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A inauguração da Ponte, em 4 de março de 1974

Por Orivaldo Perin
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Jornalista Orivaldo Perin revive o clima da inauguração da Ponte, o maior símbolo do Milagre Brasileiro
inauguração ponte - medici ministro de transporte
Ponte foi a obra mais emblemática do milagre brasileiro, durante o Regime Militar. Foto: arquivo

No dia 4 de março de 1974, o presidente da República, general Emílio Garrastazu Médici, cruzou a Ponte Rio-Niterói num Rolls Royce, acompanhado do Ministro dos transportes, coronel Mário Andreazza, para inaugurar a maior obra de engenharia do Brasil. O jornalista Orivaldo Perin, morador de Niterói, cidade onde escolheu viver, estava entre repórteres que cobriram o evento. Trabalhava no Jornal do Brasil, então, o mais relevante veículo de imprensa do país.

A pedido do A Seguir Niterói, Perin aceitou revisitar aquele momento da história. Como bom repórter, com passagens pelo Globo, Diário de São Paulo e Folha de São Paulo, entre outros, reviu anotações, fez algumas pesquisas e afinal entregou o texto, sem atrasar o fechamento.

Teve o cuidado de apresentar a matéria, obedecendo o formato das antigas laudas de redação, que reservam espaço para informar, a data, o nome do repórter e o assunto. Inauguração da Ponte Rio-Niterói, 4 de março de 1974, Orivaldo Perin.

A Inauguração

O presidente da República, general Emílio Garrastazu, Médici inaugurou ontem (4 de março de 1974) a maior realização do governo dos militares que estão no poder desde o golpe de março de 1964. Apesar da grandiosidade da obra – uma ponte de 13 quilômetros sobre as águas da baía de Guanabara -, a cerimônia foi simples e rápida.

Reuniu cerca de 10 mil pessoas na praça do pedágio e durou pouco mais de meia hora, começando por volta das 8h50, quando Médici desatou uma fita simbólica no acesso do lado carioca e embarcou em seguida com seu ministro dos Transportes, coronel Mário David Andreazza num Rolls Royce em direção a Niterói, onde a comitiva presidencial chegou por volta das 9h20.

Hino nacional, hasteamento da bandeira do Brasil, descerramentos de placa e de fita precederam o único discurso da festa, a cargo do ministro dos Transportes.

Durante 15 minutos o orador enalteceu o governo militar, chegou a pedir um minuto de silêncio pelos operários mortos durante a obra – oficialmente seriam 33 – e concluiu sua fala afirmando que “a ponte encerra uma mensagem de confiança no futuro. Que as gerações que hão de vir sejam dignas dela”, afirmou Andreazza, maior incentivador do projeto de ligação entre Rio e Niterói, algo que começou a ser sonhado por D. Pedro II, ainda no Império.

No cenário da festa formou-se um gigantesco estacionamento de carros oficiais, meio de transporte das autoridades e das equipes de apoio.

Entre os presentes, estavam os governadores da Guanabara (Chagas Freitas) e do Rio de Janeiro (Raimundo Padilha); oito ministros, entre eles Delfim Netto, da Fazenda e Alfredo Buzaid, da Justiça; o embaixador da Inglaterra, Derek Dodson; o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, D. Eugenio Salles; a primeira dama Scylla Médici e D. Iolanda Costa e Silva, viúva do ex-presidente, na companhia de três netos.

Sob a vigilância rigorosa dos seguranças da presidência, a imprensa foi confinada num cercado junto à mureta lateral da praça do pedágio, a cerca de 50 metros do ponto onde Médici desfez o nó da fita inaugural. A segurança do evento contou também com agentes em barcos nas águas da baía e com a interrupção dos voos nos aeroportos do Galeão e Santos Dumont por cerca de uma hora.

O primeiro engarrafamento

Pouco depois das 10h a ponte estava, enfim, à disposição dos moradores do Rio e Niterói, depois de seis anos de obras. Porém, o tráfego entre as duas cidades não foi aberto por carros , mas pela multidão que compareceu ao evento.

Assim que a comitiva presidencial deixou a praça do pedágio, Médici partiu para o Rio Grande do Sul e milhares de pessoas romperam cordões de isolamento e partiram a pé rumo ao Rio. Se não fossem contidas pela PM e por seguranças da Marinha na altura da ilha de Mocanguê, atingiriam o Rio.

(O general Médici inaugurou a ponte 11 dias antes de passar a faixa presidencial a Ernesto Geisel, o quarto general a comandar o país nos últimos dez anos.)

O programa de inauguração contou ainda com um missa campal, na praça do pedágio, rezada ao anoitecer pelo frei Anselmo Fracasso, do Mosteiro de Santo Antonio. Andreazza e auxiliares estiveram presentes.

A cerimônia reverenciou os operários mortos na obra. Após a missa os carros puderam, enfim, estrear na ponte. Formou-se um congestionamento histórico, que começou por volta das 20h e entrou noite adentro.

A ponte será aberta oficialmente ao tráfego às 6h de hoje (5 de março de 1974), encurtando em 100 quilômetros a viagem para o Norte fluminense e permitindo velocidade de 100 Km/h no trecho sobre as águas.

O sistema de segurança inclui anemômetros, aparelhos que medem a velocidade dos ventos, e iluminação especial no trecho do vão central em respeito às recomendações do controle de tráfego aéreo do aeroporto Santos Dumont.

Hovermarines

O transporte de passageiros entre as praças 15 e Araribóia não sofrerá impacto imediato com a abertura da ponte. A estatal STBG (Serviço de Transportes da Baía de Guanabara) já adiantou que a concorrência chegará no próximo mês, com a inauguração das linhas de ônibus entre Niterói, São Gonçalo e o Rio.

Pelas barcas entre o Rio e Niterói viajam diariamente cerca de 100 mil passageiros. A travessia marítima pode ser feita também por aerobarcos, da Transtur e contará no próximo mês com um serviço de hovermarines, da STBG, capazes de ligar Rio e Niterói em cinco minutos.

O fim das barcaças

A festa na praça do pedágio significou o fim de um serviço histórico para cariocas e fluminenses.

Estão saindo de circulação as barcaças que por décadas transportaram veículos entre Rio e Niterói, notadamente às sextas-feiras, quando aumentavam em duas ou três horas o tempo de viagem para quem, a caminho da Região dos Lagos, preferia a travessia marítima em vez de encarar o precário e cansativo trajeto rodoviário ao redor da baía, via Magé.

As barcaças operavam em pontes de embarcação na Praça 15 e no centro de Niterói. O trajeto demorava, em média, uma hora, a cargo de duas empresas, a STBG e a Valda, esta também conhecida como Cantareira.

A STBG encerrou ontem a operação noturna. As duas empresas operavam, juntas, nove embarcações ao todo, com saídas a cada meia hora.

A Valda promete funcionar por mais alguns dias, em intervalos de até 90 minutos. A STBG também vai parar em breve. O destino das barcaças deverá ser a Amazônia.

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