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Venda da sede do Regatas encerra um capítulo na história dos clubes da cidade

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Agremiação, criada em torno do remo, em 1895, enfrentava dificuldades financeiras graves nas últimas décadas
Garagem do Regatas, em 1918. Foto- Reprodução
Garagem do Regatas, em 1918. Foto: Reprodução

A concretização da venda do prédio do Regatas marca um novo capítulo na história do clube, ao mesmo tempo em que aponta para a necessidade de modernizar as atividades da agremiação, a fim de atrair uma nova geração de frequentadores. O clube deixa para trás uma área de 8 mil metros quadrados, tão grande quanto as despesas e dívidas acumuladas ao longo de décadas de dificuldades financeiras.

Embora a nova diretoria esteja disposta a adequar o clube aos novos tempos, o que inclui enxugar gastos e apostar em novas modalidades para mantê-lo de pé, o saudosismo é inevitável. Pela sede em frente à Pedra de Itapuca, passaram gerações de atletas, frequentadores e convidados de suas incontáveis festas, shows e eventos.

Prédio do Regatas dará lugar a empreendimento de luxo. Foto de leitor

Mas a verdade é que o Regatas já estava cambaleante muito antes de ser negociado com a Soter, em 2013. Durante décadas, o clube lutou para fugir da decadência que fez desaparecer outras agremiações, como o vizinho Icaraí Praia Clube. Adotando um modelo conservador de gestão, o clube sucumbiu à crise e deu lugar a outro condomínio de luxo, o Murano.

A diretoria do regatas, por sua vez, tentou atrair investimentos para manter o clube de pé, abrindo as portas para as mais variadas atividades que possibilitassem aumentar as entradas de dinheiro. A sede chegou a abrigar salão de beleza, academia de ginástica, restaurantes e boate, mas todos funcionaram por tempo limitado e não deram fôlego suficiente às contas da associação.

Há oito ano, o Regatas e a Soter chegaram a um acordo, e a construtora pagou R$ 40 milhões pelo terreno, localizado em um dos pontos mais valorizados da cidade. A venda, no entanto, foi questionada por um grupo de sócios, e o caso chegou à Procuradoria Geral do Estado. É que a área onde ficavam as instalações foi cedida ao clube em 1935, pelo então Governador Ernani do Amaral Peixoto. Na época, o termo de cessão previa uso exclusivo da agremiação, que teria que abrir o espaço para alunos da rede pública praticarem esportes semanalmente.

Sede do clube em 1943. Foto: Reproduação

A disputa judicial se arrastou na Justiça e foi parar no Supremo Tribunal Federal, ainda em 2017. Só em agosto deste ano, o imbróglio chegou ao fim, quando o relator do caso, o Ministro Edson Facchin, proferiu a decisão favorável à negociação entre o Regatas e a Soter, que criará um empreendimento de luxo no terreno, com 144 apartamentos.

Club de Regatas Icarahy

A história do Clube Regatas se confunde com a história dos esportes aquáticos do Rio de Janeiro. A associação foi fundada em 1895, assim como o Grupo de Regatas do Gragoatá e o Clube de Regatas do Flamengo. Todos foram criados em torno de uma modalidade “importada” da Inglaterra, que representava um estilo de vida moderno e atlético e reunia adeptos de diferentes grupos sociais: o remo.

Sede do Clube de Regatas Icarai em 1907. Foto do arquivo de Laércio Becker

O primeiro título importante no remo foi conquistado em agosto de 1901, quando venceu quatro páreos do campeonato carioca. Depois viriam outras competições, algumas promovidas pelo próprio clube, que virou referência na modalidade. Na vanguarda do esporte, o Regatas chegou a criar um time feminino no começo da década de 1930. Um marco.

Remadoras do Regatas, em 1933. Foto: Reprodução

Depois chegaram outros esportes, como a natação e o polo. Mas, na primeira década do século XX, o futebol começou a se popularizar e acabou sendo introduzido no clube. O Regatas, então, formou um time forte, capaz de disputar campeonatos no Rio de Janeiro. Chegou a conquistar o título da 3ª divisão do Campeonato Carioca, em 1916, e o Torneio Início da 2ª divisão, em 1917. Mas a diretoria se desentendeu com a Liga e parou de competir.

Flâmula do Clube de Regatas. Foto: Reprodução

Nos anos seguintes, o Regatas também perdeu força no remo, com a transferência das competições da Baía de Guanabara para a Lagoa Rodrigo de Freitas, numa época em que a ligação entre Rio e Niterói não era tão fácil. Foi quando a natação cresceu. Por décadas, o clube formou atletas de alto rendimento, com destaque em competições estaduais. Aliás, a famosa piscina olímpica do Regatas funcionou até 2020, quando a pandemia encerrou as atividades do clube centenário. Pelo menos na Avenida Jornalista Alberto Francisco Torres 63. Afinal, o Clube Regatas não acabou.

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