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Exame revela possível estagnação e perdas no ensino em Niterói

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Média mais baixa no Ideb foi a do segmento do Ensino Médio, que ficou com nota 4; Especialistas alertam para aumento artificial das taxas de aprovação
Salas de aulas vazias : Foto- Getty Image
Secretaria de Educação de Niterói não atingiu a nota que tinha como meta. Foto: Reprodução Internet

A meta da Secretaria de Educação de Niterói era atingir 6.1 no Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira (Ideb) em 2021, mas os dados divulgados nesta sexta-feira (16), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revelam uma estagnação e, em alguns casos, sugerem uma queda do nível de aprendizagem em alguns segmentos da educação.

No segmento 1 do Ensino Fundamental, que corresponde aos alunos do 1º ao 5º ano, a média ficou em 5,6, nota similar a da edição anterior do Ideb, em 2019, que foi de 5,5. Porém, há um declínio nítido, em comparação com o segmento 2 do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), que ficou em 4,7. O cenário é ainda mais alarmante nos alunos do Ensino Médio, que tiveram a média 4,0. Ainda assim, o resultado é superior ao de 2019, quando a cidade ficou com 3,8. O Ideb é um termômetro criado em 2007 pelo Inep para medir a qualidade do ensino público e privado no país, que combina resultados de exames padronizados (a Prova Brasil) — aplicados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), ao final das etapas de ensino — com informações sobre rendimento escolar (aprovação).

Do ponto de vista nacional, houve pouca variação em relação à edição anterior, de 2019, mas isso não significa que não houve perdas na aprendizagem na pandemia ou que as desigualdades regionais não foram acentuadas no período. Os especialistas apontam que os resultados devem ser analisados com cautela e critério. Seja pela evasão escolar, potencializada pela pandemia, seja pela falta de suporte tecnológico, os novos dados, coletados em 2021, podem levar a equívocos. Isso porque, em função da conjuntura da pandemia, eles foram colhidos em condições que acabaram impossibilitando, de forma não intencional, o verdadeiro retrato da educação brasileira na pandemia.

Leia mais: Uma criança é vítima de violência a cada dois dias em Niterói

Cenário irreal

O A Seguir: Niterói conversou com a editora pública da Jeduca – Associação de Jornalistas de Educação, Marta Avancini. Ela recorda que, em função da pandemia da Covid, o Conselho Nacional de Educação (CNE) adotou uma medida emergencial para que os anos de 2020 e 2021 fossem fundidos, evitando assim, a reprovação dos estudantes. Na época, havia uma grande discussão em torno do prejuízo educacional para os alunos que estavam impossibilitados de acompanhar as aulas devido à pandemia. Por conta disso, houve um aumento artificial das taxas de aprovação.

Ao mesmo tempo, outras redes não seguiram a mesma conduta, pois já tinham retomado as aulas presenciais, o que dificulta uma comparação realista entre os estados ou de um ano para o outro. Dessa forma, a real dimensão do desempenho dos alunos é extremamente prejudicada.

– Há cidades em que houve um aumento grande das taxas de aprovação, mas isso não reflete um ganho pedagógico real desses estudantes. Foi uma medida emergencial tomada em função da pandemia. O número foi muito influenciado por esse cenário. Esses dados devem ser analisados com extremo cuidado. Não é uma distorção deliberada, é uma questão conjuntural – explica.

Como o Ideb é calculado

O Ideb é um instrumento usado pelo ministério da Educação para mensurar a qualidade na educação no Brasil. Os resultados são publicados no ano seguinte à avaliação. Em uma escala de 1 a 10, ele cruza duas informações:

– Taxa de aprovação/fluxo escolar (a porcentagem de alunos que não repetiram de ano em uma escola ou rede de ensino);

– Notas do Saeb, uma prova de português e de matemática feita por alunos do 2º, 5º e 9º ano do ensino fundamental e por estudantes do 3º do ensino médio. No caso do 9º ano, para uma amostra específica, houve também questões de ciências da natureza e ciências humanas.

Só que neste ano, além de parte das redes de ensino ter adotado a aprovação automática, de forma inédita, também por causa da Covid-19, a porcentagem de alunos que fizeram a avaliação (Saeb) foi muito mais baixa em alguns estados, fornecendo dados estatisticamente pouco confiáveis.

E o Ideb nacional?

O Ideb nacional foi de 5,8 (uma variação muito discreta em relação aos 5,9 de 2019). Esse é o retrato dos anos iniciais do ensino fundamental,  justamente na etapa em que as crianças enfrentaram dificuldades nos processos de alfabetização à distância.

Nos anos finais do Ensino Fundamental, a variação também foi pequena (de 4,9 para 5,1). Já no Ensino Médio, o Ideb ficou estacionado em 4,2, repetindo o resultado de 2019, o que gera uma dúvida sobre o real ganho pedagógico.

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