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Proposta de “dividir” o Caio Martins divide moradores de Niterói

Por Redação
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Projeto que pode acabar com o estádio do Caio Martins para a passagem do trânsito está sendo articulado na Alerj
Complexo Esportivo Caio Martins
O cruzamento da Rua Nóbrega pelo campo de futebol inviabilizaria o estádio; moradores questionam uso da área. Foto: arquivo

As audiências promovidas pela Prefeitura de Niterói para “ouvir” os moradores da cidade sobre a legislação de uso do solo  revelaram a existência de uma proposta para “dividir ” em dois o complexo esportivo do Caio Martins, com o cruzamento da Rua Nóbrega através do campo de futebol. Numa parte, ficariam o ginásio e a piscina. A área remanescente do estádio, inviabilizado pela passagem da nova rua, poderia ter outro uso.

O assunto foi apresentado pela Ademi, uma das promotoras das oficinas e a entidade que mais levou gente ao evento que discutiu os planos para a região das praias da baia de Guanabara, que inclui Icaraí, São Francisco e Charitas, realizado na terça-feira 15. Mas também apareceu na audiência pública para tratar do futuro do Caio Martins, realizada pelo governo do estado, dono do complexo esportivo, na quinta-feira, 17. Nesta ocasião, o Secretário estadual de Esporte e Lazer, Rafael Picciani, responsável pela apresentação de um plano de revitalização do Caio Martins, admitiu a intervenção. Mas assegurou que a área não será destinada à construção de um shopping.


Audiência pública no Caio Martins. Foto: Divulgação

Moradores criticaram a proposta, que está sendo articulada na Alerj.  “Vai ser mais carro jogando fumaça na cara da gente”, teme o aposentado José Carlos Pereira Branco, que costuma caminhar nas calçadas do estádio. A prefeitura de Niterói não se manifestou sobre o assunto, que divide a população da cidade.

A proposta das Ademi

A proposta de intervenção no Caio Martins,  com a divisão do complexo esportivo para a passagem do trânsito foi  apresentada publicamente, pela primeira vez, na Oficina Participativa da Lei Urbanística de Niterói que discutiu a região Praias da Baía, realizada na véspera da audiência pública. Teve como porta-voz Jean Pierre Biot, ex-presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi Niterói).

Segundo ele, a Rua Nóbrega, no Jardim Icaraí, poderia ser prolongada para passar pelo meio do Caio Martins até encontrar com a Presidente Backer. Isso é para facilitar o acesso à rua Gastão Gonçalves onde, pela proposta da Ademi, seria construído um túnel para ligar os bairros de Icaraí e São Lourenço. O túnel não foi citado durante a audiência pública do Caio Martins, apenas o desmonte do estádio.

Presidente da Ademi-Niterói, Bruno Serpa Pinto, foi o primeiro a fazer uso do microfone, no encontro promovido pelo governo do estado no Caio Martins.

– Não há interesse do mercado imobiliário em operar no Caio Martins, que tem que ser um equipamento público. Reiteramos o que dissemos na Oficina da Lei Urbanística que é a proposta de retirada dos muros do entorno do Caio Martins e a ligação (rua) que vocês já registraram.

A gestão do estado

A possibilidade de dividir o Caio Martins com a passagem da Rua Nóbrega pelo campo de futebol foi considerada “factível” pelo Secretário estadual de Esporte e Lazer, Rafael Picciani, responsável pela apresentação de um projeto de revitalização do complexo esportivo, abandonado nos últimos anos pela gestão pública. Em audiência realizada na última quinta-feira, no ginásio do complexo esportivo.

Na prática, a divisão inviabiliza a existência do estádio, que já não recebe jogos de futebol e foi cedido durante mais de 20 anos para o Botafogo.  O governo, no entanto, não definiu o que será feito no terreno, uma das poucas áreas livres de prédios em Icaraí.

– Em hipótese alguma, o Caio Martins dará lugar a empreendimento imobiliário. Não terá construção de shopping no Caio Martins. Não teremos um ambiente comercial aqui que adense a região ou tire o equipamento da sua função de oferecer esporte, lazer e cultura – afirmou Picciani, logo na abertura da audiência pública.

Durante a audiência pública foi apresentado um site criado com o objetivo de concentrar as informações relacionadas com as discussões sobre o Caio Martins. Assessor especial do governador do Rio de Janeiro, o ex-vereador de Niterói, Bruno Lessa, explicou que a iniciativa tem como objetivo ampliar a participação popular na discussão a respeito do futuro do complexo esportivo.

Ele informou a data da próxima audiência pública: 26 de setembro, também às 18h, na Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), na rua General Andrade Neves 31, no Centro.

– A discussão sendo feita no Centro mostra que o Caio Martins não pertence a um bairro, mas a toda a cidade – justificou.

Também participaram da composição da mesa da audiência pública: Luiz Vieira, secretário municipal de Administração de Niterói; Gelby Justo, subsecretário estadual; Renato de Paula, presidente da Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj) e Fabiano Gonçalves, vereador de Niterói.

Moradores criticam

Moradora do Pé Pequeno, Maria Rita Oberlaender participou da audiência pública principalmente porque queria se certificar dos planos que estavam sendo feitos para o local:

– O Caio Martins tem que continuar a ser um polo de esporte e lazer para uso da população. Sou contra a abertura dessa rua e muito mais da abertura de um túnel como estão querendo fazer. Também sou contra o aumento do gabarito no Pé Pequeno – disse a neta de Américo Oberlaender, que batiza uma rua em Santa Rosa, e também está atenta às discussões sobre reforma da Lei Urbanística.

O ex-prefeito Godofredo Pinto participou da audiência pública.

O ex-prefeito Godofredo Pinto acompanhou o evento. Ele foi eleito vice-prefeito em 2000. Dois anos depois, assumiu a Prefeitura de Niterói com a candidatura de Jorge Roberto Silveira ao Governo do Estado. Em 2004, foi reeleito prefeito de Niterói, encerrando seu mandato em 2008. Morador da rua Lopes Trovão, em frente ao Campo de São Bento, Godofredo diz que nenhuma intervenção no Caio Martins pode ser adotada sem acordo dos moradores.

– Acho que poderia ser feito um plebiscito para que a população decida – sugeriu.

Nesta sexta-feira, moradores vizinhos ao Caio Martins mostraram receio diante da possibilidade de desmonte do complexo esportivo. A moradora Sandra Vieira disse que é uma das poucas áreas de respiração do bairro, sem o paliteiro de prédios de Icaraí. Ela reclama do abandono da área, mas entende que transformar o lugar numa via de passagem não melhora a vida de ninguém.  

A mesma preocupação foi manifestada por aposentado José Carlos Pereira Branco, que costuma caminhar no entorno do estádio. “Vai ser mais carro jogando fumaça na cara da gente.”

Prefeitura não se manifesta

Embora a Prefeitura de Niterói seja a promotora das oficinas para debate o novo plano de uso do solo da cidade, a apresentação da proposta de intervenção no complexo esportivo do Caio Martins não mereceu nenhum comentário oficial.  O secretário  municipal de Administração de Niterói Luiz Vieira acompanhou a discussão sobre a divisão do estádio em dois e as possibilidades de uso da área do estádio mas não se manifestou.

Representantes da Prefeitura de Niterói também estiveram presentes no encontro promovido pelo governo do estado para discutir o futuro do Caio Martins. A cidade é a maior interessada no resgate da área, do governo do estado, abandonada nos últimos anos. Apesar das manifestações do secretário apoiando a divisão do estado, não houve manifestação da Prefeitura de Niterói.

 

 

 

 

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