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Reclamação constante de professores de alunos de diversas faixas etárias, o uso do celular em salas de aula e durante os intervalos das escolas está perto de ser proibido.
A medida foi aprovada nesta última quarta-feira (30), em votação simbólica, pela Comissão de Educação da Câmara e se aplica a todas as etapas da educação básica, que inclui educação infantil, ensinos fundamental e médio.
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O A Seguir conversou com alguns pais de estudantes de Niterói e com diretores de cursos de pré-vestibular, de escolas e coordenadores para saber a avaliação deles e como a medida pode impactar a longo prazo. Importante ressaltar que a lei não determina punições. Cabe às escolas decidir a melhor maneira de mediar a proibição.
Outro ponto é que o Projeto de Lei foi aprovado pela Comissão de Educação da Câmara, mas ainda precisa passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da própria Câmara e depois vai para o Senado. Como há certo consenso em relação ao tema, a expectativa é que toda a aprovação ocorra ainda em 2024 e o ano letivo de 2025 comece com a proibição em vigor.
O texto aprovado proíbe que crianças da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano) levem o aparelho para a escola. Os alunos dos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e do ensino médio podem levar, mas os celulares terão de ficar guardados.
“A relação da minha filha com o celular é de total dependência. Aqui em casa, meu marido e eu dizemos que o celular dela é o nosso maior inimigo. Ela costuma enviar mensagens para o meu WhatsApp do quarto dela até quando estamos em casa. Na escola, ela foi chamada a atenção e colocada para fora da sala de aula. Ela já teve, inclusive, o celular confiscado até o final da aula”, diz Luiza, que tem uma filha na rede particular de ensino.
Ela afirma que a decisão é muito acertada por trazer benefícios como mais foco e concentração nos estudos e menos ansiedade.
Diz que o celular deve ser utilizado com critério: “Tem o uso educativo do celular, que seria para pesquisa, conversar com amigos que moram em outra cidade ou outro país através de vídeo chamada”, ponderou.
Para Marcos Vinicius, a medida veio tarde: “Eu acho que já deveria ser conversado com seu filho desde quando ele era criança que o celular não deve ser utilizado em sala de aula. Os pais não podem transferir para a escola toda a responsabilidade que eles têm com a educação. Eles têm que cumprir uma regra básica que você tem que determinar”, pontuou.
Marcos diz que seu filho não usa o celular em sala de aula. Quanto ao intervalo, esse ele considera questionável: “É uma fonte de diversão para eles. Mas ao mesmo tempo pelo período que ele passa em sala de aula ser tão curto, eu até incentivaria a ele não usar realmente, porque ele acaba tendo um contato virtual muito grande”, completou.
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Diretora do Colégio GayLussac, em São Francisco, Luiza Sassi diz que a medida é necessária e salutar, já que o uso do celular pelas crianças e jovens é quase que exclusivamente para utilização das redes sociais que é um campo sem lei.
“Não há proteção à criança. Essa medida vai favorecer que as crianças vivenciam relações reais, sem a idealização impostora das redes – onde os corpos, as falas e as intenções são simulacros e não revelam a vida real. As medidas serão benéficas a curto prazo para o restabelecimento da socialização e a longo prazo para a saúde mental”, destacou Luiza.
O GayLussac não permite o uso de celular em sala de aula desde 2005. A diretora afirma que a cada ano a relação de dependência com o celular tem diminuído a faixa etária. Atualmente já é comum ver crianças na primeira infância a partir de 5 e 6 anos usando celular.
Coordenador de segmento dos anos finais do Pensi, Rodrigo Retka afirma que apesar de os benefícios que o celular pode trazer para a escola, ainda se tenta mensurar os problemas que o uso demasiado pode causar a longo prazo.
O coordenador afirma que segundo estudos organizados pela UNESCO, já é possível mensurar o tamanho do impacto negativo quanto ao uso indiscriminado do celular nos jovens, uma vez que afeta sua memória, cognição, intensificando a ansiedade, entre outros
– Alguns países europeus já buscam uma regulamentação maior sobre o uso de redes sociais por jovens. Estar atentos sobre os estudos internacionais e as últimas pesquisas sobre o assunto nos fizeram repensar o uso do celular na escola e, estando em um cenário sem uma regulamentação, buscamos enquanto escola um caminho para balizar nossas ações e restrições.
No Pensi já são adotadas medidas restritivas como um todo dentro da rotina escolar, não apenas em momentos de proximidade de exames ou avaliações importantes.
– Promovemos o debate e a conscientização cotidiana com os nossos alunos para que o celular possa ser um aliado aos estudos e não um distrator ou um elemento que possa atrapalhar. A dependência do uso do celular é generalizada. Crianças e adultos estão expostos o tempo todo aos estímulos e dopamina rápida que os aparelhos podem oferecer e por estarem em nosso bolso o tempo todo, o celular acaba sendo um refúgio rápido da realidade – afirmou Rodrigo.
Para a diretora do Colégio e Curso PB, Valma Barbosa, a proibição do uso de celular na escola traz novamente o trabalho de pesquisas em biblioteca, como, por exemplo, fazer as anotações e não tirar uma foto do quadro, traz mais foco e direcionamento sem tantas distrações não só com o próprio aparelho, como também com os outros amigos utilizando o smartphone.
– Teremos um aluno mais crítico e consciente do seu processo de aprendizagem. Quando eles precisam de mais foco para resolver as questões e até se frustrar com as mais difíceis, percebemos como perdem o raciocínio com uma notificação, com uma curiosidade ou com uma resposta rápida. O aluno sequer desenvolve a resiliência necessária para evoluir cada vez mais em sua jornada escolar.
No PB, os alunos deixam os seus aparelhos em outro local durante todo o período que estão em aula, estudo ou recreio. As dúvidas costumam ser tiradas com os professores, monitores e que utilizam bastante a biblioteca.
– Automaticamente percebemos o aumento do foco e, em consequência, um ambiente mais silencioso e de concentração. Tudo isso reflete em alunos mais independentes, autoconfiantes e com resultados cada vez melhores – destacou.
Naun Faul, diretor pedagógico do curso de pré-vestibular Skued, segue a mesma linha. Ele acredita que o uso inadequado pode ser muito prejudicial pela maior tendência a dispersão, a menor capacidade de concentração e também diminuindo a interação dos alunos nos intervalos.
– Por outro lado, o uso pedagógico supervisionado, como está previsto no projeto, pode ser interessante. A questão é como esse uso é feito. Se ele é desmedido e descontrolado, é bastante prejudicial. Aqui no curso já fazemos uma conscientização sobre a não utilização nas salas de aula e, fora das aulas, o uso deve ser de forma produtiva.
Naun fala da importância de ter outros braços de apoio, como a monitoria online, uma plataforma digital para acessar os conteúdos para fins acadêmicos.
– Tudo tem a ver com o uso que se faz da tecnologia em termos de extensão e qualidade, por quanto tempo se faz o uso do celular e sua finalidade pedagógica.
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