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Um bloco de Carnaval de Niterói que tem por objetivo levar informações sobre transplante de medula óssea de forma leve e, até, divertida. Assim é o Tamo no Osso, que se apresenta no domingo (23), às 16h, em São Francisco.
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À frente do bloco está a Vampirinha, personagem criada pela bióloga Raquel Mello, ela mesma, uma pessoa que teve a medula transplantada e está aí para contar essa história.
Para começar, vale uma explicação sobre o nome do bloco:
– A medula é um tecido responsável pela produção dos elementos do sangue. É encontrada no interior de ossos longos e esponjosos. Ou seja, fica dentro do osso e não na coluna, como muitas pessoas pensam. E por pensarem isso, as pessoas ficam com receito de se tornarem doadores porque acham que podem vir a sofrer alguma lesão na coluna – explicou Raquel.
O bloco saiu pela primeira vez em 2020. Foi uma forma que Raquel encontrou para comemorar a vitória sobre a leucemia. Na época, reunia apenas outros pessoas transplantadas e médicos. Agora, o público cresceu e apareceu.
Este ano, a novidade fica por conta da participação dos músicos do bloco niteroiense A Culpa é da Marcela, do qual fazem parte integrantes da Sinfônica Ambulante – Raquel também toca na fanfarra niteroiense.
Em 2018, quando Raquel tinha 30 anos, ela foi diagnosticada com leucemia – um câncer que afeta os glóbulos brancos (leucócitos), que são as células de defesa do organismo, causando a sua produção descontrolada pelo corpo. É uma doença com predisposição genética. A avó de Raquel teve.
Era um dia como outro qualquer quando ela acordou com um certo mal estar, cansaço e, ao olhar no espelho, se achou um tanto pálida. Pensou que tinha pego uma virose e não deu muita importância. Dias depois, como o cansaço piorou bastante, ela resolveu ir no hospital. E de lá não saiu. Na verdade, saiu após 32 dias de internação, com seu tratamento contra a doença iniciado.
– Minha vida parou – contou ela que tinha acabado de se formar como bióloga.
Nesses primeiros dias de internação, além de exames, Raquel já fez quimioterapia durante sete dias. Recebeu “alta” para descansar em casa por 12 dias e voltou a ficar mais um mês internada.
No meio desse processo, ela foi informada que tinham encontrado um doador compatível com ela. Aqui vale um segundo esclarecimento. No caso do transplante de medula, a compatibilidade não é sanguínea, mas genética. Isso faz com que as chances de “match” entre um doar e quem precisar receber a doação seja de 1 para 100 mil. E Raquel fez o transplante meses após receber seu diagnóstico.
– Me senti como se tivesse ganhado na loteria – comentou ela que, quase dois anos após ter ficado curada, se encontrou com seu doador e se tornaram amigos.
O transplante de medula óssea é, falando de forma simplificada, como uma transfusão de sangue. A medula do doador é “capturada” por pulsão feita no osso da bacia. Quem recebe é como se estivesse tomando soro. No caso de Raquel, ela recebeu, ao longo de uma hora, uma bolsa com 1 litro de sangue. Um processo indolor para os dois “atores”.
Ainda em fase de recuperação pós transplante, Raquel recebeu autorização para acompanhar, de longe, um pouquinho do Carnaval, que ela tanto gosta. Não teve dúvidas em pegar a barca da folia e atravessar de Niterói para o Rio com a Sinfônica Ambulante.
Ela sabia que ficaria só um pouquinho, mas foi devidamente caracterizada de Vampirinha.
– Quando estava fazendo o tratamento, eu sempre perguntava para os médicos se eu ia receber sangue. Isso porque eu me sentia bem melhor quando recebia transfusão de sangue. Então, os médicos começaram a me chamar de Vampirinha. Resolvi assumir a personagem. Eu me vesti de Vampirinha, pendurei uma plaquinha com informações sobre transplante de medula e fui ver a Sinfônica. Acabei fazendo sucesso no bloco e algumas ONGs começaram a me chamar para participar de campanhas – contou.
Daí para criar um bloco de Carnaval para ampliar a divulgação sobre o assunto e passar a tocar na Sinfônica foi um pulo – ou dois. Primeiro, ela se inscreveu na oficina do grupo. Raquel chegou a pensar em tocar surdo, mas por ser um instrumento grande e pesado, foi orientada para assumi a caixa, que passou a tocar feliz e contente.
O Tamo no Osso, segundo Raquel, é uma “forma de levar as informações com leveza e alegria, já que é um assunto difícil”. E ele não vai para a rua só no Carnaval, não, mas sempre que alguma campanha precisa de reforço.
Sete anos depois de ser diagnosticada com leucemia, Raquel está totalmente curada. Ela, que mora com os pais, no Centro de Niterói, se dedica à pesquisa na área de Biologia e também trabalha como fotógrafa. A Vampirinha gosta de contar sua história para encorajar mais pessoas a se tornarem doadoras, mas admite que, sempre se emociona quando lembra tudo o que passou.
– A nossa vida muda. Vira de cabeça para baixo. Mas sempre consegui manter a fé, a mente positiva. Tinha uma certeza que tudo ia dar certo. Quando meu cabelo começou a cair, fiquei preocupada se ia ficar feia, mas até que me achei bonita careca e fiquei tranquila. Ainda hoje, meu cabelo é bem ralinho – afirmou.
O Tamo no Osso vai abrir a programação de domingo do Niterói Gastronomia, na Praça Dom Orione. O evento de pré-Carnaval, em São Francisco, será realizado de sexta (21) a domingo, com várias atrações, a cada dia.
Programação:
Sexta-feira, 21
19h, Mullato
Sábado, 22
16h, Carnabebê
19h – Bloody Mary
Domingo, 23
16h – Tamo no Osso e A Culpa é da Marcela
20h – Camacho
Já sobre transplante de medula óssea e orientações para quem quiser ser um doador é possível encontrar todas as informações no site do Redome – Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea, do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
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