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Todo novo início de ano, é comum as pessoas renovarem suas listas de sonhos a serem realizados. No caso do engenheiro Thiago Almeida e da jornalista Flavia Trece, em 2022, um projeto caminha a passos largos para virar realidade.
O jovem casal de Niterói, que mora em Itaipu, vai se lançar em uma viagem, a bordo de um motorhome. A ideia é cruzar o continente americano, da Patagônia, no Chile, ao Alasca (EUA). A partida está prevista para o mês de abril. Ao longo de 2021, eles planejaram tudo nos mínimos detalhes. A ideia é ficar, pelo menos, dois anos na estrada.
Engana-se, porém, quem pensa que se trata de um período sabático ou apenas viagem de férias. O sonho que estão prestes a realizar, de verdade, é o de viver sem endereço fixo, o que significa pode trabalhar de onde quer que estejam.
Em pleno dia de Natal, Flavia e Thiago atenderam ao A Seguir: Niterói e contaram, muito animados, sobre seus planos e preparativos para essa empreitada.
Thiago tem 34 anos e Flavia, 33. O casal está junto há 18 anos. Eles se conheceram na escola e começaram a namorar quando eram adolescentes. Desde então, colecionam muitas aventuras em viagens feitas com amigos e em casal. Thiago diz que as férias sempre foram focadas em viajar. Juntos, ele e Flavia já foram à Alemanha, Itália, Áustria e Estados Unidos, por exemplo. Em uma dessas viagens, se depararam com um estilo de vida que chamou sua atenção: os novos nômades – pessoas que moram em trailers, sem endereço fixo, viajando eternamente.
– Em 2019, tivemos nossa primeira experiência em um motorhome, em uma viagem pela Nova Zelândia, e ficamos apaixonados. Nessa experiência, bateu um negócio diferente e a gente percebeu que dava para viver assim também – conta Thiago.
Pouco tempo depois de voltarem de lá, a pandemia os obrigou a se trancarem em casa. Autônomos, precisaram se adaptar ao trabalho em home office, como boa parte das pessoas. É verdade que sentiram muita falta das viagens, mas acabaram tirando algo de positivo da nova rotina. Eles perceberam que era, de fato, possível trabalhar de casa. Assim, a ideia de levar uma casa-escritório para a estrada talvez fosse mais viável do que imaginassem. O foco passou a ser viver em um motorhome.
Inspirados pelo filme “Capitão Fantástico” (Matt Ross, 2016) – que conta a história de uma família que, por opção, vive longe da civilização, no meio da floresta – passaram a repensar seus estilos de vida, a começar pela necessidade de certas comodidades domésticas. Basicamente, tudo o que poderia pesar em um motorhome e ocupar espaço desnecessariamente precisava sair da lista de itens essenciais.
Depois, começaram a planejar o roteiro da viagem. Decidiram por refazer o trajeto da lua de mel, na Patagônia, parte mais meridional da América do Sul, e estender até o ponto mais hostil e selvagem que conseguiram pensar, o Alasca, no extremo da América do Norte. Nesse momento, outro filme entrou “em cartaz”: “Na Natureza Selvagem” (Sean Penn, 2007), sobre um jovem recém-formado que viaja sem rumo pelos Estados Unidos, em busca da sua liberdade.
Quando a ideia de levar uma nova vida se cristalizou, os primeiros passos foram dados para a realização do projeto. Um deles foi criar o perfil do Instagram @vivendo.la.fora para, como afirmam, dividir o passo a passo dessa aventura com o máximo de pessoas possíveis:
– Criamos o perfil para compartilhar essa mudança de vida com as pessoas – explica Flavia – Não estamos falando de um ano sabático, em que vamos nos desligar de tudo por um ano, depois de juntar um dinheiro. Nosso objetivo é incentivar as pessoas a correrem atrás dos seus sonhos, não necessariamente falar só para quem quer viajar.
A vida cabe em 7 metros quadrados (ou quase)
Thiago diz que a escolha do veículo que vai servir de casa pelos próximos dois anos foi muito importante. No caso deles, recaiu em um Sprinter 515:
– Essa foi uma escolha muito importante. Decidimos tudo juntos porque não é um projeto pequeno, indo ali e voltando. É um veículo que aguenta mais peso, especialmente na parte de carga. Tem uma tração traseira muito boa. Fora o espaço de quase 7 metros quadrados.
A pesar do tamanho compacto, para uma casa, muita coisa vai caber dentro do veículo. O que não pode faltar de jeito nenhum, segundo Flávia, é um bom banheiro:
– Para montar uma casa em uma van, com pia, chuveiro e quarto que vira sala, vimos quais seriam as nossas necessidades. O vaso sanitário, por exemplo, tem um reservatório acoplado que deixa todos os dejetos inodoros e você faz o descarte em locais próprios.
O pouco espaço será compensado com muita tecnologia. O motohome está sendo equipado para ter sensor de gases, bateria, sistema de aquecimento a gás de água e do ambiente e vai funciona a diesel e gás GLP. Para trabalharem, vão utilizar, a princípio, internet móvel. Depois, a ideia é que seja via satélite.
A felicidade compartilhada
No perfil do Instagram, o casal já mostrou o passo a passo do desmonte da van, a escolha de itens como janelas, piso, tipo de tinta e todo o trabalho braçal que Flavia e Thiago tiveram que aprender a fazer juntos.
– Como Thiago já tem essa base da engenharia civil, mesmo não sendo a mesma coisa do que reformar uma van e fazer um projeto, ele adaptou o conhecimento dele. E na hora de colocar a mão na massa, fomos aprendendo juntos. Temos muita força de vontade e, tudo isso, acaba sendo um grande aprendizado – afirma a jornalista, que usa suas habilidades de artesã também para ajudar na reforma do veículo.
Segundo ela, tudo está sendo compartilhado, inclusive os medos e inseguranças ou como diz Thiago, “da forma mais vulnerável possível”.
Com toda a estrutura pronta, o próximo passo será levar o veículo à uma empresa em Goiânia (GO), que transforma motorhomes em lares, de fato.
Do Sul ao Norte
Depois de finalizada a van, o casal pretende testar o novo lar, em viagens pelo Brasil. A ideia é se adaptar ao espaço, testar os recursos, e claro, conhecer novos lugares “sem pensar em voltar para algum lugar, pois já estaremos em casa”, diz Thiago.
Só depois disso é que o casal se lançará na aventura de cruzar o continente americano. A previsão é que a partida seja em abril. A expectativa é chegar no Alasca em 2024.
– A gente quer fazer em um ritmo legal porque não é uma viagem como de férias em que a gente tem que fazer todos os pontos em 15 dias. A gente vai levar dois anos e adaptar a jornada ao ritmo de trabalho – comenta Flávia.
Ela conta que faz parte do planejamento a possibilidade de encontrar com amigos e familiares, ao longo do trajeto.
Fora isso, o que o casal espera é conseguir inspirar outras pessoas a realizarem seus sonhos.
– A mensagem que a gente gosta de passar é: se você tem um sonho, corre atrás dele. Nem todo mundo tem a mesma realidade, claro, mas todos têm sonhos. Esse projeto, a gente podia realizar só para gente, mas duas coisas nos inspiraram a compartilhar: uma fala do filme ‘Natureza Selvagem’ que diz que “a felicidade só é completa quando compartilhada”. Além disso, o velejador Amir Klink costuma dizer que, ao passar por um lugar, é bom deixar algo de positivo. Então a gente quer tentar deixar algo de bom para quem nos acompanha – diz Thiago.
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