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Pesquisa da UFF mostra que redes de apoio ajudam mulheres a furarem a bolha masculina do Rock

Por Redação
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Gênero musical celebrado em 13 de julho ainda é associado à masculinidade branca e ideia de violência e agressividade, diz o estudo
grupo de rock feminino
Projeto Hi Hat ensina bateria para meninas. Foto: Beatriz Medeiros

Quando o assunto é rock, equidade de gênero é uma nota dissonante. Masculinidade branca e ideia de violência e agressividade são imagens comumente associadas ao estilo musical. Porém, as mulheres estão ocupando, cada vez mais, espaço nesse ambiente graças à criação de redes de apoio.

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Essa é uma das conclusões de um estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF) feito pela doutoranda Beatriz Medeiros com o objetivo de discutir essa construção cultural e histórica de “espaços incomuns” para mulheres na indústria musical brasileira, “a fim de entender como se forma esse cenário e de que maneira organizações têm se movimentado contra a discriminação no meio.”

– Não é comum termos mulheres bateristas, mulheres no comando dos grupos, festivais em que a maioria das bandas é compostas por mulheres musicistas. Outra conclusão importante foi que as redes [organizações de mulheres na música] são muito importantes para a entrada e manutenção das mulheres na indústria musical, mas elas por si só não são suficientes, afirmou a pesquisadora.

Ela afirma que, apesar da origem do gênero ser comumente atrelada a nomes masculinos, como Chuck Berry, Elvis Presley e Little Richard, mulheres também tiveram relevância na história do rock ‘n’ roll, “para além do papel que permeia o imaginário social de fãs enlouquecidas e apaixonadas pelos integrantes das bandas”.

Beatriz começou a estudar a cena do rock em 2013. Ela observa que, ao analisar para o heavy metal, o que percebeu foi uma “hipervalorização do que é europeu: a masculinidade branca se faz muito presente, traz à tona a ideia de violência, agressividade”:

– Essas questões acabam criando uma barreira para pessoas não homens e não brancas. Porém, atualmente, percebo que existe uma mudança muito grande também por conta dessas redes de apoio femininas. De mulheres e meninas descobrindo que elas podem tocar se quiserem e como quiserem. Vem acontecendo uma movimentação, um câmbio realizado por mulheres que sempre estiveram ali, dentro desse cenário. A presença feminina sempre existiu, o que muda é a função delas no rock.

Para chegar a essas conclusões, Beatriz aplicou diferentes metodologias em várias etapas da pesquisa. Primeiro, esteve presente em festivais de rock underground — vertente do gênero referente a um grupo de musicistas que não se preocupa em seguir padrões comerciais e modismos, e geralmente não está na mídia —, depois frequentou algumas redes e coletivos femininos de rock.

Com a pandemia do Coronavírus, ela passou a fazer pesquisas online. Seu ponto de partida foi uma enquete com 48 mulheres instrumentistas. Em seguida, aplicou entrevistas de profundidade (in-depth), método que consiste na coleta de dados com poucas pessoas, mas de forma profunda e constante.

A pesquisadora explicou que, por meio de entrevistas longas com mulheres e duas pessoas não binárias, foi feito um mapeamento on-line de projetos e análise de perfis em plataformas de redes sociais. Nesse momento, a investigação categorizou quatro tipos de redes interessadas em resolver os problemas de desigualdade gênero no setor musical: criativa, relacional, educacional e informativa.

De acordo com Beatriz, todas essas redes retratam estruturas e funcionamentos diferentes, mas têm objetivos semelhantes: oferecer mais visibilidade a musicistas, criar conexões e engajamento, construir uma representação feminina no setor musical e incentivar mulheres e pessoas não binárias a aprender e criar música.

– Esses são os caminhos a serem seguidos para o desmantelamento dos espaços incomuns na música. Existe um esforço feminino para criar redes de apoio e ocupar espaços incomuns na música, para que se chegue o mais perto possível do que seria uma equidade de gênero no universo musical do rock.

Fonte: UFF

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