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O secretário de Desenvolvimento Econômico de Niterói, Luiz Paulino Moreira Leite, leva a vida toda na cidade e conhece os altos e baixos do município, que já foi capital federal, sofreu com a fusão dos estados do Rio e da Guanabara, se renovou, enfrentou crises, como o rombo das contas públicas e a tragédia do Bumba e, segundo ele, agora vive um bom momento. Empresário, sabe que a cidade precisa oferecer boas condições de infraestrutura, saneamento, saúde, escolas e políticas públicas consistentes para atrair investimentos. Entusiasmado, em cerca de uma hora de conversa com o A Seguir, comparou Niterói a Houston, Sausalito e Barcelona. Mais adiante a gente explica melhor.
Moreira Leite é um nome ligado à Associação Comercial e Industrial – Acierj. Tradição de família, dos tempos da loja de ferragens Homem de Ferro, que marcou época na cidade. “Você lembra?” A ligação com o comércio não se desfaz. Na secretaria é possível encontrar a revista O lojista, do Clube dos Diretores Lojistas, ao lado das publicações do município. Luiz Paulino diz que nunca se meteu em política. “Só uma vez. Fui candidato a Prefeito, depois do (ex-prefeito e mais tarde governador do Rio) Moreira Franco. Era o Moreira certo. Perdi para o (então governador, Leonel) Brizola.” Na verdade, quem venceu a eleição foi Jorge Roberto da Silveira, com apoio do governador do estado. Mas isso não impediu a aproximação com o PDT. Está no governo há 18 anos: “Ninguém me tira daqui. Já pedi para sair, no final do governo do (ex-prefeito) Rodrigo Neves. Mas o (prefeito) Axel Grael me chamou de volta. Me chamou, não: me nomeou.” Conta deste jeito. Mas está confortável na posição. Basta ver como dispara a falar sobre a cidade…
Sausalito
A proposta da entrevista é falar sobre a entrada de novos empreendimentos na cidade. Em diversos setores: bares e restaurantes; construção, decoração; atacadistas. É o bastante para o secretário elencar, orgulhoso, as qualidades de Niterói:
-É uma cidade pequena, média, as vezes tem um jeito provinciano, tão perto do Rio. Isso tem vantagens e desvantagens, porque o Rio atrai os investimentos e oferece muitas opções. Mas Niterói tem muita qualidade de vida. Tem todos os recursos. Saneamento, 100% de saneamento, que cidade tem isto? Infraestrutura, água, luz, telefonia. Hospitais, escolas. Uma cidade de classe média alta, 74% dos moradores têm plano de saúde. Isso favorece o desenvolvimento econômico. E é uma cidade que recebe muito bem. Não temos nenhuma problema. Um pouco de trânsito… Mas não temos nenhum entrave ao desenvolvimento – sustenta.
Formado na área do comércio, por tradição familiar, Moreira Leite diz que Niterói sempre performa bem no setor. “As empresas que abrem filial em Niterói costumam encontrar aqui seu melhor faturamento.” E fala do interesse das construtoras em investir na cidade. “Essa aqui – diz, apontando para um folder de um empresa, na mesa – é uma construtora que quer fazer alguns projetos na cidade.”
Luiz Paulino está em linha com o sentimento de boa parte dos moradores de Niterói, que parece ter superado o trauma da vizinhança com o Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, para viver mais o que a cidade oferece. “Superamos isto.” Neste momento, faz a primeira das comparações que aparecem no título: “É como Sausalito!, exclama, se referindo à cidade vizinha de San Francisco, também separada da metrópole do outro lado da baía por uma ponte ou uma barca, que soube preservar sua identidade e atrativos e é visita obrigatória naquela parte da Califórnia. A referência, na verdade, tem mais valor simbólico que a comparação permite fazer, porque a cidade tem apenas 7 mil habitantes e se afirma com reduto de artistas e bons restaurantes.
Houston
Quem está no governo ou apenas acompanha a gestão pública sabe que a grande obsessão do secretário Luiz Paulino é o projeto de recuperação da atividade naval na cidade, estaleiros e pesca. Nos últimos anos, é possível que não tenha passado um dia sem falar no Canal de São Lourenço, o acesso à àrea portuária, que hoje está assoreado e atrapalha o acesso de embarcações de grande porte, o que limita as possibilidades de negócios no setor. O projeto técnico foi aprovado e no dia da entrevista (16/3) o Prefeito Axel Grael estava em Brasília negociando o apoio do governo federal para o projeto.
-Petróleo e gás é uma vocação da cidade. Niterói tem a segunda maior receita em atividades off-shore. Não é a primeira porque não pode receber barcos maiores. Muitas empresas acabam procurando serviços em Angra, em Macaé. Mas isso vai melhorar – confia. E aí vem a segunda comparação que faz com cidades estrangeiras. “Niterói é como Houston!”, a capital americana do petróleo, no Texas.
A longa trajetória de Luiz Paulino na cidade permite que tenha a lembrança do passado na aposta no futuro. Ele lembra de Niterói dos tempos que a cidade tinha forte atividade dos estaleiros, na Ponta da Areia. E o porto era uma opção, antes de Sepetiba e de todo o assoreamento da baía, que transformou o lugar num cemitério de carcaças de navios.
-Niterói tem até um moinho, na beira do porto. O prédio está ali. E tem gente interessada em investir. Imagine o trigo chegando no porto para ser processado. Niterói poderia ter toda a indústria de massas que abrigou no passado – relembra.
O mesmo problema afeta a atividade pesqueira. Niterói é o maior centro de comercialização de pescado do estado. E um dos maiores do Brasil. Mas as restrições de acesso atrapalham o crescimento. Segundo o secretário, a recuperação do Canal de São Lourenço vai permitir ativar o Terminal Pesqueiro e garantir para a cidade uma atividade que está associada às origens e à cultura da cidade.
Barcelona
A conversa avança por novos territórios e em alguns momentos surpreende. Luiz Paulino diz que Niterói atrai negócios e visitantes e hoje tem carências no setor hoteleiro. Não há vagas de hotel na cidade, para o público que visita a cidade para negócios ou até mesmo lazer. “Quando tem os eventos de surf ou de canoa, muitas vezes, tem gente que tem que buscar abrigo fora da cidade.”
O secretário diz que as políticas públicas têm sido eficientes para trazer investimentos para Niterói. Cita como exemplo o setor de Saúde, alavancado por uma política tributária que atraiu para a cidade os maiores grupos hospitalares do pais. “Niterói tem os melhores hospitais da Rede D’Or, da Amil, da Unimed…” Ele diz que hoje os serviços de saúde representam a maior arrecadação de ISS da cidade. Serviços para a indústria de óleo e gás aparecem em segundo lugar. Em terceiro, serviços de tecnologia da informação.
Tecnologia. Isso nos leva à terceira comparação: Barcelona.
O Secretário fala que a cidade hoje recebeu grau de investimento AAA, um reconhecimento à gestão pública e controle das contas do município. Diz que Niterói hoje está se qualificando para receber empresas de tecnologia. Tem vantagens competitivas para isto, segundo ele. “Temos a UFF e 60 mil universitários.” Para Luiz Paulino, o novo modelo de desenvolvimento da área de tecnologia se baseia no empreendedorismo e a cidade tem profissionais qualificados, que estão escolhendo atuar aqui.
-Niterói sempre foi uma cidade exportadora de mão de obra. Mas a tecnologia abriu novas possibilidades para empreender na cidade. Então, estamos vendo surgirem empresas de vários setores, de e-commerce, prestação de serviços, até em áreas de restaurantes, porque se você tem conhecimento, se organiza, sabe fazer, encontra oportunidades em todas as áreas. Queremos ter aqui alguma coisa como o Barcelona22 – aspira.
O projeto do Distrito 22, ou 22@Barcelona, é uma iniciativa da prefeitura da cidade, capital da Catalunha, na Espanha. Uma área industrial no bairro de Pueblo Nuevo destinada a atrair investimentos em inovação e desenvolvimento do conhecimento. Uma espécie de cidade compacta onde convivem universidades, centros de pesquisa e de tecnologia, meios audiovisuais, residências, zonas verdes, num novo modelo de desenvolvimento.
Com tantos projetos na mesa, a agenda está apertada. A entrevista precisa ser encerrada. Luiz Paulino agradece. E se despede, confiante: “Niterói tem boas perspectivas para os 450 anos!”
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