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Há pelo menos 35 anos, Carlos Augusto Freitas, o Guga, veste-se com os trajes de Papai Noel e assume o personagem, na época do Natal, em Niterói. Ator e dramaturgo, ele faz isso por iniciativa própria, para alegrar crianças em escolas ou hospitais. Este ano, não foi diferente. Porém, pela primeira vez, aos 55 anos, ele assumiu, de forma oficial, o papel de Bom Velhinho da cidade, após receber um convite da prefeitura para realizar a tarefa. Isso porque o anterior foi uma das 1.389 vítimas da Covid-19, em 2021, em Niterói.
Como Papai Noel, oficial ou não, Guga coleciona histórias.
– Uma vez, tive que largar o saco de presentes e fugir de um cão. Na época, andava com um fusquinha todo decorado. Não sei como consegui, mas mirei a janela, entrei e saí com o carro cantando pneu. O cachorro ainda conseguiu pegar a sola da minha botina – relembra entre risadas.
Um pouco antes de sair para mais uma de suas empreitadas natalinas, Guga conversou com A Seguir: Niterói.
Confira:
A Seguir: Niterói – Quando e por que surgiu a ideia de se vestir e trabalhar como Papai Noel?
Carlos Augusto Freitas – Há mais de 35 anos atrás, eu já ia a hospitais vestido de médico da alegria, com janelo branco e bolinha vermelha no nariz. Também trabalhava com teatro infantil em hospitais e orfanatos. Dois anos depois do nascimento da minha filha, a sensação de ser pai me fez querer fazer algo mais que pudesse agradecer a Deus por esse presente. Já no primeiro ano de vida dela, decidi me vestir de papai Noel e visitar esses mesmos locais. Foi a melhor ideia que eu já tive na vida. Tenho muito orgulho disso.
A Seguir: Niterói – Como é o dia a dia de quem trabalha caracterizado como o Bom Velhinho?
Carlos Augusto Freitas – Existem vários segmentos possíveis. Tem o Papai Noel beneficente; o que vai às escolas; o do comércio; e o do dia de Natal mesmo, na virada de 24 e 25. É um dia a dia muito desgastante, mas, ao mesmo tempo, prazeroso. Quando abraço uma criança, sinto o pulsar do coraçãozinho dela aceleradíssimo e o brilho em seus olhos, etnão, entendo o quão gratificante é.
A Seguir: Niterói – Em que ocasião te convidaram para ser o personagem, em Niterói?
Carlos Augusto Freitas – O convite foi um susto. O Papai Noel que fazia esse papel na cidade, infelizmente, veio a falecer. Um jornalista fez a reflexão, nas redes sociais, de como seria o Natal de Niterói, deste ano, sem ele. Ainda na mesma postagem, relembrou que os filhos me viram no teatro infantil e que eu tinha um projeto social com a minha esposa, a Casa do Amor, onde fazemos ações sociais com os moradores de rua e entregamos presentes para as crianças. E lançou meu nome na internet.
Para a minha surpresa, muitos comentários concordavam com ele. A ideia pegou corpo e, este ano, estou fazendo oPapai Noel da cidade, além da minha agenda particular e a da Casa do Amor.
A Seguir: Niterói – Como tem sido as atividades este ano?
Carlos Augusto Freitas – Nós passamos por situações horríveis, nesse período todo de pandemia, e sair para a rua vestido como Papai Noel foi gratificante. Com apoio dos órgãos públicos da Cultura, andamos em um carro decorado com iluminação de néon por toda a cidade. A recepção foi incrível e muito significante. Da criança ao idoso, não teve uma pessoa que não me cumprimentasse. Carros parados, gente dirigindo e querendo tirar fotos. O maior presente que já ganhei vestido como o Bom Velhinho.
A Seguir: Niterói – Teve algum momento que considera mais significativo?
Carlos Augusto Freitas – Lembro de um episódio que aconteceu na casa da Marilda Ormy, hoje diretora do Theatro Municipal, mas, na época, dona de um bar. Ela convidou o Papai Noel para a casa dela, em Pendotiva. Quando passei pelo portão, uma criança se assustou quando me viu. Para se defender, abriu a guarita do cão, que veio na minha direção. Tive que largar o saco de presentes e fugir do cão. Na época, andava com um fusquinha todo decorado. Não sei como consegui, mirei a janela, entrei e o carro cantou pneu. O cachorro conseguiu pegar a sola da minha botina. Outra história significativa, esta triste, foi um pedido inusitado que recebi. Uma criança de oito anos me escreveu uma carta para pedir de presente que o pai parasse de agredir a mãe e de beber. Isso foi muito forte pra mim, porque fugiu da minha alçada. Quando recebo um pedido de brinquedo caro, é possível substituí-lo por uma lembrancinha. Como substituir esse pedido? Este não foi um caso isolado, as crianças pedem cada coisa… Meu próximo objetivo é lançar um livro dessas mais de três décadas, nesse trabalho.
A Seguir: Niterói – Como será o seu dia de Natal? Passa com a família ou vai trabalhar?
Carlos Augusto Freitas – Neste ano, já foram mais de 40 agendas entre escolas, hospitais, instituições de caridade e o circuito da Prefeitura. Na noite de Natal, vou para algumas casas em Niterói. São pessoas que já cultivam essa tradição. Minha esposa, filhos e netos entendem e ficam me aguardando. Depois de divertir e realizar o sonho de tantas crianças, volto para mina casa e fico com a minha família.
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