5 de dezembro

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Publicado

Pela segunda vez, músico da Orquestra da Grota é detido pela polícia por engano

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Dois anos depois de ter sido preso injustamente, Luiz Carlos Justino teve que provar, mais uma vez, não ser o destinatário de um madado de prisão
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Com a camisa do seu time de futebol, Luiz Carlos Justino se apresentou nesta quarta-feira (24), em Icaraí. Foto: Divulgação Orquestra da Grota

Como faz praticamente todos os dias, o violoncelista Luiz Carlos Justino passou a manhã desta quarta-feira (24), em um trecho da Rua Ator Paulo Gustavo, tocando ao lado dos seus companheiros da Orquestra Pop. A normalidade, porém, era aparente. A todo momento, ele interrompia sua apresentação para receber carinho e solidariedade das pessoas que passavam pelo local. Pouco menos de 72 horas antes, ele fora detido por policiais e levado para a delegacia – um déjà vu do que lhe ocorreu há quase dois anos e pelo mesmo motivo: um engano judiciário.

Integrante da Orquestra da Grota, ele foi na última segunda-feira (22) com amigos músicos da orquestra jogar uma partida de futebol. Estavam todos eufóricos depois da apresentação que fizeram no dia anterior, no Museu de Arte Contemporânea  (MAC) de Niterói, em comemoração aos 27 anos da Orquestra.

Ele e outros quatro amigos voltavam de carro de Charitas para o Largo da Batalha quando foram parados em uma blitz. Tiveram que descer do veículo e encostar as mãos no capô enquanto os policiais conferiam os documentos.

– Foi exatamente como da outra vez. O policial olhava para o celular e para a minha cara. E me conduziu para a delegacia. Tentei explicar, dizer quem eu era, mas não adiantou. Na delegacia, não me deixaram dar um telefonema – relatou Luiz Carlos a amigos.

Dessa vez, ele ficou detido por cerca de 30 minutos na 79ª DP (Charitas). Da outra vez, foram quatro dias preso, em dois presídios diferentes. Naquela época, ele foi “reconhecido” em um livro de fotografias na mesma 79ª DP como sendo um jovem que teria praticado um assalto a mão armada. Foi com muita dificuldade e com a ajuda de advogados que ele conseguiu provar que, no mesmo dia e horário do crime, ele estava tocando em um estabelecimento na região oceânica de Niterói.

Naquela época, havia um mandado de prisão em aberto para esse assaltante que a polícia julgou ser Luiz Carlos. Na segunda-feira passada, esse mandado continuava constando no cadastro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e os policiais mais uma vez julgaram se tratar de um caso que envolvia o músico.

– Eu tive, de novo, que comprovar que não sou um bandido, que não sou um vagabundo. E aconteceu comigo, de novo, a mesma coisa, agora, que eu estava me recuperando. É muito revoltante. Se não tivesse gente me ajudando, eu estaria preso de novo – relatou Luiz Carlos, em um vídeo que postou no seu perfil do Instagram.

O futebol fazia parte da recuperação a que se referiu. Depois da prisão, o músico entrou em depressão e passou a ter medo de sair à rua sozinho. Com auxílio psicológico, aos poucos, retomava suas antigas atividades. Há duas semanas, tinha voltado a jogar futebol com os amigos.

Antes desta segunda detenção, ele já tinha afirmado para amigos que sente medo de sair sozinho com a filha de seis anos porque acha que pode ser preso a qualquer momento, do nada, só por andar na rua.

– Passei por uma coisa que eu sempre estudei para não passar e por duas vezes! Por duas vezes tive que mostrar que não sou o não sei o que eles acham que eu sou – afirmou, ainda, no vídeo.

Aos 25 anos, Luiz Carlos ingressou na Orquestra da Grota com 6 anos. É com músicos de lá que formou a Orquestra Pop para apresentações em diversos eventos, inclusive, na rua de Icaraí, onde o grupo já é conhecido.

Até a prisão, ele morava na comunidade da Grota. Depois, se mudou para o Largo da Batalha. No vídeo que postou, Luiz Carlos fala de forma calma, mas contundente:

– Todos deveriam ter o direito de ir e vir, de poder sair de casa, de se divertir. Mas algumas pessoas são proibidas só por causa da nossa cor – disse ele, enquanto apontava para seu braço.

Agora, amigos estão “de olho” em Luiz Carlos para conferir se a volta à rotina, desta vez, está sendo feita sem sequelas. Há quem acredite que ele ainda não teve tempo para processar tudo o que voltou a lhe ocorrer. No próximo dia 4, a Orquestra da Grota vai se apresentar outra vez, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Com Luiz Carlos entre seus integrantes, portando sua única arma: o talento de tocar violoncelo.

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