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A pandemia não acabou. Essa é uma frase que especialistas têm reiterado para a população. Mesmo com a vacinação completa, o risco de se contrair Covid não acabou denitivamente. Portanto, uso de máscara, evitar aglomeração e ambientes fechados, com pouca ventilação são protocolos que ainda devem ser seguidos à risca. A comunidade científica afirma que os próximos meses serão decisivos para termos evidências mais robustas da necessidade da terceira dose de vacinação, seja para determinados grupos, além dos idosos, ou para toda a população.
Em entrevista ao A Seguir: Niterói, o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Diego Xavier esclarece as principais dúvidas do cenário atual. Para o especialista, o retorno deve ser cauteloso, sendo necessário bastante planejamento. Locais fechados e com pouca ventilação, só de máscara. Aglomerações devem ser evitadas e apenas em ambientes abertos a máscara pode ser tornada opcional. Todos os indicadores devem ser monitorados em conjunto com uma ampla rede de testagem. O esquema vacinal completo é fundamental para reduzir a transmissibilidade e o desenvolvimento de casos graves da Covid, mas não garante a proteção completa ao vírus. Por isso, a importância da manutenção dos cuidados.
– A gente precisa tomar muito cuidado com alguns eventos que estão sendo retomados, principalmente em locais fechados, e adotar o uso de máscara culturalmente. A gente precisa aprender a conviver com o vírus. A situação é essa. Tem uma doença que não vai embora porque a gente está cansado. O uso de máscara, mesmo em locais abertos, continua sendo recomendado, independente do percentual de vacinados – reforçou.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
A Seguir: Niterói: Muito se fala em imunidade rebanho. Qual porcentagem você acredita que seja necessário para a flexibilização do uso de máscara em lugares abertos sem aglomeração? E em locais fechados?
Diego Xavier: Quando a gente começou o processo da vacinação acreditava-se que com cerca de 70 a 80% da população vacinada a gente iria adquirir uma imunidade coletiva, mas isso foi mudando. A gente sabe que algumas variantes apresentam um comportamento de contágio diferente e esse percentual também muda. Estamos iniciando agora o processo de vacinação para as crianças acima dos 12 anos. Ainda estamos testando vacina para mais jovens, então fica difícil estimar o percentual. A gente tem que vacinar o maior número de pessoas possível. E com o ciclo vacinal completo.
Um levantamento preliminar da semana passada da Fiocruz da Bahia estava apontando que cerca de 14 milhões de pessoas não tinham voltado para tomar a segunda dose. Claro que temos um atraso no registro, mas de qualquer modo, é muita gente que não está fazendo a imunização completa. Isso compromete todo mundo. A gente precisa de campanhas mais específicas, uma busca ativa dessas pessoas que não estão se vacinando para não ter um aumento no contágio com as festas de fim de ano.
Qual sua opinião sobre a retomada de eventos como o carnaval, por exemplo? É precoce esse tipo de celebração?
A gente precisa tomar muito cuidado com alguns eventos que estão sendo retomados, principalmente em locais fechados, e adotar o uso da máscara culturalmente. A gente precisa aprender a conviver com o vírus. A situação é essa. Tem uma doença que não vai embora porque a gente está cansado. O uso de máscara, mesmo em locais abertos, continua sendo recomendado, independente do percentual de vacinados. Essas situações de risco devem ser evitadas. Ficar em um local fechado, sem ventilação e sem a máscara aumenta muito o risco de contrair a doença, mesmo que já esteja vacinado. A vacina evita os casos graves e óbitos, mas não impede o risco de contrair a doença, apenas o reduz.
A chance da transmissão de uma pessoa não vacinada é muito maior do que de uma vacinada. Por isso, as restrições de acesso a um local para uma pessoa não vacinada é acertada, porque o potencial de disseminação dela é muito maior.
Essa sequência de eventos que vamos ter no fim do ano facilita muito a disseminação do vírus. A gente viu isso ano passado e está vendo esse ano na Europa. O pós-verão deles está sendo de aumento de casos em alguns países e também de óbitos. Porque quanto mais casos, maior a probabilidade de óbitos. A gente precisa monitorar, acompanhar os indicadores e aumentar a cobertura vacinal. E se eventualmente a gente precisar retroceder, os gestores precisam tomar essas decisões que podem ser difíceis, mas que cabem a eles.
Há quem fale da pandemia dos não vacinados. Você acredita que há chances de surgir uma nova variante ou ter um repique da doença?
A chance de que apareça uma nova variante sempre existe. Enquanto o vírus está se transmitindo, existe a chance de que se tenha uma mutação e eventualmente apareça uma nova variante. Ainda bem que a gente tem a vacina porque se a gente for comparar o que aconteceu aqui no Brasil com a variante Gama no momento que a gente não tinha vacina – e é uma variante de potencial infeccioso menor que a Delta – a gente vê que a vacina é eficaz, porque mesmo com a Delta circulando, ainda há redução de casos e óbitos. Mas se a gente continuar fazendo o vírus circular de forma acelerada, a chance de que apareça uma nova variante passa a ser ainda maior. É importante lembrar que a doença continua circulando, mesmo em números menores. Mas, se a gente controla casos, a gente controla a pandemia. Precisamos evitar situações de risco.
Como você analisa a situação atual da taxa de transmissibilidade? É seguro frequentar restaurantes fechados, cinemas, shows, com o esquema vacinal completo?
Mesmo com o esquema vacinal completo, há um risco muito pior em pegar a doença em ambientes fechados do que em abertos. O uso de máscara em ambiente aberto sem aglomeração pode ser até relativizado, desde que a pessoa não esteja apresentando nenhum sintoma. É importante que ela use a máscara mesmo em ambiente aberto se apresentar algum sintoma para evitar a transmissão. O vírus não vai embora. Precisamos aprender a conviver com o problema.
Em cinemas, shows, ambientes fechados, de modo geral, é muito recomendado que a gente tenha limitação de espectadores. E, para frequentar esse tipo de ambiente, é importante usar a máscara.
Você acredita que a vacina contra Covid será anual? A população jovem precisará tomar a terceira dose?
Quando a vacina vai para a população, que a gente chama de fase 4 do teste da vacina, às vezes os resultados não são iguais aos observados no laboratório. Ainda não é possível prever por quanto tempo essa imunidade da vacina vai durar, até porque não deu tempo para analisar com solidez. Essas vacinas vão completar um ano que começaram a ser utilizadas. Mas alguns estudos têm apontado uma média de seis a oito meses de imunidade conferida pela vacinação, mas ainda precisamos de tempo para avaliar isso. Para parte da população, como idosos por exemplo, a gente observou que alguns imunizantes necessitam da terceira dose.
Com o tempo, a gente vai avaliar se será necessário também aplicar esse reforço para os jovens. O Brasil tem uma grande vantagem por conta do Plano Nacional de Imunização de fazer tudo de forma muito rápida. Se a gente se planejar, continuar acompanhando, a gente consegue fazer isso. Mas é necessário planejamento estratégico.
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