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Valorização de negócios locais em redes colaborativas se torna legado da pandemia

Por Amanda Ares
| aseguirniteroi@gmail.com

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Iniciativas simples deram a força e as ferramentas necessárias para empreendedores e produtores artesanais de Niterói atravessarem a crise
Valorização de negócios locais em redes colaborativas se torna legado da pandemia
Produtores locais receberam incentivo importante dos moradores. Foto: Divulgação

A ideia de uma cliente gerou uma rede de compra e venda de produtos orgânicos em Niterói, que colaborou com o orçamento de dezenas de produtores durante a pandemia. A advogada Priscila Hirschfeld, que mora em Itaipu, decidiu criar um grupo em um aplicativo de mensagem para conectar produtores e consumidores que, como ela, passaram a frequentar menos o supermercado e mercearias, mas precisavam fazer suas compras, e de quebra, colaborar com o sustento de quem dependia da saída de produtos para viver. A iniciativa de Priscila é uma das muitas que fizeram a diferença na vida de pequenos empreendedores e produtores. O tipo de incentivo que salvou negócios locais.

Paula conta que tudo começou com a mudança de hábitos de consumo na própria casa:

– Eu fiquei pensando “Como os pequenos vão conseguir sobreviver no meio desse caos”? Porque os pequenos vendem pra restaurante, pousada, bistrô… com isso, eu comecei a consumir na minha casa coisas de pequenos produtores.

Com o novo hábito, ela passou a conhecer produtores cada vez mais diversos, e de diferentes bairros, que entregavam em casa ou em pontos de entrega. Mas achou que poderia fazer mais. Foi quando surgiu a ideia de criar uma rede:

– Aí eu tive uma ideia, pensei: vou criar um grupo chamado “Pequenos Produtores Artesanais”, vou colocar esses produtores, amigos, parceiros, clientes, família, e vamo badalar esse grupo.

A iniciativa foi bem recebida e logo o grupo já estava lotado com 250 participantes. A advogada precisou criar outro, e mais outro, e hoje já não sabe quantos são os participantes da rede de compra e venda que, sem querer, acabou criando:

– Fiquei com uma lista de espera grande e pensei: bom, é hora de criar o Produtores Artesanais n.2. E os produtores são os mesmos, mas os consumidores são outros, por que a ideia era alavancar as vendas dos pequenos. Então, o grupo 2 tem uma base de clientes diferentes do grupo 1.

Ela conta que uma das melhores característica do trabalho dos produtores é a possibilidade de consumir itens ecologicamente corretos, com grande variedade de produtos agroecológicos e orgânicos, como as geleias da Aurora Geleias, da produtora Carol Maciel. que tinha acabado de abrir o negócio quando a pandemia começou:

– Eu estava voltando a vender as geleias, após sair de um emprego em uma agência de comunicação. E aí, eu fui entrando em vários grupos, de Niterói, do Rio e outros municípios, e me ajudou muito, muito mesmo.

Aurora Geleias, vendidas no grupo online criado por Priscila. Fotos: Zean Bravo e Flávia Torres

Ela diz que no primeiro momento, com o isolamento mais severo, as vendas dispararam, e com o grupo Pequenos Produtores Artesanais conseguiu firmar parcerias que a ajudaram a continuar vendendo depois que o comércio reabriu:

– No primeiro momento, todo mundo comprava de todo mundo, porque havia o entendimento de que aquele produtor precisava trabalhar. Na segunda fase, quando começou a cair com a reabertura do comércio, o grupo da Priscila me possibilitou criar parceria com produtores e vendedores de Niterói, criar parceiros como Maria Padoca e Agro Goumet e a entender o público. Foi fundamental, entender o que as pessoas querem, em termos de preço, de qualidade, de ser acessível.

O empresário André de Wolf, 56 anos, é dono do Empório Virtual do Açude, e comercializa produtos como mel, queijos, geleias e carne seca, feitos por produtores de Niterói e região. Antes da pandemia, seus clientes eram majoritariamente estabelecimentos comerciais de Niterói, mas após março de 2020, ele viu nas vendas diretas intermediadas por redes sociais um novo e frutífero nicho:

– No início, antes da pandemia, meus clientes eram clubes, restaurantes, pequenas pensões. Com isso, eu tive que me redirecionar para outro público: famílias, que passaram a pedir de casa. Eu percebi que muitas das coisas que eu tinha no meu cardápio, vinham de produtores rurais, então minha empresa acabou se tornando um link entre o produtor e o consumidor final, que não podiam e nem deveriam sair de casa para fazer suas compras.

Produtos vendidos por André. Contato é feito em grupos como o de Priscila. Fotos: André de Wolf

A criadora do grupo Pequenos Produtores Artesanais diz que passou a comprar quase que exclusivamente dos produtores do grupo, tanto para a própria casa quanto para presentear amigos, que passou a ver menos por causa do risco de contaminação:

– Eu mandei uma bandeja de iguarias pro meu pai, no dia dos pais, e recebi uma de uma cliente, também de presente. Em época de pandemia, isso é uma boa forma de se fazer presente na vida dos amigos.

Cocadas, frutas frescas e delicatesse da Caponate Gastronomia

Ela também tem prateleiras e mais prateleiras de temperos comprados a partir dos contatos que fez no grupo.

Temperos da Amor e Vida. Imagem de arquivo pessoal

Atualmente, os grupos criados pela advogada estão cheios, e ela vai incluindo novos possíveis clientes conforme outros vão saindo. Ela incentiva outras pessoas a criarem redes como essas, para que não falte clientes para os pequenos produtores, e nem produtos com a qualidade que considera que só o meio artesanal e agroecológico possui:

– É um pessoal que tem consciência ecológica, ambiental, que eu acho muito bacana. Tem muita coisa agroecológica. E deu supercerto, ajudou muita gente. Hoje, na minha casa, a única coisa que compro de mercado é carne vermelha e material de limpeza. Verdura, legume, queijos, até pão, tudo vem do grupo.

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