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Rodrigo Pedrosa: escultor niteroiense se emociona ao falar de saúde mental, pandemia e artes plásticas

Por Camila Araujo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Em entrevista, autor da estátua de Zumbi dos Palmares, no Gragoatá, fala sobre sua trajetória profissional
Rodrigo Pedrosa
Obras retratam angústia e conflitos internos dos seres humanos. Foto: @lcbenevides

Este ano, o artista plástico Rodrigo Pedrosa se tornou Cidadão Benemérito de Niterói. A homenagem é “culpa” de Zumbi dos Palmares. Pedrosa é o autor da escultura do líder do povo negro, que fica no Gragoatá . Foi a partir deste trabalho que esse niteroiense de 52 anos, que se assume como “meio recluso”,  passou a conhecer mais pessoas, na cidade.

 

Ajudou nesse movimento o fato de ter transferido, para Niterói, seis meses depois do início da pandemia,  seu ateliê, que ficava no Rio de Janeiro. Mais próximo da cidade, Pedrosa se sentiu incomodado com falta de galerias e tratou de resolver o problema.  Uma parte do seu ateliê, que fica em Santa Rosa, será transformado em um espaço para encontro de artistas plásticos de Niterói e ele espera, até meados de 2022, fazer seu primeiro evento por lá.

 

Nesta entrevista para o A Seguir Niterói, ele conta mais detalhes sobre sua relação com a cidade e a própria arte.  Foi graças à escultura, que um então publicitário, se libertou de uma depressão que se arrastou por anos. E a “virada de chave” veio depois de muitos anos de análise.

– O meu analista me salvou, me fez encontrar a arte e me fez continuar vivo, sobrevivendo com a mente minimamente organizada – conta ele.

Confira a entrevista:

A Seguir: Niterói – Vamos começar falando um pouco da sua trajetória? Como foi sua formação, sua experiência profissional e seu percurso até chegar à escultura?

Rodrigo Pedrosa – Eu sou formado em Desenho Industrial com habilitação em Design Gráfico – na minha época era ainda Programação Visual. Eu me formei na faculdade da Cidade, na Lagoa. Trabalhei com publicidade em algumas empresas, até que montei meu escritório e fiquei praticamente 30 anos trabalhando com isso. Aos 19 anos, eu fui apresentado à escultura, por dois grandes mestres e amigos: Danilo Brito e José Luiz Benício. Benício era um dos maiores ilustradores do Brasil, estava entre os grandes ilustradores do mundo. Para se ter uma ideia, todos os cartazes do cinema nacional era ele quem fazia. Eu conheci os dois na Artplan, empresa onde trabalhei, ainda na faculdade. Eles me levaram a um ateliê em Ipanema, chamado Barro Oco, que ensinava escultura em argila. Esse foi meu primeiro contato com escultura. Até então eu não tinha tido nenhum contato com arte ou feito algo artístico mais apurado. Pelo contrário, sempre tive muito bloqueio.

A Seguir: Niterói – Passou, então, a esculpir?

Rodrigo Pedrosa – Fiquei dois meses nesse ateliê, aprendi a técnica e saí do curso. Continuei esculpindo em casa mesmo, mas fazia muito esporadicamente, cerca de uma vez por ano, era muito experimental. Nisso, eu continuei trabalhando na atividade publicitária. Não levei a sério a escultura, só esculpia quando me dava muita vontade. Com vinte e poucos anos, quando eu me formei na faculdade, eu tive uma depressão profunda e fiquei muito mal. Tive a sorte de ter uma cunhada psicóloga, que viu que eu estava precisando de ajuda e me indicou um psicanalista aqui de Niterói que, inclusive, é artista e poeta, o Carlos Eduardo Leal. Ele percebeu, na minha análise, que o meu bloqueio na arte era o que me causava a depressão. Eu não fazia arte por uma questão familiar, da minha relação com a minha mãe e isso tudo me provocou um fechamento para esse dom. Hoje eu falo com tranquilidade, mas na época foi um grilo total. Foram dez anos de análise. Nesse processo, o meu analista viu que eu tinha essa questão muito latente. Então, ele começou a me induzir, praticamente me obrigar, a pagar a análise com obras de arte, com a minha produção. E eu tinha que fazer escultura, senão eu não podia pagar a análise. Ele não aceitava dinheiro. (risos).

A Seguir: Niterói –  E de onde vem essa inclinação para a arte? É uma expressão que está na sua família ou isso veio de você?

Rodrigo Pedrosa – Olha que coisa incrível – daí esse grilo todo que pairou sobre mim – a minha mãe era uma pessoa com um dom artístico incrível, uma artista que não assumiu sua arte. Ela era dona de casa, mas todo mundo a chamava para fazer arranjos de festas e outras artesanias. Era uma artesã fora de série, mas nunca levou isso a sério. Só que eu tinha uma relação muito difícil com ela, de filho com mãe, que não funcionava. E eu, curiosamente ou ironicamente, puxei a ela. Eu sou parecido com minha mãe fisicamente, a minha voz é parecida com a dela, o meu jeito é igual ao dela e eu tenho o dom artístico que ela tinha. Mas como eu não conseguia me relacionar com ela, eu negava completamente essa semelhança. Então, eu me bloqueei. Eu não conseguia fazer arte porque eu não resolvia a minha situação com a minha mãe. E aí eu fui para tudo que é lado. Eu tive de supermercado à fábrica de prancha de surfe, passando por restaurante à loja de roupa. Eu fiz um monte de coisa, fora quatro escritórios de publicidade. A minha vida foi uma montanha russa nesse aspecto. Sempre tentando não me envolver com arte, porque era uma coisa que me incomodava, eu não conseguia realmente fazer. Graças à análise eu fui desbloqueando isso. Eu comecei a produzir mais, também porque eu precisava pagar as sessões com as obras.

A Seguir: Niterói –  A psicanálise tem um lugar especial na sua vida por causa disso?

Rodrigo Pedrosa – Demais. Acho que se a humanidade fizesse análise nós teríamos um mundo muito melhor. Tem muito preconceito ainda com psicologia e psicanálise. As pessoas acham que é coisa de maluco, de gente fresca. Na minha própria família, o pessoal falava que era besteira. Mas as pessoas não têm noção de como é o sofrimento de quem está com depressão ou numa situação de conflito interno. E a análise ou até mesmo a psiquiatria, num momento mais agudo, salva vidas. O meu analista me salvou, me fez encontrar a arte e me fez continuar vivo, sobrevivendo com a mente minimamente organizada. É muito importante quebrar esse ciclo maldito que é esse preconceito das cavernas. Tem muita gente ainda hoje que olha de lado e diz “ih, aquele ali faz análise, deve ter um parafuso a menos, não deve ser normal”. Análise faz a gente viver melhor, é fundamental, é saúde pública.

A Seguir: Niterói –  Em que momento você decidiu fazer, então, a transição de carreira de publicitário para artista plástico?

Rodrigo Pedrosa – Eu nunca fui muito de planejamento. Enquanto eu ainda estava com a agência de propaganda, eu fui me voltando mais para a arte. Eu comecei a expor, a produzir mais. Meu último escritório foi o de Copacabana. Eu já estava realmente saturado de trabalhar com publicidade. Um dia cheguei no meu limite. Como eu nunca planejava nada, eu virei para o meu sócio e falei “chega, não aguento mais, não vou mais trabalhar, vamos fechar o escritório, se quiser fica para você, mas eu vou embora”. Foi bem assim. Do nada. Com dois filhos para criar, o mais novo com 10 anos e o mais velho com 15, por aí. Eu não tinha um tostão no banco. Você imagina, “ah, o cara juntou dinheiro para fazer uma transição suave”. Não. Nada. Nem uma reserva. Na outra semana eu já não tinha mais escritório. Cheguei em casa e contei com a minha esposa (inclusive, se não fosse por ela, talvez eu não tivesse conseguido). Em vez de bater a porta na minha cara e ir embora, ela falou que eu tinha demorado muito e que eu tinha que ter tomado essa decisão há muito tempo, sabia que era o que eu queria e falou “vambora, vamos encarar”. Ela não tinha um salário para bancar a nossa família, a gente juntava nossas rendas.

A Seguir: Niterói –   O que fez para sobreviver?

Rodrigo Pedrosa – Em pouco tempo eu estava dando aula e já estava repondo parte da renda que eu havia deixado para trás. Também consegui uma galeria de arte para me representar no Rio. E aí começaram a vir as exposições, eu comecei a vender minhas obras e em muito pouco tempo eu estava me estabilizando de novo. E não foi sorte, eu trabalhei muito. Eram cerca de 12, 14 horas por dia trabalhando e buscando solucionar esse problema de se sustentar. Eu tinha família, meus filhos estudavam em escola particular. Essa foi a minha transição para a arte. Brusca, sem planejamento e contando com uma coragem que veio quase que de uma impossibilidade de não fazer isso. Eu ia entrar em depressão de novo, já imaginando mais um ano no escritório de publicidade. Foi uma coisa que explodiu dentro de mim realmente e eu tinha que mudar a minha vida. Eu acho que todo mundo tem essa possibilidade, não é uma coisa que está inatingível, inalcançável, mas requer um movimento. E, convenhamos, eu tinha um lastro familiar de compreensão, até de financiamento caso eu não conseguisse. A gente não pode jogar isso para uma pessoa que não vai ter como sobreviver no dia seguinte. Então, eu tinha essa rede de proteção. A rede de compreensão eu acho que vem também quando todo mundo percebe que você está fazendo a coisa certa, que nasceu para aquilo e mesmo parecendo uma loucura, é o que você tem que fazer.

A Seguir: Niterói –   O que você busca expressar na sua arte? Qual é a sua inspiração?

Rodrigo Pedrosa – Eu sou expressionista, eu opero muito a biologia, a anatomia, eu distorço o corpo da figura, sempre com um certo exagero, para expressar o sentimento. Eu quero passar o sentimento através do corpo. A angústia do humano, as vicissitudes da vida, os conflitos internos, a pressão cotidiana por se manter são, por continuar na vida. Eu esculpo meu diálogo com o mundo que eu vivo. O lado pesado, o lado difícil da existência. É catarse. A vida tem sido muito dura e a arte para mim é meu remédio, minha tarja preta. Eu não faço uma arte conceitual, estética, decorativa, às vezes ela amedronta. Eu já vi gente chorando vendo minhas obras, tanto pelo lado bom, quanto pelo ruim. A minha arte conta a minha história, é visceral e umbilical.

A Seguir: Niterói –   Como assim umbilical?

Rodrigo Pedrosa – É porque é autorreferencial. Todas as minhas esculturas sou eu mesmo. Eu faço foto de mim mesmo e produzo minha imagem na escultura, com o sentimento que eu estou naquele momento. Não é uma obra que eu faço com uma intencionalidade do tipo “vou fazer porque está na moda, porque vai ficar bonito na sala da madame”.É totalmente o contrário. Eu deixo de vender muitas obras porque incomodam a madame. Eu já tive obra devolvida porque a esposa de um cliente não aguentou ver e mandou “tira esse negócio da minha sala”. É um preço que eu pago com prazer porque eu faço aquilo que eu sinto que devo fazer. Passei a vida fazendo o que o cliente queria. Depois que eu abri mão da publicidade, eu fui para a arte e faço exatamente aquilo que eu quero. Não estou preocupado com um cliente. Se ele não gostar, ótimo. Se ele gostar, melhor ainda, porque ele vai comprar (risos). Se não comprar não tem problema, eu continuo fazendo a mesma coisa. Curioso: dez anos depois de terminar a minha análise, eu e o Carlos Eduardo Leal tivemos um reencontro. E, nessa ocasião, ele me devolveu uma das primeiras obras que eu tinha feito vinte e cinco anos atrás para pagar as sessões, dizendo que ele não podia ficar com ela, porque ela fazia parte da minha vida, contava a minha história, toda a minha trajetória e de todo o trabalho que a gente tinha feito juntos. Foi muito bonito, muito emocionante mesmo. E se você olhar para essa obra de vinte e cinco anos atrás, você vai ver que é a mesma coisa que eu produzo hoje. A obra é a mesma coisa. Não houve uma busca por um estilo, uma forma. Não. A primeira vez que eu toquei na argila, ela já saiu assim. É tão espontânea, tão de mim mesmo que eu não sei explicar.

A Seguir: Niterói – Você já fez monumentos de pessoas famosas, inclusive, aqui em Niterói tem o Zumbi dos Palmares, no Gragoatá. Como foi para você esculpir esse personagem tão simbólico para a história do povo negro e do Brasil?

Rodrigo Pedrosa – Eu recebi o convite de fazer Zumbi dos Palmares e foi um frio na barriga fazer um monumento para uma cidade, né, imagina? Mas eu tive uma chance muito legal e importante que foi a liberdade de fazer uma figura da minha cabeça, porque não há registros oficiais da fisionomia dele, então eu fui pesquisar quem foi Zumbi. Cheguei à etnia dele, a Jaga do Congo. A mãe dele era uma princesa, que veio grávida, pariu o Zumbi, aqui, em Recife. E aí eu descobri o biotipo deles, como eles eram, se vestiam etc. e fiz o Zumbi focado nessa raiz dele. Ele é bem africanão, é um nativo. Eu não botei roupa, como em Salvador onde  Zumbi está com um bermudão do colonizador. Eu não consegui imaginar o Zumbi na floresta, tendo que fugir o tempo todo usando bermudão abaixo do joelho. Ele iria tropeçar na primeira, entendeu? (risos) Até por ser rebelde, ele não iria usar roupa de colonizador. Ele usaria a indumentária da tribo dele, que eram as tangas. O Zumbi de Niterói só tem uma tanguinha. Esse convite foi um presente que eu ganhei de cidade. E acho que é muito importante que Niterói tenha um monumento de um grupo tão importante que é muitas vezes relegado a essas manchetes horríveis que a gente vê por aí. São pessoas massacradas pelo Estado e pela gente né, pessoas brancas, infelizmente. Eu sou niteroiense e tive a oportunidade de fazer com liberdade, do meu jeito. Foi uma demanda da população preta de Niterói que veio para mim, que sou branco. Então, foi incrível.

A Seguir: Niterói –  Desde então, foram quantos monumentos?

Rodrigo Pedrosa – De 2019 para cá, foram oito monumentos. Eu nunca imaginei isso, nunca planejei ser escultor de monumentos. Depois do Zumbi, eu fiz o busto do desembargador Jorge Loretti, na Praça César Tinoco, no Ingá. Depois eu fui convidado para fazer a estátua da Clara Nunes, que já está pronta, mas ainda vai inaugurar no Teatro Clara Nunes, na Gávea, em janeiro de 2022.

A Seguir: Niterói –  Você fez o busto da Aída dos Santos, a primeira mulher a ter uma performance olímpica, no Brasil, que morava em Niterói com a família. Como foi para você?

Rodrigo Pedrosa – A Aída foi um movimento diferente. Eu estava lendo o jornal um domingo, sempre lia a coluna da Ana Claudia Guimarães, uma grande amiga minha, vi uma notinha pequena sobre a Aída e aquilo me tocou. Fui pesquisar, fiquei chocado com a história dela. A mulher é uma rainha, foi a primeira mulher brasileira a ir para uma final olímpica, a única mulher na delegação brasileira nas Olimpíadas de Tóquio, em 1964. Não tinha apoio ou recursos, superou muitas barreiras e fez história. Ela tinha que ter uma estátua do tamanho da estátua da liberdade em Niterói, já que ela morava aqui. Fiz uma vaquinha virtual para conseguir pagar o bronze. E então eu consegui o bastante para realizar o busto da Aída. Eu queria fazê-la de corpo inteiro, saltando, em glória, mas era muito caro. Fui pedir à Prefeitura de Niterói permissão para botar a obra no espaço público. Até aí tudo certo, o prefeito estava animado, divulgando, quando veio o balde de água gelada. O jurídico da prefeitura descobriu que tinha uma lei de 1975, da Era Geisel, que proíbe monumento de pessoas vivas em espaços públicos. Não deu para fazer em Niterói. Nisso eu lembrei que ela havia sido atleta do Botafogo e tive a ideia de levá-la para General Severiano. Consegui falar com o presidente do clube e ele comprou a ideia. Pouco tempo depois a gente estava inaugurando, numa festa linda, com ela, a filha dela, Valeskinha, campeã olímpica de vôlei. Todo o processo durou quatro meses e está lá lindona. Outra que veio de presente para mim, mais recentemente, foi a estátua do Leonel Brizola, ícone da política nacional, que está pronta e vai inaugurar no dia 22 de janeiro, em Brasília, dia do centenário do nascimento dele.

A Seguir: Niterói –  Além das esculturas e monumentos, tem também a pintura. Qual é a história dessa sua nova expressão artística?

Rodrigo Pedrosa – Eu comecei a pintar quase como uma imposição que eu me fiz, porque eu estava com uma exposição individual em Caravaggio, na Itália, onde nasceu um dos maiores pintores de todos os tempos, curiosamente. Eu levantei os custos de logística para levar as esculturas e era caro demais, eu só consegui pagar o envio de seis esculturas. Fiquei muito frustrado que não iria poder levar as outras e falei para mim mesmo que iria pintar as obras que eu não pudesse levar, mesmo sem nunca ter pintado antes na vida. E aí, eu pintei dez telas de grandes formatos, 1,60m x 1m, em trinta dias. Eu acho que isso foi psicografado, na verdade, porque foi uma coisa que eu não sei explicar. Rafael Vicente e César Coelho, meus colegas de ateliê, me viram pintar e me ajudaram a entender a pintura para fazer essas telas. A minha pintura é mais política, tem uma linguagem diferente da escultura. Hoje, por exemplo, eu estou fazendo telas das etnias indígenas do Brasil, para denunciar os ataques que esses povos originários têm sofrido. Eu comecei em 2020, com os Caiapós.

A Seguir: Niterói –  Em relação à pandemia de covid-19, como foi esse período e de que forma você expressou os afetos desse tempo na sua obra?

Rodrigo Pedrosa – Nesse período, eu fiz duas obras que eu chamo de Açougue Brasil, máquina de moer gente, que tem tudo a ver com a pandemia, sobre como o Estado massacra o nosso povo. São esculturas de crânios de mortos e tentativas de superar isso tudo, como uma fênix que tenta renascer dessas mortes que a gente viu acontecer. Produzi muito devagar, pois estava sem a estrutura adequada. Mas a arte me ajudou muito a passar por esse período todo. Quando liberou para sair para rua de máscara e com os protocolos, eu fui correndo para o ateliê e produzi muito. Coloquei para fora esse peso mais intenso ainda de estar numa crise pandêmica mundial, então eu carreguei ainda mais no tom e na tinta do sofrimento e da angústia.

A Seguir: Niterói –  Você é niteroiense e mora na cidade. Conta um pouco como é a sua relação e da sua arte com Niterói?

Rodrigo Pedrosa – Eu nasci em Niterói em 1969 e fui morar na Região dos Lagos até os 14 anos de idade, quando voltei para estudar no Abel, morando sozinho com o meu irmão de 16 anos. Foi uma experiência muito importante na minha vida, construiu meu caráter e quem eu sou hoje. Teve muito impacto, inclusive, no meu sofrimento, eu caí no mundo, praticamente. Fiz um relacionamento muito pequeno na cidade, porque fui fazer faculdade no Rio e também trabalhei praticamente a vida inteira lá. Sempre fui muito recluso. Eu comecei a conhecer mais pessoas aqui a partir do monumento de Zumbi dos Palmares, por incrível que pareça. Recebi o título de Cidadão Benemérito de Niterói neste ano de 2021. Achei o maior barato.

A Seguir: Niterói –  Como você vê a cena das artes plásticas na cidade hoje?

Rodrigo Pedrosa – Eu estou conhecendo as pessoas em Niterói há pouco tempo, na verdade. Eu tive o ateliê na Fábrica Bhering [no Santo Cristo, no Rio] por muitos anos, dividindo o espaço com Rafael Vicente e Cesar Coelho Gomes. Seis meses depois do início da pandemia eu trouxe o ateliê para cá. Acho que Niterói tem muitos artistas muito bons, mas pouco conhecidos. O que me deixa triste é a falta de galerias. Falta espaço para os artistas exporem seus trabalhos, falta dar abertura maior para a comunidade artística daqui. O mercado comercial de galerias é péssimo, isso é um problema. Se você vai em um bairro de São Paulo, você vê o total de galerias que Niterói teve em toda a sua história.Inclusive, pensando nisso, eu estou preparando um espaço no meu ateliê, em Santa Rosa, para os artistas da cidade se encontrarem. Chama Zilda: Zona Integrada de Literatura Design e Artes. É o nome da minha sogra. O ateliê é na casa onde ela morou e essa é uma homenagem que estou fazendo a ela. Até meados do ano que vem, quero fazer o primeiro evento com os artistas niteroienses.

A Seguir: Niterói –  Há algo que não perguntei que gostaria de dizer?

Rodrigo Pedrosa – Seria bacana divulgar o Palácio dos Livros, um projeto de literatura meu com outros parceiros, que distribui livros de graça no Morro do Palácio. E também o Remanço Fraterno, uma instituição em Várzea das Moças que dá educação integral para as crianças, onde eu sou voluntário na comunicação e na captação, e dou aula de escultura. É o mínimo que eu faço para retribuir o dom que Deus me deu.

 

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