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“Sem anistia” foi o principal slogan de manifestações, em defesa da democracia, realizadas, nesta segunda-feira (9), em pelo menos 50 cidades do país. Os atos são uma resposta à invasão e destruição dos prédios dos Três Poderes promovidos por golpistas, no domingo, em Brasília.
No Rio de Janeiro, a manifestação aconteceu, no final da tarde, na Cinelândia, no Centro da cidade. Em São Paulo, na Avenida Paulista. Nas ruas, também foi pedida a punição de todos que participaram dos atos contra o Estado Democrático de Direito.
No mesmo horário das manifestações, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com governadores e vice-governadores das 27 unidades federativas do país, no Palácio do Planalto, em Brasília. O local também teve vários espaços vandalizado pelos golpistas.
Dentre os participantes, estavam apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP), e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ambos se colocaram à disposição de Lula para “ajudar na pacificação do país”.
– Nesse país, é possível tudo. A única coisa que não é possível é alguém querer acabar com a nossa incipiente democracia – afirmou Lula, na reunião.
Celina assumiu o cargo porque o ministro do STF Alexandre de Moraes afastou o governador de Brasília, Ibaneis Rocha, por 90 dias, por “conduta dolosamente omissiva” em relação aos atos golpistas que aconteceram em Brasília.
Da reunião, também participaram o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin e várias autoridades da República como o procurador-geral da República, Augusto Aras; a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber; o presidente do Senado em exercício, Veneziano Vital do Rêgo e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.
Rosa Weber, Vital do Rêgo e Arthur Lira já haviam se reunido, mais cedo, com o presidente Lula, também no Palácio do Planalto. O objetivo foi mostrar que “os poderes da República estão unidos para que providências institucionais sejam tomadas”.
Ao final da reunião dos governadores, o presidente da República desceu a rampa do Palácio do Planalto junto com todos eles. O grupo caminhou alguns metros até a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), que também foi vandalizada. O objetivo foi “prestar solidariedade à Corte”.
O gesto está sendo chamado de “segunda posse” de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República.
Logo após os ataques às sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário, na Praça dos Três Poderes, domingo, em Brasília, o Supremo Tribunal Federa determinou a desmobilização de todos os acampamentos golpistas, no país, em um prazo de 24h.
No Rio de Janeiro, a concentração era em frente à sede do Comando Militar do Leste (CML), no Centro da cidade, onde os golpistas se instalaram desde a semana posterior ao segundo o turno das eleições presidenciais, realizado em 30 de outubro passado.
– Essa gente não tem pauta de negociação – comentou Lula sobre os golpistas acampados.
Eles pediam para as Forças Armadas dar um golpe de Estado por não aceitarem a vitória eleitoral de Lula.
Além de barracas, a estrutura dos golpistas no Rio de Janeiro contava com banheiros químicos, baldes, galões e até uma caixa d’água. Um caminhão de mudança levou parte dos itens, enquanto um grupo fazia orações. O acampamento contava também com sinalizações improvisadas, com áreas de acesso “a pessoal autorizado” e até a indicação de “vias”, como a “Travessa Cássia Kis”. A atriz esteve no acampamento mais de uma vez e rezou com os acampados que pediam intervenção das Forças Armadas no país.
Militares do Exército, incluindo a Polícia do Exército, participaram do desmonte do acampamento, além de reposicionarem os gradis na praça.
Em Brasília, mais de mil golpistas que estavam acampados estão detidos no ginásio da Academia da Polícia Federal, em Brasília, para serem interrogados.
O perfil do Instagram @contraogolpebrasil , criada para identificar os golpistas que vandalizaram a sede dos Três Poderes, em Brasília, chegou a 1 milhão de seguidores, em 24 horas.
A Polícia Federal criou o e-mail denuncia8janeiro@pf.gov.br para receber informações sobre os atos que já são considerados como terroristas, ocorridos em Brasília.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, informou na manhã de segunda-feira (9) que o policiamento no Estado permanecerá reforçado “para monitorar eventuais manifestações antidemocráticas no território fluminense”.
Segundo informou, o policiamento foi reforçado em prédios públicos como o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Tribunal Regional Eleitoral, Assembleia Legislativa e Palácio Guanabara. A Refinaria Duque de Caxias (Reduc), da Petrobras, na Baixada Fluminense, está sendo guardada pelo Batalhão de Choque e pelo Regimento de Polícia Montada da Polícia Militar. No domingo, circularam informações que golpistas tentariam invadir a refinaria para interromper o abastecimento de combustível da cidade.
Golpistas tentam bloquear refinarias em São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. De acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP), os golpistas não estavam obtendo sucesso e estavam se desmobilizando por conta da “atuação das forças de segurança, da própria FUP e de sindicatos”.
Em Niterói, o prefeito Axel Grael determinou que todos os prédios públicos da cidade tivessem a segurança reforçada. A medida preventiva foi tomada após os atos de vandalismo ocorridos em Brasília.
– Por minha determinação, o secretário Municipal de Ordem Pública de Niterói (SEOP), coronel Paulo Henrique de Moraes, está reforçando a proteção aos prédios públicos da Prefeitura. É inadmissível o que aconteceu em Brasília. Criminosos atentando contra a democracia brasileira serão mais uma vez derrotados. Determinei a mobilização da Guarda Municipal para proteger os prédios e espaços públicos de Niterói – afirmou Grael, em nota.
Ele informou também ter acionado as autoridades da Policia Militar da cidade para que mantivesse sua tropa “em atitude de prontidão para agir imediatamente em caso de qualquer alteração na rotina da cidade”.
Nesta segunda-feira (9), o governo federal convocou restauradores de obras de arte de todo o país para recuperar itens danificados pelos golpistas. À tarde, foi feita uma reunião no Ministério da Cultura para requisitar servidores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) com conhecimento em restauração.
O Palácio do Planalto divulgou a relação preliminar das obras vandalizadas pelos golpistas:
No andar térreo:
• Pintura Bandeira do Brasil, de Jorge Eduardo, de 1995 — o quadro, que reproduz a bandeira nacional hasteada em frente ao palácio e serviu de cenário para pronunciamentos dos presidentes da República, foi encontrada boiando sobre a água que inundou todo o andar, após vândalos abrirem os hidrantes ali instalados.
• Galeria dos ex-presidentes — totalmente destruída, com todas as fotografias retiradas da parede, jogadas ao chão e quebradas.
No 2º andar:
• O corredor que dá acesso às salas dos ministérios que funcionam no Planalto foi brutalmente vandalizado. Há muitos quadros rasurados ou quebrados, especialmente fotografias. O estado de diversas obras não pôde ainda ser avaliado, pois é necessário aguardar a perícia e a limpeza dos espaços para só daí ter acesso às obras.
No 3º andar:
• Obra As Mulatas, de Di Cavalcanti — a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto foi encontrada com sete rasgos, de diferentes tamanhos. A obra é uma das mais importantes da produção de Di Cavalcanti. Seu valor está estimado em R$ 8 milhões, mas peças desta magnitude costumam alcançar valores até cinco vezes maior em leilões.
• Obra O Flautista, de Bruno Giorgi — a escultura em bronze foi encontrada completamente destruída, com pedaços espalhados pelo salão. Está avaliado em R$ 250 mil.
• Escultura de parede em madeira de Frans Krajcberg — quebrada em diversos pontos. A obra se utiliza de galhos de madeira, que foram quebrados e jogados longe. A peça está estimada em R$ 300 mil.
• Mesa de trabalho de Juscelino Kubitscheck — exposta no salão, a mesa foi usada como barricada pelos terroristas. Avaliação do estado geral ainda será feita.
• Mesa-vitrine de Sérgio Rodrigues — o móvel abriga as informações do presidente em exercício. Teve o vidro quebrado.
• Relógio de Balthazar Martinot — o relógio de pêndulo do século 17 foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI. Martinot era o relojoeiro de Luís XIV. Existem apenas dois relógios deste autor. O outro está exposto no Palácio de Versailles, mas possui a metade do tamanho da peça que foi completamente destruída pelos invasores do Planalto. O valor desta peça é considerado fora de padrão.
Segundo o diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, será possível recuperar a maioria das obras vandalizadas, mas ele estima como “muito difícil” a restauração do relógio do século 17.
Com G1, Agência Brasil, Mídia Ninja e redes sociais do presidente Lula
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