, em um dos vários atos de campanha, no Rio de Janeiro. Foto: reprodução rede social

Na Alerj então também vai ser multitema ou terá alguma questão que será sua causa primeira?

Como eu disse, tem a Verônica do combate à fome e à miséria; tem a Verônica da defesa do emprego da indústria naval; tem a Verônica do combate às múltiplas desigualdades e violências praticadas contra as mulheres, contra pessoas lgbtqia +  e contra a juventude negra e periférica. E eu digo isso não apenas pautada em uma fala, mas em uma conduta parlamentar. Eu tenho leis aprovadas em vários temas: sou autora do primeiro Estatuto Municipal de Igualdade Racial do Brasil; também criei o primeiro Estatuto da Pessoa Gestante do Brasil; tenho uma defesa intransigente na retomada dos empregos na indústria naval. Eu, como gestora, durante um período, ajudei a implementar uma política de transferência de renda, então, tudo é pautado em iniciativas parlamentares, em leis ou execução de política pública. Acho que o tema da defesa do emprego na indústria naval, a política de transferência de renda com moeda social, como são a Mumbuca e a Arariboia, que são experiências exitosas, certamente vão ser alvo de muita atenção da minha parte na Assembleia Legislativa.

O poder de um vereador é limitado. Acredita que como deputada vai conseguir realizar mais coisas?

O poder de um parlamentar está muito ligado à forma como se elege e das suas características pessoais. Em função disso, o mandato pode ser potente ou não. Tem mandatos de vereadoras e vereadores que fazem a diferença. Niterói não é qualquer cidade; é um dos maiores IDH do Brasil, maior no estado do Rio de Janeiro; fica em Niterói o maior campus da Universidade Federal Fluminense. Aqui, nós temos muitas atividades econômicas que poderiam, inclusive, estar muito mais representadas. Então, me orgulho de ser vereadora de Niterói, é um cargo que tem uma importância absurda. Mas tudo também depende do seu lugar de fala, de onde você veio.

Qual sua primeira lembrança quando chegou na Câmara?

Da dificuldade inicial de transitar pelo espaço. Porque não é fácil você apresentar um Projeto de Lei que, muitas vezes, demora para tramitar, para ir a voto, ser aprovado. Então, é um caminho e até eu me colocar como uma pessoa que tinha capacidade de articulação política, demandou algum tempo. Mas não tenho queixas. Acho que fui bem na minha tarefa e a prova maior disso é que conquistei três mandatos consecutivos.

Em que momento você se tornou niteroiense?

Minha origem familiar é de Niterói. Meu avô por parte de pai foi sapateiro, em Niterói, na década de 50; meus avós viveram aqui durante muitos anos. Meu pai nasceu aqui, todos os meus tios também. Meus avós criaram família aqui, então, sempre me senti pertencente a Niterói de alguma forma. Vim para cá muito jovem e a cidade me abraçou. E, de alguma maneira, escrevi meu nome na história da cidade.

Veio com quantos anos?

Eu vim adolescente, com 17, 18 anos, para estudar, mas eu já tinha uma convivência aqui porque estudei no Joaquim Távora no pré primário e, desde a sétima série, aos 14 anos, eu já tinha uma vida social na cidade de Niterói.

Porque optou ser vereadora por Niterói e não de São Gonçalo?

Porque eu me filiei ao PT de Niterói, tinha amigos aqui, uma vida na cidade e a cidade me abraçou.

Como foi o início da sua militância política?

Tudo começou no movimento estudantil, na cidade de Niterói. Eu sempre me coloquei no lugar de dirigente partidária do PT. Não tinha a pretensão de ser parlamentar, mas a minha função, em algum momento, me chamou para me colocar; eu me coloquei e acabou acontecendo de ser eleita vereadora.

Como foi ser parlamentar do PT nesses últimos anos. Niterói se manteve  “normal” ou extrapolou no comportamento contra o partido também?

O Brasil não está normal e já tem algum tempo. Estamos vivendo uma quadra histórica muito difícil, desafiadora. Mas não me coloquei para ter medo. Lógico que, como ser humano, a gente em algum momento observa coisas, uma escalada de violência política absurda praticada, sobretudo, contra as pessoas de esquerda, as mulheres, a mulheres negras, mas se eu disser que tenho medo estou mentindo. Eu tenho senso de preservação, tomo cuidado. O fascismo não será derrotado com pessoas medrosas. É lógico que a gente tem aquele medo normal que todo ser humano tem, mas o medo não pode ser algo que vá nos impedir de exercer a nossa função pública.

O que considera um ponto alto de todos esses anos de mandato?

A maior vitória que eu tive na casa legislativa foi aprovar o primeiro Estatuto Municipal de Igualdade Racial do Brasil, com cota para negros e negras em todos os concursos públicos da cidade de Niterói. Foi o meu melhor momento meu como parlamentar, em 2014. Pelo menos, eu assim considero.

Qual momento de maior dificuldade que enfrentou?

Foi quando sofri uma tentativa de agressão física por parte de um vereador da casa, que inclusive está respondendo na Justiça . [O caso envolve o vereador Paulo Eduardo Gomes, do PSOL]. Eu dei queixa na delegacia, fiz um boletim de ocorrência e processei. Em uma divergência política, ele fez menção em avançar sobre mim para me agredir fisicamente, no que foi contido. Foi dentro da sala da Presidência, em uma reunião do Colégio de Líderes. Teve uma repercussão absurda. Esse foi um momento bem difícil porque jamais poderia imaginar que, dentro de uma casa legislativa, de uma pessoa que se diz de esquerda, você vai sofrer uma coisa como essa. De certa forma, a gente foi superando esse trauma. Isso aconteceu em junho 2020.

Como enfrentou a pandemia?

Dando a minha contribuição. Fiz audiência pública online com o então secretário de Planejamento Axel Grael demonstrando que era muito importante a gente ampliar a rede de cobertura para as pessoas que mais precisavam. Na época, o governo apresentou a proposta de um cartão que ajudou as pessoas a terem um mínimo de subsistência. Também fiz uma audiência pública para debater com ele e a sociedade civil organizada sobre a importância da gente usar máscara, de buscar vacina porque estava muito no início, não tinha ainda vacina e de criar as condições objetivas, a partir do poder público, de dar uma cobertura, uma proteção para os trabalhadores e trabalhadoras mais empobrecidos da cidade de Niterói . Foi com muito trabalho que a gente enfrentou a pandemia.

E a cidadã Verônica, o que gosta de fazer?

Eu sou muito caseira. Gosto de ficar em casa e cozinhar. Gosto muito de cozinhar e faço um monte de coisas na cozinha. Faço um feijão carregado que é uma receita de família. Faço risotto, carne assada, o que me pedirem para fazer, eu faço. Aprendi a cozinhar com um tio, já falecido, irmão do meu pai, o tio Marcos. Também gosto de futebol. Sou rubro-negra, gosto de ir ao Maracanã para ver jogo. De uma maneira geral, sou tranquila. Gosto de ficar lendo. Gosto de dar uma caminhada na praia de Icaraí. A coisa mais linda é o pôr do sol visto da praia, do MAC. É uma das vistas mais bonitas que a gente tem. Dependendo do dia, quem, por volta das 16h30, 17h, estiver caminhando pelo calçadão de Icaraí vai cruzar com a Verônica Lima. Tenho uma companheira, sou noiva. Ela tem dois filhos. A gente fica bastante tempo juntas porque moramos na mesma rua, em Santa Rosa, bairro onde moro já há muitos anos. A gente vai oficializar a união no meio do ano que vem.

Tem alguma recomendação de livro que esteja lendo, no momento?

Recomendo fortemente  “O que é racismo estrutural?”, de Silvio Almeida, e “Benditas coisas que eu não sei”, primeiro livro da Zélia Duncan.

É adepta de malhação?

Sempre malhei e teve até um período que malhei bastante. Porém, a  pandemia tirou a gente da academia e depois que você sai, para voltar é bem difícil. No meu caso, emendou pandemia com campanha, o que me tirou completamente a possibilidade de me exercitar. Então, o que eu consigo fazer é dar uma caminhada. Mas estou tentando voltar. Não é fácil. Tenho esteira em casa, quando não tenho tempo, caminho em casa ou lá em Icaraí. Atividade física é fundamental. Se não puder malhar, pelo menos, fazer uma caminhada já ajuda.

A vereadora Verônica Lima, em 2023, inicia uma nova trajetória como deputada estadual. Foto: reprodução rede social

Com Lula lá na presidência da República vai ser mais fácil ser uma parlamentar aqui do PT?

Vai ser mais trabalhoso porque a gente tem um processo de reconstrução do país e do estado do Rio de Janeiro, mas, certamente. O que estava em jogo era a democracia do país e que bom que o Lula venceu porque a gente abre, agora, um leque de possibilidades. Primeiro, de resgatar a nossa democracia, de consolidar as políticas públicas que foram exitosas nos governos do PT. Nós temos um desmantelamento do estado brasileiro, um esvaziamento do investimento do estado como indutor de promoção de ciência, tecnologia, de conhecimento, de emprego e renda. E com Lula, certamente, a gente vai conseguir resgatar essa perspectiva , o que é muito importante para a sociedade brasileira. Então, a expectativa é de muito trabalho, muita dedicação e esperando que dias melhores venham para o povo e toda a sociedade brasileira.

 

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