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Um dia na loja. A rotina no comércio, em tempos de pandemia

Por Redação
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Em tempos de Covid, o trabalho de Mônica vai além do balcão; ainda tem os protocolos sanitários, o WhatsApp e o Delivery
Mônica lojista
A lojista Mônica. Foto: Carolina Ribeiro
Mônica Filstein tem 41 anos e há dois anos é supervisora da loja de cosméticos The Body Shop e da infantil Puket, no Plaza Shopping Niterói. Acostumada a acompanhar o andamento das vendas, organizar escalas e mercadorias, ela ganhou novas atribuições com a pandemia: fiscalizar o cumprimento dos protocolos de segurança e organizar os novos serviços de drive thru e de delivery. Mônica mora em Maricá e acorda cedo, às 7h, para estar no trabalho entre 9h e 10h diariamente.
 
– A primeira coisa que eu faço depois de acordar é repor o meu álcool em gel pessoal e pegar as várias máscaras que vou usar ao longo do dia. Trocamos a máscara de duas em duas horas para garantir a nossa segurança e a dos clientes. Coloco tudo dentro da bolsa. E depois peço a Deus para não ser contaminada por ninguém, pois lidamos com muita gente durante o dia. Por sorte, tenho o carro para me locomover, mas nossos funcionários encaram os ônibus.
 
Os shoppings estão autorizados a funcionar das 12h às 20h, mas o trabalho de Mônica começa bem antes, entre 9h e 10h, para adiantar o lado burocrático da reabertura. Com as novas regras de funcionamento, somente três pessoas podem ficar dentro da loja ao mesmo tempo: dois vendedores e um cliente.
 
– Se entrar mais do que três pessoas, rapidamente o segurança nos aciona. Estamos muito atentos a isso, mas também preocupados, pois dificulta muito as vendas. Não podemos ter só um funcionário por dia, ele precisa ter tempo de almoço, ir ao banheiro, entre outros. Mas, se um cliente está com filho, um vendedor precisa sair para o cliente entrar. E já tivemos cliente que não quis esperar vagar o espaço na loja para ele entrar. Por isso também chego mais cedo para fazer toda a parte burocrática antes de liberar a loja para iniciar as vendas.
 
– Nós trabalhamos durante todo o período da pandemia. Fiquei sozinha por um tempo e depois fizemos escala para o trabalho pelo Whatsapp. Isso limitou também porque a gente precisava entregar tudo fora do shopping, ou pelo drive thru ou por delivery. A demanda foi muito boa, mas não captamos tantos novos clientes, eram os que já compravam com a gente. No lockdown, ficamos desesperados, porque a gente não podia nem entrar para pegar produto em estoque. Bem complicado.
 
E como ficam as vendas de cosméticos durante a pandemia?
 
– O maior desafio atualmente é conseguir que o cliente aceite comprar sem experimentar o produto antes. Está proibido fazer a revitalização facial, fazer a demonstração de produto. Não pode tocar no cliente. Vender cosmético sem mostrar a fragrância, o toque aveludado, o que o produto faz no rosto… como vende uma experiência, como a revitalização facial, sem o cliente experimentar? Como vender um produto que não pode trocar?
 
Mais uma vez, o jeito foi se reinventar…
 
– Em contrapartida, estamos usando muito o recurso do vídeo. Nós usamos alguns produtos e filmamos o passo a passo para mostrar o resultado. Estamos buscando alternativas para aumentar o faturamento e a empresa conseguir manter o trabalho de todos. É fácil? Não é… é desafiador demais. Mas com boa vontade a gente consegue!
 
– Já trabalhei de dentro do carro. Fui responder a email, fazer pedido de loja, resolver folha de pagamento. Já estacionei em rua de Icaraí e fiquei dentro do carro trabalhando entre uma entrega e outra porque a gente não pode ficar dentro do shopping. Não tem mais mesas e cadeiras para sentar, está tudo bloqueado, e também não pode ficar dentro da loja. Às vezes fico no corredor do shopping, vejo como está o movimento e fico de lá pedindo para os funcionários resolverem algo, ai quando não tem cliente, entro e resolvo mais alguma coisa.
 
– Minha jornada de trabalho não tem muita hora para começar ou terminar, depende da demanda da empresa, cumpro a carga horária semanal. Não tenho como trabalhar 8h por dia, às vezes tenho que chegar antes e se tiver movimento sair mais tarde e depois vou compensando.
 
Mas lidar com o público é sempre uma caixinha de surpresas. Também supervisora de lojas no Rio, percebe a diferença entre o público de lá e o daqui…
 
– Nas lojas do Rio, as pessoas entravam no shopping para comprar o que precisavam e iam embora. Por lá, atendia muitas pessoas que eram de Niterói. O que percebemos em Niterói é que as pessoas vão ao shopping para passear, estamos vendo muitas crianças, algumas de carrinho. É um passeio, como antigamente. Acredito que o shopping esteja mais vazio porque a praça de alimentação ainda está fechada…
 
E os cuidados?
 
– Estamos trabalhando com máscara, álcool em gel, álcool líquido e a face shield. As lojas onde não estou presencialmente, fico olhando nas câmeras e ligo sempre. Não pode experimentar, o cliente não pode sentar, lembro do distanciamento de um metro de distância. Eu fico pros vendedores: Já trocou a máscara? Já lavou a mão? Já passou álcool? Acumulei mais uma função (risos). Mas os vendedores são muito conscientes, graças a Deus, dificilmente tenho que reclamar…
 
– Fico assustada, pois às vezes sinto que as pessoas não se cuidam tanto assim. Alguns clientes querem tirar a máscara ao entrar na loja. A gente pede sempre para recolocar, mas já teve cliente que se recusou e, infelizmente, tivemos que pedir para a pessoa se retirar. Nós colocamos um totem de álcool em gel que não abaixou um dedo desde que reabrimos, pois as pessoas não usam… os clientes não costumam nos cobrar, nós é que cobramos eles, pois nós é que levamos a multa se não estivermos dentro dos padrões. O cliente não. Além da segurança de todos!
 
– Eu tenho medo como qualquer outra pessoa. Sou parte do grupo de risco, tenho asma. Mas, eu preciso sustentar minha casa. Meu maior pânico, sinceramente, não era só o Covid, mas perder meu emprego e depender de um auxílio desemprego. Vi muitos lugares fecharem. Se a gente perde o emprego agora, acredito que até antes do ano que vem não conseguimos outro, pelo menos, até as coisas se estabilizarem. Por isso, me previno, tento fazer tudo direitinho…
 
– Hoje moramos eu e meu marido, mas tenho três filhos e dois netos que não moram comigo. Meu marido não parou de trabalhar, ele é Policial Militar. Imagina a nossa preocupação de conviver com muitas pessoas e depois voltar para casa? Comprei um tapete higiênico, tiramos a roupa fora de casa, máscara na água sanitária e, graças a Deus, não nos infectamos.
 
E como continuar trabalhando?
 
– Nossa maior demanda está no delivery. Não é no drive thru. O brasileiro tomou o gosto de comprar pela internet pela facilidade de o produto chegar em casa. É mais fácil de manter os cuidados com os clientes. O delivery vai ficar para sempre. A gente não trabalhava com esse tipo de serviço, precisamos nos adaptar porque era algo muito novo, e agora já virou uma rotina que vai ficar. Se a pandemia trouxe algo de “bom” para o comércio, foi mais um ramo de atuação. Hoje meu estoque já está adaptado ao delivery. O Whatsapp hoje é a nossa maior ferramenta de trabalho. Mando o catálogo virtual para o cliente e eles escolhem. Os cliente novos gostam de pesquisar, de conhecer o produto, perguntam detalhes sobre a composição. E a gente tem que explicar, estamos incentivando que os nossos funcionários tenham um carinho maior com o Whatsapp. E isso é bem legal.

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