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A previsão era de 70% de chuva em Niterói no último domingo (23), mas quem aguardava ansioso pela chuva para uma trégua do clima seco, se iludiu. Nos municípios vizinhos, a situação é um pouco diferente. No Rio, choveu em alguns bairros no domingo e em São Gonçalo choveu na segunda. Mas todos têm em comum uma sequência de dias de calor extremo e termômetro nas alturas. Nessa que foi classificada a terceira onda de calor do ano, há um longo período de seca também.
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Para os próximos dias, há sequer previsão de uma gota de chuva, o que significa que teremos um Carnaval sem chuva e de clima muito seco. Nos próximos seis dias não irá chover. O site de meteorologia Climatempo aponta para possibilidade de chuva (40%) somente na quarta-feira de cinzas, mesmo assim de apenas 0,7mm.
Na semana passada, Niterói apareceu no mapa do Instituto Nacional de Meteorologia como a cidade mais quente do Brasil: 42,2 graus. A cidade vive uma excepcionalidade meteorológica. O longo período sem chuva agrava a situação e aumenta todo tipo de riscos, como a desidratação, afetando a saúde, além de potencializar os riscos de incêndios – no dia 17 de fevereiro a cidade teve 15 focos de incêndio.
O secretário-adjunto de Defesa Civil de Niterói, Coronel Walace Medeiros explicou em entrevista ao A Seguir que a combinação de calor intenso com baixa umidade é enganosa, porque diminui a sensação térmica. Quando a umidade é alta, a sensação térmica e mais intensa. Com isso, as pessoas não percebem os efeitos do calor e o risco de desidratação.
A onda extrema de calor fez com que a prefeitura adotasse medidas de emergência, como a criação dos pontos de hidratação. Os primeiros foram anunciados no dia 18 de fevereiro.
O primeiro mês de 2025 foi o janeiro mais quente já registrado, segundo dados divulgados pelo observatório climático Copernicus. O mês de fevereiro segue o mesmo caminho, batendo recordes de calor extremo. Com o aquecimento do Pacífico Equatorial, a tendência é que as temperaturas globais continuem subindo nos próximos meses.
De acordo com a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a atenção se volta para os fenômenos climáticos La Niña e El Niño, que desempenham papéis cruciais nas mudanças do clima global. A La Niña, caracterizada pelo resfriamento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, atuou nos últimos meses, mas já dá sinais de enfraquecimento.
Seu oposto, o El Niño, que aquece essas águas, começa a ganhar força, gerando impactos climáticos que se somam ao aquecimento global e ao aumento recorde das temperaturas.
Especialistas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) acrescentam que a transição entre esses fenômenos, aliada ao aquecimento global, potencializa a frequência e a intensidade de eventos climáticos extremos.
O meteorologista e professor do Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense (UFF), Márcio Cataldi, pontua que desde o início de fevereiro, já observamos sinais do enfraquecimento da La Niña, resultando no aquecimento das águas do Pacífico Equatorial.
– Esse processo leva a impactos mais característicos do El Niño. Entre os efeitos já percebidos, destaca-se o aumento das temperaturas na maior parte do país e o crescimento da frequência de bloqueios atmosféricos nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e parte do Nordeste, com consequente redução das chuvas nessas áreas. Além disso, espera-se um aumento na precipitação na região Sul nos próximos meses.
Para o meteorologista, é fundamental que o Brasil invista mais em previsões sazonais para conseguir antecipar fenômenos como o La Niña e reduzir a dependência de instituições estrangeiras. Previsões bem estruturadas poderiam auxiliar na identificação antecipada de períodos de estiagem ou concentração extrema de precipitação, permitindo que setores como energia, agricultura, defesa civil e turismo se preparem adequadamente.
– Um exemplo desse tipo de previsão é o mapa de anomalias de chuva elaborado pelo Centro Europeu no início de fevereiro. Ele indicava com precisão a redução das chuvas em grande parte das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, ao mesmo tempo em que previa o aumento das precipitações no Sul e no estado de São Paulo. Esses dados podem ser usados por diversos setores, como os de energia, agricultura, defesa civil, turismo, etc – destacou.
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