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Um alerta dos médicos: os perigos da obesidade, na pandemia e depois

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Sobrepeso aumenta na quarentena e médicos alertam para riscos
obesidade
A luta contra o peso, preocupação redobrada depois da pandemia

A obesidade é um problema de Saúde Pública. Faz tempo todo mundo sabe disto. Mas o coronavírus acendeu um sinal de alerta em relação à doença. Sim, a doença – e esta é a primeira questão: é preciso ter clareza que a obesidade é uma doença. No tratamento da Covid-19, os médicos advertiram para o agravamento dos riscos diante de outras comorbidades: pressão alta, diabetes, asma… Mas no meio da batalha travada nas UTIs para enfrentar a pandemia, se estabeleceu um certo consenso entre os intensivistas: a obesidade é o fator determinante no agravamento da doença. Como explica a clínica e endocrinologista Renata Quinderé, da Rede D’Or.

-A obesidade é um fator de risco, em qualquer tempo. Na pandemia, já aparecia entre as comorbidades que poderiam agravar a doença. Porque a obesidade impõe um estado inflamatório crônico e isso acaba comprometendo o sistema imunológico. O pulmão já tem naturalmente uma restrição de ventilação. Já se esperava isso, mas a gente talvez não tivesse a dimensão da gravidade. E aí começaram a aparecer pacientes que não tinham outra comorbidade, pacientes jovens que tinham dificuldade de superar a Covid – explicou a médica.

A médica Renata Quinderé: uma questão de mudança de hábitos

A pandemia ainda não foi superada, mas à medida em que as cidades retomam as suas atividades, e os consultórios médicos voltam a receber seus pacientes para tratamento de outras doenças e o acompanhamento de problemas crônicos, a preocupação com a obesidade tem gerado enorme procura de clínicos, endocrinologistas e nutricionistas. Até porque a quarentena desequilibrou a vida das pessoas, física e emocionalmente.

Renata Quinderé atesta o aumento dessa procura. Os horários estão todos ocupados. “As pessoas ficaram assustadas vendo como a doença afetava mais gravemente o paciente obeso, não importa a idade.” E depois de tanto tempo de quarentena, um período marcado por mudanças na rotina, na atividade física, na alimentação e no emocional, que na maioria dos casos resulta em alterações no peso e na condição de saúde, estão preocupadas, mais atentas, e querem se cuidar melhor. Ela conversou com o A Seguir Niterói.

A Seguir: Doutora, o que mudou com a experiência da pandemia?

Dra. Renata Quinderé: Antes, a obesidade já era uma doença associada a uma série de comorbidades, a hipertensão, diabetes… agora nós temos um fator de risco a mais. Mais uma razão para as pessoas cuidarem da saúde, da alimentação, da atividade física. O sobrepeso é uma questão prevalente na nossa sociedade, é a doença que mais atendo e tenho recebido muitos pacientes com menos de 30 anos.

Por que isto acontece?

De modo geral, o problema decorre da má alimentação, uma alimentação baseada em fast-food. Por falta de tempo, de regularidade nas refeições. Uma alimentação muito baseada em carboidratos. Porque se você não tem tempo, come um sanduíche, um salgado, a oferta é grande, é fácil, o carboidrato repõe a sua energia. Mas não é uma boa alimentação.

O velho arroz com feijão, então, seria uma melhor opção…?

Depende. Depende da quantidade…

Não tem como escapar da dieta…

É uma questão de educação alimentar. Eu sempre que recebo alguém com sobrepeso eu encaminho para um nutricionista. Não pense que você vai fazer uma dieta. Você precisa se reeducar. Vai aprender novos hábitos. Se você faz sempre a mesma coisa e não está funcionando, você tem que mudar seus hábitos, isso é reeducar. Porque seu corpo tem uma memória e se ajusta aos seus hábitos.

A bebida também tem impacto no aumento dos casos de obesidade?

Claro. Tem a questão da compulsão, tanto com relação ao alimento, como em relação à bebida. É uma válvula de escape. Existem várias válvulas de escape negativas, excesso de comida, bebida, cigarro… O ideal para lidar com a compulsão é buscar uma saída positiva, saudável: exercício físico, leitura, música…

Alimentação e atividade física…

O exercício te dá um pouco mais de liberdade para comer… Mas não é só isto. A atividade física é importante não apenas para o controle de peso, mas para a saúde como um todo. Considere que a expectativa de vida é cada vez mais longa. Você precisa se preparar para o futuro, para chegar lá na frente em condições de ter uma vida ativa.

A quarentena prolongada afetou bastante o lado emocional das pessoas, depois de sete meses de isolamento. E são comuns os relatos de pessoas que sofreram com a alimentação, o sono…

Muitos engordaram. Você está dentro de casa, fechado, assustado. Mesmo quem não se exercita, em tempos normais, tem alguma atividade física, sai, anda na rua, sobe e desce escadas… Mas na pandemia não teve isto. E tem também a ansiedade, a ansiedade é um fator que desencadeia essa válvula de escape. Muitas vezes, a gente encaminha a pessoa para um nutricionista, mas também há casos de encaminhar para um psicólogo, porque é muito comum a obesidade derivar de um transtorno de ansiedade.

Como mudar os hábitos? O que se vê é uma enorme dificuldade das pessoas para se ajustarem à uma dieta mais saudável…

Algumas pessoas podem ter uma propensão maior a ganhar peso. Outras, não conseguem se organizar para ter uma alimentação mais saudável. Mas a forma de encarar o problema não vai ser diferente para um e para outro. Primeiro, é preciso reconhecer que a obesidade é uma doença. Um doença que leva a outras riscos. Existe uma síndrome metabólica que aumenta a chance de você desenvolver uma doença mais grave, uma diabetes, um problema cardiovascular. Você tem que aceitar que precisa fazer alguma coisa, que precisa mudar seus hábitos. É difícil alterar a rotina. Você tem que estar disposto a mudar seus hábitos.

A senhora acredita que a pandemia chamou a atenção para os riscos da obesidade?

Acredito que sim. No consultório, a gente atende casos de diabetes, tireóide e de obesidade e a maioria dos atendimentos tem sido por obesidade. Não só pessoas mais velhas. O jovem também. O jovem está preocupado com a saúde, porque vê o histórico familiar, vê o risco, quer prevenir. O mais importante é prevenir, não deixar o controle do corpo escapar. As pessoas estão vendo que a obesidade é um fator de risco. A única saída é cuidar.

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