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Sem escolas, famílias de Niterói buscam atividades alternativas para as crianças

Por Por Lívia Figueiredo

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Pais tentam proporcionar vida saudável para seus filhos, dentro das condições possíveis
criança
Crianças praticando ginástica olímpica / Foto: Equipe Novo Salto

São tempos difíceis para os sonhadores. E para os pais com filhos pequenos também. Com as escolas fechadas há mais de 6 meses, o isolamento social da pandemia trouxe para os pais, ocupados com o home office e com outras atividades, o desafio de conciliar a vida profissional com o acompanhamento do desempenho de seus filhos nas aulas online.

Veja a reportagem sobre a volta às aulas no Ensino Médio

As aulas remotas trouxeram alguns bons frutos, como um almoço mais relaxado, a possibilidade de acordar mais tarde e estreitar os laços com os familiares. No entanto, a perda do convívio social com crianças de mesma faixa etária e das aulas presenciais, espaços de maior concentração, tem provocado algumas sequelas às crianças na saúde física e mental. Nesse contexto, os pais tiveram que adaptar suas rotinas de modo a lidar com a situação de forma mais eficaz.

De acordo com a pediatra Maria Lucia Nicolau Pinto, do Healthy Kids, a prática da atividade física é muito importante para a saúde física, mental e emocional de todas as faixas etárias, inclusive para as crianças, principalmente neste período de confinamento.

A prática de exercícios físicos previne a ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis em adultos, como hipertensão, diabete, AVC, alguns tipos de câncer e a obesidade. Essa última apresenta um crescimento exponencial em crianças, já que estão em casa consumindo conteúdos audiovisuais em computadores, televisão e celular, enquanto seus pais trabalham no esquema de home office.

– Eu estou vendo muitos casos de mães que me procuram porque seus filhos estão com ansiedade, depressão, relatos que já existiam antes, mas os casos aumentaram muito durante a pandemia. Criança não foi feita para ficar presa dentro de casa e, sim, para ficar solta – declara a pediatra.

Além de prevenir o sedentarismo, a prática de atividade física aumenta a imunidade e evita o surgimento de doenças infectocontagiosas, como gripe, pneumonia, o que é de suma importância nesses tempos.

– Quando dispomos apenas do espaço de nossas casas, que muitas vezes é pequeno, podemos usar nossa imaginação e inventar brincadeiras, como bambolê, amarelinha, esconde-esconde, pular cordas, além de solicitar que as crianças ajudem nas tarefas de arrumação da casa, estimulando a movimentação e o senso de responsabilidade. O incentivo de atividades em ambientes externos e abertos, como andar de bicicleta, praticar exercícios físicos na praia, também é um caminho a ser considerado – pontua Maria Lúcia.

A pediatra reforça a importância dos cuidados que devem ser adotados ao sair de casa, como manter o distanciamento de 1,5m a 2m, levar álcool gel para a higienização das mãos e o uso de máscaras. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, as máscaras não devem ser utilizadas para crianças menores de 2 anos devido ao risco de sufocamento. Crianças entre 2 e 5 anos podem usar as máscaras sob supervisão e respeitando o grau de amadurecimento de cada uma. Ela ressalta também o uso dos protetores solares e a constante hidratação.

As empresas que desenvolvem projetos que estimulam a atividade física vêm se mobilizando para seguir com seus serviços, dentro das possibilidades. O Grupo Cambalhota, do atleta e professor Sérgio Ricardo Paranhos, atuava em 10 escolas diferentes de Niterói, oferecendo atividades de ginástica olímpica. No entanto, o atendimento em escolas teve de ser interrompido e o serviço, consequentemente, foi adaptado à nova realidade.

– Com a situação atual de pandemia, estamos realizando atendimento na praia, dentro do que é viável e seguro. Mediante o decreto da flexibilização do prefeito, voltamos a realizar atividades dentro de academias de ginástica. As turmas são organizadas de acordo com a demanda dos pais e os atendimentos são individualizados ou estruturados em grupos pequenos, seguindo todos os procedimentos de segurança estabelecidos pela OMS – afirma Paranhos, coordenador da Equipe Novo Salto e criador do Grupo Cambalhota.

Formado em Educação Física pela Universo, com Pós-Graduação em Psicomotricidade, Sérgio possui 3 anos de formação clínica na área, com ênfase em multiplicidade do cuidado. Seu projeto, Equipe Novo Salto, começou efetivamente esse ano. Porém, ele já aplicava a metodologia, que alia a psicomotricidade com a ginástica olímpica em outras clínicas, antes da pandemia. Para o professor, a psicomotricidade é um alento para o olhar sensível da criança e demonstra um cuidado com o seu emocional. É pensar a ginástica olímpica além da rigidez que ela impõe.

Para o desenvolvimento das atividades, todas as restrições são seguidas, como o distanciamento de 1,5m a 2m, o uso de máscaras, higienização frequente e manutenção das salas de aula com janelas e portas abertas. As atividades de acrobacia, como a cama elástica e o trampolim, são feitas ao ar livre.

A terapeuta ocupacional Juliana Costa conta que não teve muita dificuldade em se adaptar à nova realidade. Moradora de Itaipu, Juliana é mãe de dois meninos. Miguel, de 6 anos, e Fred, de 8.

– Aqui em casa é bem tranquilo. Eu moro em Itaipu, tem uma área verde bem grande, onde as crianças podem brincar. A piscina já foi liberada, com restrições, então eu consigo sair com eles de máscara, tomando todos os cuidados para praticar as atividades físicas. Boa parte dos amigos dos meus filhos mora em Icaraí. Eles têm uma situação diferente da nossa, na maioria dos casos, em termos de espaço e ambiente externo – avalia Juliana.

Crianças praticando atividade física dentro de um condomínio, em Itaipu

A terapeuta relata não ter tido dificuldade de convivência durante esse período. Ela conta que isso está muito atrelado ao fato de seus filhos respeitarem o espaço um do outro, assim como o momento de trabalho dos pais. Ela também não poupa elogios quanto ao trabalho que a escola que seus filhos estudam vem desenvolvendo.

– O Miguel alfabetizou de forma remota. Os dois tiveram um bom aproveitamento, mas isso depende da personalidade de cada criança. Eu acho que a diferença é que na sala de aula a professora tem a autonomia de intervir com mais facilidade, em casa, isso não é tão possível – conta Juliana.

Em relação à saúde mental, Juliana notou maior entusiasmo quando os espaços do condômino abriram, há um mês, seguindo todas as restrições. Segundo ela, os espaços de convivência, como as quadras, podem ser reservadas por uma hora, sem a presença de outro morador. Ela notou que a convivência com outras crianças, após a flexibilização aumentou a produtividade dos seus filhos nas aulas online.

Na sua atividade como terapeuta ocupacional para crianças com deficiência, Juliana conta que o trabalho remoto segue a todo vapor e que é muito gratificante poder amparar famílias num momento tão difícil e delicado que o mundo enfrenta.

– Estamos realizando trabalho remoto, enviamos vídeos com orientações gerais para as famílias com propostas de atividades lúdicas. O músico terapeuta que trabalha com a gente fez vídeos muito legais de estímulo para as crianças, o professor de dança também ajudou, tem uma professora de teatro que fez vídeos com fantoches. Eu gravei um com meus filhos ensinando a fazer massinha. Foi bem divertido. No fim das contas, acho que foi a arte que manteve a gente em pé – confessa Juliana.

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