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Túnel submarino entre Rio e Niterói foi tema de cerimônia registrada em cinejornal de 1956

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Junto com outros filmes históricos, material restaurado agora faz parte do Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual da UFF
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Ata que determinou o início dos estudos para a construção do túnel foi lançada na Baía de Guanabara pelo governador Miguel Couto. Foto: reprodução de filme

Um cinejornal da Herbert Richers, de 1956, registrou a cerimônia de início dos estudos para a construção do túnel submarino que ligaria o Rio de Janeiro a Niterói. O filme, em preto e branco, feito em película de 16 mm, tem cerca de 13 minutos de duração.

Mostra, entre outras coisas, o momento em que o então governador do Rio de Janeiro, Miguel Couto – sucessor de Amaral Peixoto, no cargo – lança, no meio da Baía de Guanabara, a ata que acabara de assinar, determinando o início dos estudos para a realização das obras. O documento foi assinado, também, pelo então prefeito do Distrito Federal, Negrão de Lima, presente à cerimônia.

“Quando ficaremos livres das lanchas?”, questiona o narrador, no final do cinejornal.

O governador Miguel Couto (D) e o prefeito Negrão de Lima com a ata que assinaram determinando o início dos estudos para a construção do túnel.

Leia mais: Na história do Rio de Janeiro, apenas cinco niteroienses governaram o estado

Essas imagens foram registradas pelo cinegrafista Esdras Baptista. Junto com várias outras, foram restauradas e, agora, fazem parte do acervo cinematográfico do Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (Lupa-UFF).

A Coleção Esdras Baptista foi reunida em uma plataforma e está disponível em www.esdras.lupa.uff.br

Dentre o material já digitalizado e publicado no site, consta, por exemplo, uma entrevista do então primeiro-ministro de Cuba, Fidel Castro. Foi feita em 1959, quando da sua visita ao Rio de Janeiro. Tem também o comício da Central do Brasil, que aconteceu em 13 de março de 1964, no Rio, onde o presidente João Goulart anunciou as reformas de base, dias antes do golpe militar.

Ao todo, a coleção reúne, além de coberturas jornalísticas, shows, manifestações políticas e imagens de políticos históricos do Brasil, feitas entre as décadas de 1940 e 1980, pelo cinegrafista alagoano.  Esdras Baptista  mudou-se, ainda criança, para o Rio de Janeiro, onde viveu até sua morte, em 1988.

O material foi recuperado e catalogado graças ao incentivo da Prefeitura de Niterói, por meio do Edital de Fomento ao Audiovisual, da Secretaria Municipal das Culturas. Rafael de Luna, coordenador do Lupa-UFF, informa que a coleção Esdras Baptista foi recebida como doação em 2019:

– É a maior coleção que a gente tem. A neta dele doou o acervo que estava encaixotado, há anos, na casa onde ele morou, no subúrbio do Rio. Quando começamos a abrir o material foi uma surpresa. A coleção tem filmes científicos, cobertura de imprensa para a televisão, mas filmada em película antes do vídeo-tape, além de documentários, imagens de protestos, passeatas. Por exemplo, há imagens inéditas da Passeata dos 100 mil, que ele filmou em 1968.

De acordo com de Luna, quando foi lançado o Edital de Fomento ao Audiovisual, a equipe já tinha feito uma separação inicial do material e criou um projeto, que foi selecionado na categoria pesquisa. A partir da concessão dos recursos, foi feita a catalogação, limpeza e o acondicionamento das latas, para que fosse iniciado o processo de digitalização do catálogo para a criação da base de dados.

– É um acervo riquíssimo. E essa base de dados vai permitir que qualquer um saiba o que tem nesse acervo, que é cheio de coisas preciosas – afirma Luna.

Praticamente, todo o material foi filmado em 16mm, “formato muito comum no período em que foram feitos, mas bem raro ultimamente”, como observa o coordenador do Lupa-UFF.

Na avaliação do secretário das Culturas de Niterói, Alexandre Santini, “o acervo é um patrimônio cultural de grande valor”:

– O acervo traz para o público registros inéditos da história do país. É muito gratificante ver os resultados das políticas públicas da Prefeitura de Niterói, que dão retorno significativo em projetos que são estratégicos para a memória e identidade do Brasil, garantindo o direito à cultura para todos.

Sobre Esdras Baptista

O cineasta nasceu em Maceió, em 1923. Seu primeiro emprego como fotógrafo,  no jornal oficial do Partido Comunista do Brasil (PCB), “A Classe Operária”, em 1946. Foi nessa época em que Esdras realizou suas primeiras filmagens, amadoras e profissionais, em 16mm.

Com pouco mais de trinta anos de idade, sua carreira já tinha se voltado completamente para a função de repórter cinematográfico, assumindo esse cargo posteriormente na Prefeitura do Rio de Janeiro – que, na época, era a capital do Brasil – e mais tarde no Ministério da Previdência Social, fazendo filmes científicos, cobertura de imprensa para televisão.

Foi cinegrafista da TV Rio, nos anos 1950, quando filmou os principais eventos políticos do Brasil e do Rio de Janeiro, registrando imagens de políticos como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, Leonel Brizola, entre outros. Além de inaugurações, obras e cerimônias públicas, filmou atletas e celebridades, registrando desfiles de misses e o retorno ao Brasil dos campeões da Copa do Mundo de futebol de 1958.

Não apenas filmou a visita de Fidel Castro ao Rio de Janeiro em 1960, como viajou à Cuba no ano seguinte. Ainda no início dos anos 1960, tornou-se cinegrafista correspondente de canais de televisão americanos, como o Columbia Broadcasting System, para o programa CBS News. Durante as décadas de 1970 e 1980, por conta própria, filmava movimentos estudantis, shows e o trabalho de diversos artistas plásticos.

 

 

 

 

 

 

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