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Conhecido pelo seu ativismo na defesa de cidades mais hospitaleiras para todas as pessoas, em especial as mais humildes, o padre presbiteriano Júlio Lancellotti, da paróquia de São Miguel Arcanjo, da Mooca, em São Paulo, apontou um problema na estrutura urbana de Niterói, que havia muito tempo fazia parte da paisagem e não era discutido: as pedras sob o viaduto do Ponto Cem Réis, que deveriam servir para evitar que pessoas em situação de rua se instalem ali.
Em entrevista ao A Seguir: Niterói, padre Júlio Lancellotti comentou suas ideias para uma cidade mais justa para todas as pessoas, através da hospitalidade no lugar da hostilidade que ela observou na foto que recebera de um seguidor:
– Elas têm um objetivo claro de ser hostil. Não é pra ser enfeite, não é uma intervenção arquitetônica e nem artística.
A Seguir: Niterói Como o senhor ficou sabendo das estruturas sob o viaduto no Ponto Cem Réis.
PADRE JÙLIO LANCELOTTI: São pessoas de vários lugares que me acompanham no instagram e me mandam fotos de coisas que elas percebem como sinais de intervenção hostil pra evitar a presença de moradores de rua. E dizem, isso aqui é a na rua tal, praça tal… e essas informações são importantes, porque é uma rede que se forma informalmente. Também recebi outra de Porto Alegre, em frente à uma agência da Caixa Econômica. A Caixa Econômica mandou remover.
O senhor critica estruturas semelhantes em espaços urbanos. Qual é a função delas e por que elas são tornam a cidade mais hostil?
– Elas têm um objetivo claro de ser hostil. Não é pra ser enfeite, não é uma intervenção arquitetônica e nem artística. E uma coisa que se vê claramente é o aumento da população de rua nas cidades brasileiras, de médio porte, alto porte.
Chamou sua atenção o fato de o espaço ser ao lado de uma igreja?
– Eu acho que, independentemente de ser perto de uma igreja, é grave. A mensagem que passa, porque hoje ficou claro que pedras nesses locais onde as pessoas eventualmente podem se abrigar estão pra evitar, em um momento de aumento das população de rua.
Outra coisa que me incomoda é uma campanha de ‘não dê esmola’, que é quase como uma criminalização da pobreza, e que coloca que a pessoa só está na rua porque recebe esmola, como se a esmole fosse tão rentável. Eu sempre coloco que dar esmola ou não é uma questão individual.
O que poderia ser feito para tornar a cidade menos hostil para essas pessoas que acabam vivendo em lugares precários?
– Eu sei que Niterói, por exemplo, tem um projeto de lei pra retirar essas estruturas. Agora, tem que ficar claro que não estou propondo que as pessoas fiquem na rua, mas que, ao invés de hostilidade, exista hospitalidade. E a hospitalidade não é embaixo do viaduto, mas com políticas de moradia, assistenciais, sociais, de acolhimento.
Estruturas serão removidas
A Secretaria de Urbanismo e Mobilidade retornou o contato, e informou que as áreas mencionadas pelo clérigo estão incluídas em um projeto de requalificação urbana da Alameda Boaventura. A nova proposta para o espaço, hoje sem função social e coberto por pedras, é virar um espaço ajardinado, nos moldes de projetos como as novas praças da TransOceânica e o Boulevard verde na Av. Marquês de Paraná.
A Secretaria, no entanto, não divulgou imagens do projeto nem deu prazo para a remoção dos artefatos, ou informou o destino das pessoas que atualmente ocupam o espaço abaixo do viaduto para se protegerem.
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