Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.
Publicado

Um voto para recuperar o futuro

Por Luiz Claudio Latge
| aseguirniteroi@gmail.com

COMPARTILHE

Brasil vai às urnas neste domingo (30 ) para escolher entre Lula e Bolsonaro quem vai governar o país nos próximos quatro anos
Urna eletrônica
Técnicos do TSE realizam a conferência e a lacração de urnas eletrônicas para as Eleições 2022. Foto: divulgação.
O Brasil tem a chance, neste domingo, de resgatar o seu futuro, quando cada um de nós “depositar” seu voto na urna eletrônica.
A palavra voto, em português, tem vários significados. Representa uma escolha, mas também um desejo. Foi Stefan Zweig o escritor judeu, que se radicou no Brasil fugindo do nazismo, que nos apresentou a ideia, quase uma utopia, do Brasil como o país do futuro. Tivemos a chance de estar bem perto de tornar realidade a promessa nascida do “berço esplêndido”. Fomos parar na capa da Times e da Economist, viramos BRICs, na construção de uma nova via para o mundo. Mas deixamos o futuro passar antes de se confirmar.
O escritor angolano José Eduardo Agualusa relata no Globo como o mundo acreditou no Brasil e como era importante para o planeta o sucesso do Brasil. Cada um encontrará as razões para explicar o fracasso. “O Brasil não é um país sério”, diria De Gaulle. Nestas eleições tão conflagradas e radicalizadas, em especial, este destino nos afronta, ao devolver à pauta política o pior do nosso passado, na evocação da ditadura militar. A escolha que teremos pela frente, domingo, neste sentido, é sobretudo o resgate do futuro, da possibilidade do Brasil se realizar como nação.
O voto é secreto, uma escolha pessoal.  Mas uma eleição é uma construção social. O voto só existe na vida em sociedade, quando precisamos nos reunir para tomar uma decisão em favor do bem comum. Não se vota para estabelecer o domínio de um sobre o outro. O voto existe para conciliar, porque estamos de acordo que cada um de nós estará diante da urna com o mesmo propósito, o de que vamos depositar na urna a nossa crença de que queremos viver em sociedade e que saberemos encontrar um caminho para tornar a vida melhor. Um acordo que nos define como nação.
A escolha que teremos pela frente, domingo, neste sentido, é sobretudo o resgate do futuro, da possibilidade do Brasil se realizar como nação.
Neste contexto, vale lembrar que voto, em nossa língua, também é expressão de esperança. Como endereçamos em cartões de aniversário, ou diante de adversidades. A manifestação de que desejamos a melhora. A expressão de um sentimento.
A escolha de domingo, portanto, nos permitirá exercer o voto em todos os seus sentidos: de escolha democrática e cidadã e de desejo de construção de um lugar melhor.
Um jornal não tem posição política, não é seu papel. O leitor confia que o jornalista será testemunha dos fatos, que vai relatar os acontecimentos com distanciamento e isenção. Esta é a missão do jornalismo, expressar a realidade – e para isto segue um código de conduta, que pressupõe contextualizar o assunto e checar todos os lados da notícia. Não é uma ciência perfeita – e as escolhas do repórter e do editor sempre estarão sob o escrutínio do leitor, que renova – ou não – sua confiança a cada leitura. A empresa jornalística, desta forma, está num negócio que vai além da entrega de informação. Seu negócio é credibilidade, reputação.
O compromisso do jornal de retratar o mundo é tão profundo que nem sempre vai falar sobre o que o leitor gostaria de ler. Vai falar de guerras, doenças, da fome, de desmatamento, do avanço do fundamentalismo religioso, das ameaças à democracia, quando o leitor talvez preferisse ler sobre lugares bonitos ou a cura do câncer. O jornal, no entanto, tem que falar sobre estes assuntos; o leitor jamais perdoaria o jornal se ele não advertisse sobre os riscos que corre. Pode não acreditar no aquecimento global, mas precisa saber que existe uma ameaça para o planeta.
As eleições costumam testar os jornais, quando as paixões estão mais afloradas, especialmente nestas eleições tão marcadas pelo ódio e pela desinformação. Porque, se o jornal não tem lado na disputa, o jornal tem valores, como uma expressão do tempo e da sociedade que representa.  E os valores dos jornais se baseiam na busca do conhecimento e da verdade, no reconhecimento da ciência, como caminho civilizatório, na transparência, no respeito à lei e na defesa dos direitos mais básicos do ser humano.
Na disputa que temos pela frente e se define neste domingo, temos uma candidatura que reflete o anseio de busca de soluções para os muitos problemas que o país acumula e outra que deseja o resgate do passado em que não havia direitos políticos e que era possível esconder os piores desmandos, até mesmo a tortura, sob o manto do sigilo de estado.
Cabe ao jornal manter o eleitor informado. Mas só o eleitor poderá escolher em que lado quer estar.

COMPARTILHE