Pedalar por Niterói: liberdade e desafios com o sistema de bicicletas NitBike

“A sensação é de liberdade. A paisagem da cidade ajuda. Mas de repente a buzina de um carro mais apressado lembra que no percurso da bicicleta não cabe distração.” O relato é da repórter Júlia Araújo, que percorreu pontos de retirada da NitBike para fazer alguns dos roteiros que o morador da cidade tem adotado, a lazer ou a trabalho. Veja a reportagem:

Vou de bike

Postos de retirada da bicicleta compartilhada fazendo sua retirada na Rua Ator Paulo Gustavo, na estação 36  Foto: Júlia Araujo

O circuito de bicicletas gratuitas de Niterói disponibiliza 600 bicicletas para os usuários utilizarem como preferirem. São pontos distribuídos pela cidade, em bairros como São Domingos, Ingá, Icaraí, Boa Viagem, Gragoatá, Centro, Barreto, entre outros. Basta você ter o aplicativo NitBike baixado em seu celular e fazer seu cadastro para usar o serviço como quiser. O sistema disponibiliza o uso para uma hora, sem limites diários, tendo que ter apenas 15 minutos de intervalo entre cada retirada. Se você ultrapassar o limite de uma hora por passeio, o sistema cobrará uma tarifa de R$ 8,00. 

Para entender melhor a experiência dos usuários, conversei com algumas pessoas que utilizam a NitBike como meio de transporte em Niterói. Julia Barbosa, de 22 anos e moradora de Icaraí, usa a bicicleta principalmente para ir à academia e ao trabalho. Ela destaca a praticidade do sistema, especialmente em trajetos como o que faz da sua casa até as barcas, substituindo o ônibus, que enfrenta grandes congestionamentos, especialmente no horário de pico. “Eu demoro o mesmo tempo de bicicleta que de ônibus, mas é bem mais prazeroso”, afirma Julia. 

No entanto, Julia também aponta alguns desafios, como a instabilidade nas estações e problemas com bicicletas danificadas. Ela conta que, em uma das vezes, pegou uma bicicleta com defeito no freio. “O sistema é muito bom, mas falta sinalização e mais segurança para os ciclistas”, comenta. Para ela, a manutenção constante das bicicletas e a melhoria da infraestrutura de trânsito são essenciais para o sucesso do programa. 

Apesar dessas dificuldades, Julia considera o projeto da NitBike como uma excelente iniciativa de mobilidade urbana, que contribui para o meio ambiente e promove a inclusão. “Eu estou pensando até em comprar uma bicicleta, porque o hábito de pedalar tem sido tão benéfico para mim”, diz, destacando a gratuidade e a acessibilidade do sistema como pontos positivos. 

A trabalho ou a passeio

Breno Samel, 23 anos, também morador de Icaraí, se vale das bicicletas gratuitas principalmente para substituir o transporte público no seu dia a dia, especialmente no trajeto entre sua casa e o Centro. Ele destaca a ciclovia que vai até as barcas como uma das melhores opções, por ser separada da rua, o que proporciona mais segurança para os ciclistas.

“A ciclovia perto da minha casa vai até as barcas e eu acho ela bem tranquila. Ela é cercada, segura, diferente das ruas onde a gente tem que andar por faixa pintada no chão, que é bem mais arriscado.” Para Breno, o fato de ser de graça e o tempo de deslocamento ser semelhante ao do ônibus torna o uso da bicicleta uma opção atraente.

No entanto, Breno também alerta para a qualidade das bicicletas, que muitas vezes estão quebradas ou com defeitos, como pedais soltos ou falta de buzina. “As bicicletas não são muito boas, geralmente quando eu pego tem sempre algum defeito. Ou a buzina não funciona, ou o pedal está meio solto. Às vezes é difícil escolher a menos pior”, finaliza.

Já Jullia Santarém, de 23 anos, moradora de Santa Rosa, aproveitou o sistema para um passeio. Ela compartilhou suas impressões sobre o processo de cadastro e aluguel das bicicletas.

“Achei todo o processo de cadastro e aluguel das bikes muito intuitivo. Baixei o aplicativo e fiz o cadastro ali na hora mesmo, não levou mais que cinco minutinhos. Peguei a bicicleta no ponto do Ingá, já no fim da tarde. Estava bem cheio, mas super tranquilo, tinha bicicleta para todos”, comentou.

Jullia aproveitou para fazer um passeio pela orla da praia e desceu até o final, parando em um dos pontos próximos. “O tempo foi ideal para curtir um passeio sem pressa e me divertir”, conclui.

Uma pedalada pela cidade 

Mas, o que realmente significa usar a NitBike no dia a dia de Niterói? Depois de ouvir os pontos de vista de alguns usuários, decidi colocar o sistema à prova e vivenciar o que ele tem a oferecer. Com o aplicativo NitBike baixado e pronto para uso, comecei meu percurso em um dos pontos de retirada em Icaraí, pronta para explorar e entender como funciona na prática.

O processo para retirar e devolver a bicicleta, feito por meio do aplicativo, é simples e rápido. Sem complicações, pude focar no que realmente importava: aproveitar e explorar a cidade por uma perspectiva diferente.

A sensação de liberdade ao pedalar por Niterói foi, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes da experiência. As bicicletas estavam, de modo geral, bem cuidadas, mas é impossível não perceber marcas de uso, que fazem parte de qualquer sistema de compartilhamento. A corrente, por exemplo, estava um pouco frouxa, o que exigiu um pequeno ajuste no início. 

Após pegar a bicicleta, comecei a pedalar pelo calçadão de Icaraí, onde a experiência foi bem tranquila. O trajeto era agradável e fácil de percorrer. Depois, segui pela ciclovia da Roberto Silveira, a mais movimentada da cidade. Me senti segura devido à demarcação clara da via. Porém, os carros nem sempre respeitam os ciclistas, e acabei levando uma buzinada de um motorista. Apesar disso, a bicicleta se mostrou um excelente substituto para o ônibus, especialmente por ser gratuita. 

O sistema de bicicletas gratuitas, definitivamente, tem tudo para fazer cada vez mais parte da vida do morador da cidade – e dos visitantes. É prático, e promove um estilo de vida saudável e ainda contribui para melhorar o meio ambiente. No entanto, também há desafios a serem superados, como a qualidade das bicicletas e a necessidade de mais infraestrutura, como ciclovias seguras. Para aproveitar ao máximo o sistema, é recomendável escolher horários com trânsito mais tranquilo, como o início da manhã ou o final da tarde, e sempre conferir a bicicleta antes de pedalar. A responsabilidade de uso é de todos!