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Sabe qual bairro de Niterói tem mais farmácias? Se acha que é Icaraí, se enganou

Por por Gabriel Gontijo

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Centro tem 81 drogarias, números ainda maiores se levada em conta a proporção da população
farmacia
Farmácias hoje vendem de tudo um pouco e se expandem em Niterói

Uma em cada esquina. A Rua Moreira César tem apenas 1,5 quilômetro, mas ao longo desse pequeno trecho há pelo menos 20 farmácias, incluindo as de galerias. É uma a cada 75 metros, mas em alguns casos elas estão lado a lado mesmo, como a Raia e a Tamoio, coladas, entre as ruas Mariz e Barros e Oswaldo Cruz. Doze das drogarias estão de frente para a Moreira, sendo sete em esquinas, as chamadas cornershops, em pontos que têm maior visibilidade, atraem mais clientes e custam mais. Achou muito? O Centro de Niterói tem ainda mais. Os dois bairros lideram o ranking em Niterói.

Leia também: Niterói tem overdose de mais de 300 farmácias

Levantamento de dezembro passado da Startup Ecomapas mostrou que o Centro tem 81 farmácias. Icaraí aparece em segundo lugar no ranking, com 74 drogarias. Tomando como base o Censo de 2010 do IBGE, o Centro tinha 19.349 habitantes naquele ano, contra 78.715 de Icaraí, o bairro mais populoso da cidade.

Se comparadas as populações, portanto, o Centro tem ainda muito mais drogarias que Icaraí: uma para cada 238 habitantes no caso da região central, contra uma farmácia para cada 1.063 moradores do bairro mais famoso da cidade.

-Tenho comércio de outro ramo, mas conheço investidores do varejo farmacêutico. E isso se explica, a meu ver, porque o Centro é região de passagem, recebe um fluxo enorme de pessoas que chegam de outros municípios para se deslocarem para o Rio ou outras cidades via barcas ou ônibus – conta um empresário do ramo de revenda de carros de Niterói.

Mas o fato é que quem vive ou passa por esses dois bairros não precisa enxergar muito bem para ver uma farmácia em quase toda esquina.

– Eu moro em Icaraí e trabalho no Centro do Rio, por isso passo todo dia pelo Centro de Niterói para pegar a barca. Fico realmente espantado com a quantidade de farmácias. E noto também uma diferença: o Centro tem unidades de redes que não existem em Icaraí, como a da drogaria São Paulo, por exemplo, na esquina da Rua da Conceição, em frente às barcas. Pelo menos nunca vi uma delas em Icaraí. E o Centro tem mais drogarias pequenas, de farmacêuticos – conta o engenheiro Paulo Machado, de 56 anos.

Segundo o levantamento da Ecomapas, toda a Região Oceânica tem 45 farmácias, enquanto o bairro de São Francisco, 14.

No total, Niterói tinha, em dezembro de 2020, 305 drogarias, um número 5% maior se comparado a 2019, quando elas eram 290, segundo a Ecomapas. Se é que não abriram outras desde que o levantamento foi feito, há um mês… O comerciante ouvido pelo A Seguir: Niterói disse que, na avaliação dele, remédios e comida não deixaram de vender na pandemia de Covid-19, enquanto vestuário, serviço e venda de carros, só para citar o caso dele, tiveram redução enorme de receita ou mesmo prejuízos.

– Pode até ser que outros setores também tenham ganhado mais lojas no ano passado, durante a pandemia, especialmente o de alimentos. Mas a gente só vê lojas de roupas, livrarias e bares virarem farmácias em Icaraí. E viu alguma farmácia dar lugar a lojas de outros setores? Eu não vi.

-É um fenômeno que chama muito a atenção. Fiquei um tempo sem sair de casa, na pandemia, e de repente, passando pela Moreira César com a Belisário Augusto, dou de cara com uma enorme farmácia na esquina. Ali ficava uma loja de roupas, a Opção. Mas quando a loja fechou, os proprietários do imóvel transformaram o espaço em quatro lojas. Aí veio uma rede de farmácia e ficou com todas elas – contra a aposentada Leda Fernandes, de 76 anos, moradora da Belisário Augusto.

Um corretor do bairro que pede para não ser identificado conta que a “luva” pelo ponto ali estava na faixa de R$ 500 mil por cada loja, e que o aluguel devia variar entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. Mesmo que a farmácia tenha conseguido desconto por ficar com todas as quatro lojas juntas, o aluguel deve passar de R$ 40 mil mensais. É preciso um faturamento alto, ou pelo menos garantido, para assumir um negócio desse.

Lojas de redes não são maioria

Passando pela Moreira César ou pela Gavião Peixoto, as duas principais ruas de comércio de Icaraí, fica-se com a impressão de que a maioria das farmácias são de redes. Pacheco, Venâncio, Tamoio, Raia, Cristal… Mas não. Levantamento do Conselho Regional de Farmácias mostra que menos da metade (41%), ou 145 unidades, pertence às grandes redes em Niterói. Na sequência aparecem as drogarias que são propriedade dos próprios farmacêuticos, com 37 lojas.

Aqui é melhor abrir parênteses: apesar das semelhanças, farmácia e drogaria não significam a mesma coisa. Drogaria compreende apenas o comércio de medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, em suas embalagens originais, não existindo manipulação de medicamentos. Já a farmácia, além de exercer as mesmas funções da drogaria, também realiza a manipulação de remédios.

As unidades de rede chamam atenção porque são elas que mais rapidamente têm capacidade de se adequarem a novas tendências, como as megalojas, os grandes estacionamentos, a expansão da oferta de serviços, entre outras estratégias comerciais que tornam as lojas mais parecidas com as dos Estados Unidos, por exemplo.

-A Pacheco tem pelo menos 20 lojas em Niterói. Há pouco tempo abriu uma gigante no Ingá, na esquina de Paulo Alves com Tiradentes, com estacionamento para muitos carros e uma série de serviços. Inclusive faz testes rápidos para Covid-19, que custam cerca de R$ 130, e tem agendamento de meia em meia hora.

Esse fenômeno da “americanização” das farmácias transforma também a cara da cidade, com ocupação de pontos como o do Ingá. A Venâncio na esquina de Roberto Silveira com Miguel de Frias é também uma megaloja que surgiu onde ficava um posto de gasolina.

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