22 de dezembro

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Quadrilha, forró e comidas típicas: a festa junina resiste em Niterói

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Conversamos com alguns niteroienses sobre as principais lembranças da festa junina do tempo escolar
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Estudantes do colégio Marly Cury dançando quadrilha. Foto: Arquivo

Quanto cabe de conforto e gosto de infância e adolescência quando o assunto é festa junina? O que dizer do aroma clássico do quentão, da espiga de milho, do algodão doce ou de um borbulhante caldo verde? E do salsichão, pé de moleque, maçã do amor?

Diogo Senna e suas amigas no colégio Marly Cury. Foto: Arquivo

Leia mais: Festa Junina em Niterói: confira o guia dos arraiás espalhados pela cidade

Memória afetiva

Encontramos em Niterói muitas lembranças afetivas quando falamos dessa época tão esperada do ano. As longas filas do Country Club em Pendotiba não deixam mentir. O que falar do flerte que rolava solto no período da pré-adolescência em escolas como Salesiano, Abel, São Vicente, Assunção? Achar um par era considerada uma missão para alguns. Outros preferiam se dedicar mais à dança.

O ensaio da quadrilha era um momento mágico também. Um tempo de descontração em meio à árdua rotina de estudos.

E os preparativos dos trajes típicos? Os balõezinhos devidamente costurados nas calças jeans. Os lencinhos quadriculados ou vermelhos presos com as caixas de fósforos. As caipiras rodadas que até hoje não saíram de moda.

Diogo sem perder a pose (e a foto) na correria da quadrilha no Marly Cury. Foto: Arquivo

E as pintinhas nas bochechas das meninas feitas com o carinho da mãe ou da irmã mais velha? O chapéu de palha que mais espetava que qualquer outra coisa. O barulho dos estalinhos que remetia a uma manhã no Campo de São Bento?

E a fila do salsichão, da cocada e do pé de moleque? As fichas, muitas fichas de papel que hoje em dia não resistiriam aos ventos fortes? E a sincronia de uma quadrilha bem ensaiada? E o forró? Cultuado até hoje, assim como todas as pequenas lembranças citadas acima.

Culto à tradição

O fato é que a festa junina é uma das poucas da lista de festividades brasileiras que se sustentam pela sua tradição. Ela ganha releituras com a passagem do tempo, naturalmente, mas não se perde pela sua essência e pelo seu propósito.

Essa época do ano é especial para alguns porque é o momento em que as pessoas se permitem a brincadeiras que se destacam pelo contato humano, seja quadrilha, dança, brincadeiras como corrida do saco, jogo das argolas, bingo, pescaria. Não há limite para o lúdico e para a imaginação.

O que chama muita a atenção é que mesmo com todo o avanço da tecnologia, há espaço não só para a preservação, como para a celebração do passado. Pode-se afirmar que a festa junina ocupa um lugar cativo na mente das pessoas que contam os dias para a chegada do mês de junho e poder reencontrar os amigos da escola, se deliciar com comidas típicas dessa época, ou dançar um forró que pode vir acompanhado ainda do samba, sertanejo e até mesmo do rock – como é muito visto atualmente.

– Sempre que chega essa época do ano eu lembro da festa junina da escola que eu estudei, a Miraflores. Eu era dessas que esperava ansiosa pela festa. E não era nem pela comida típica, que normalmente atrai a galera – falo isso e já chegava garantindo um salsichão -, mas sim pela quadrilha. Nossa, como eu gostava de dançar quadrilha! A gente ensaiava durante um tempo para fazer bem bonito no dia da festa. Todas as turmas dançavam, desde o maternal até o 3°ano do ensino médio. E ainda tinha a quadrilha bônus dos ex-alunos, que até os professores entravam! – lembra Letícia Catharino, que agora é engenheira ambiental formada pela UFF.

Letícia fala que não só ela, como muitos outros ex-alunos tinham o costume de continuar frequentando a festa junina. Ela acredita que isso diz muito sobre a escola, que sempre foi um ambiente muito acolhedor.

– Já tem uns anos que eu não vou mais, mas se meu grupo de amigos da escola (somos amigos até hoje!) virasse e falasse “bora?” eu não pensaria duas vezes para dizer “bora!”.

A publicitária Beatriz Mendes lembra dessa época também com muito entusiasmo.

– Sinto muita falta da época de escola em que eu e meus amigos íamos a várias festas juninas juntos. Lembro que eu, meus amigos e meu ex-namorado íamos em todas as festas de Niterói e era muito legal. Sinto falta de estar com eles e da animação da época no geral. Eu adorava a festa do Country (Club)! Era a minha favorita!

A publicitária Bia Mendes à esquerda e seus amigos. Foto: Arquivo

Bia acredita que a festa junina tem se transformado: “Não tem mais aquela animação que eu sentia antigamente. Parece mais um lugar para comer do que para dançar e se divertir “, acrescentou.

Já o engenheiro civil Diogo Senna diz que a primeira lembrança de festa junina que vem à sua mente é da época em que ele tinha em torno de 6 ou 7 anos e estudava no colégio Marly Cury.

Diogo Senna com 6 anos dançando quadrilha no colégio Marly Cury. Foto Arquivo

– Lembro que tinha o “casamento da roça”, no qual a gente “casava” com uma pessoa. Eu casei com uma Luiza que meu pai sempre falava que eu tinha que namorar com ela. Tinha uma dança e as meninas usavam vestido e os meninos aquelas camisas quadriculadas. As comidas que eu mais gostava eram os doces, como pé de moleque, paçoca, maçã do amor, arroz doce e suspiro – lembra.

A origem

O começo da Festa Junina no Brasil remonta ao século XVI. As festas juninas eram tradições muito populares na Península Ibérica (Portugal e Espanha) e, por isso, foram trazidas para cá pelos portugueses durante a colonização.

Quando introduzida no Brasil, a festa era conhecida como Festa Joanina, em referência a São João, mas, ao longo dos anos, teve o nome alterado para Festa Junina, pois a maioria ocorria em junho.

Desde que surgiu, a festa junina carrega um tom religioso devido à celebração dos dias de Santo Antônio (13/06), São João (24/06) e São Pedro (29/06).

O crescimento da festividade aconteceu sobretudo no Nordeste, região que atualmente realiza as maiores festas, mas logo a festa junina conquistou as demais regiões do país.

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