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As placas dos carros estacionados em Camboinhas, das mais diversas cidades da Região Metropolitana, mostram que a praia se tornou hoje uma das mais procuradas de Niterói por moradores da cidade e visitantes. A procura explica também o congestionamento permanente que se forma no acesso ao bairro, na estrada para Piratininga, a maior dor de cabeça para quem procura a praia neste verão. Moradores reclamam da “invasão”, embora seja a praia mais “restritiva” ou “menos democrática” da Região Oceânica, sem permitir a entrada de ônibus. Os visitantes reclamam da dificuldade do trânsito.
O movimento se justifica. Camboinhas talvez seja a praia mais “organizada” da orla da cidade, com estacionamento operado pela Prefeitura a R$ 5, quiosques e restaurantes espalhados pelo calçadão e sem a disputa de ambulantes na areia. Moradores e visitantes concordam num ponto: “a praia é linda, a água é limpa e sem muitas ondas e ainda tem um belo por do sol.” Nas últimas temporadas, ganhou ainda uma nova atração, ali do lado, a praia do Sossego, com novo acesso e “selo” ambiental.
Camboinhas é a terceira parada da série de reportagens do A Seguir: Niterói sobre as praias da cidade, depois de Itaipu e Itacoatiara. Originalmente, fazia parte da praia de Itaipu, até que o naufrágio do navio Camboinhas, em 1958, deu nome àquele pedaço de mar. A existência do canal da Lagoa de Itaipu também contribuiu para a divisão, estabelecendo acessos diferentes para as duas praias. A urbanização pela Veplan, nos anos 70, com a construção de um condomínio, fez o resto, consagrou o bairro na vida da cidade. Mas vamos “a la playa”…
Trânsito ruim e difícil acesso
Niterói já teve uma só via até as praias da Região Oceânica, e o trânsito intenso sempre fez parte de um domingo de sol na cidade, especialmente para quem vai para Camboinhas. A esperança de melhora estava depositada em obras de ampliação das vias e na construção do túnel Charitas-Cafubá, porém o tráfego “para-anda-e para” continua sendo motivo de reclamação. O ponto crítico é a rotatória de entrada em Camboinhas, onde centenas de carros disputam a vez de entrar e sair do bairro. O caos no trânsito que se forma na localidade já motivou protestos de moradores.
Desafiador para quem quer curtir a praia, e também para quem trabalha nela. A quiosqueira Marinete Pimentel, 63 anos, está desde 1997 no quiosque 01, o Recanto das Pedras. Ao longo de todos esses anos, seus funcionários, que moravam fora da área nobre de Camboinhas, tinham que descer do 39a em frente à rotatória e pegar um mototaxi na entrada, ou caminhar mil e quinhentos metros até o local de trabalho.
– [Faz falta] com certeza. Andamos de mototáxi e à pé até o ponto de ônibus.
Se um quilômetro e meio parece longe, imagine o trecho de quem trabalha no Quiosque Harmonia, o último da praia. São 2,3 km para ir e voltar do trabalho. Isso pode dar só seis minutos de carro, mas caminhando são 29 minutos.
A motorista Tânia Maria já trabalhou no Recanto das Pedras para Marinete, e se lembra das caminhadas de 1.5km na ida, com o sol ainda nascendo, e na volta, após um dia cansativo, de volta para o ponto de ônibus na Avenida Almirante Tamandaré. Hoje, vai à praia por lazer, com seu carro, e percebe outro problema: “O trânsito dá um nó pra entrar. No trevo, o guarda decide ali quem vai entrar, quem vai para Piratininga. Depois que entra, é tranquilo.”
Vou de Uber
Sem ônibus que deixe próximo e com medo da falta de lugar para estacionar, a solução da agente de turismo Ângela Pereira é dividir um carro por aplicativo com os amigos. Ela diz que Camboinhas é a praia preferida, pela extensão da areia, que permite evitar tumulto e fugir de eventuais caixas de som altas demais.
O problema também é para chegar, com o nó que se forma na rotatória:
– A única questão é o trevo. Mesmo com os guardas, acaba ficando confuso e meio parado as vezes. Geralmente eu vou com uns amigos e vou de carro de aplicativo, então o valor é relativamente tranquilo. Se tivesse um ônibus que entrasse no bairro, seria muito bom, porque facilitaria a locomoção.
Ela elogia a quantidade de serviços por parte dos quiosques, porém percebe que a inflação também alcançou a praia, e fez o preço dos serviços subirem:
– Geralmente eu consumo nos quiosques. Antes, eu usava inclusive a barraca dos quiosques, e com o consumo, o valor dela era abatido. Agora, eu vi que estavam cobrando também o guarda sol, e o valor aumentou. Então eu comprei uma barraca, e consumo no quiosque mesmo.
Agora, sim, a praia
A tranquilidade da praia é o maior atrativo. No canto direito, o acesso se dá pelas cancelas. A praia raramente está lotada nesta primeira parte, que exige uma caminhada maior do carro até a areia. As chuvas e ressacas recentes destruíram algumas das escadas de acesso à praia, o que permite encontrar espaços vazios na areia. Alguns bares também foram fechados, por segurança, com o deslizamento de terra.
O mar calmo, se não chega a ser tão tranquilo quanto em Itaipu, é mais atraente para crianças do que em Piratininga ou Itacoatiara. E atrai muitas famílias. O serviço de quiosques é organizado.
A maior concentração acontece na metade da praia mais próxima do canal. Ali, a via de acesso é bem à beira bar, com uma distância bem menor até a areia. Nestes pontos, a praia fica mais cheia. Na orla, existem restaurantes bem equipados, à beira mar, como nenhuma das outras praias oceânicas oferece. É possível comer com atendimento de restaurante, peixes, carnes e petiscos, com bebida gelada. “Não tem preço”, comentou brincalhão um frequentador, depois de reclamar dos preços com o garçom.
E ainda tem a praia do Sossego
A Praia do Sossego, entre Camboinhas e Piratininga, sempre este onde está, mas nun ca foi tão procurada pelos visitantes, como está acontecendo agora, depois da reforma do acesso e da certificação ambiental recebida da ONU, concedido às praias que cumpram uma série de conceitos de acessibilidade e sustentabilidade e que estejam preparadas para o ecoturismo.
A praia agora tem uma escada de pedra (bioconstrução) de acesso à praia com guarda-corpo e áreas de descanso, mirantes de contemplação acessível a cadeirantes e sistema de infraestrutura verde com jardins de chuva como forma de manejo de águas pluviais. Conta ainda com ducha, banheiro e lava-pés. Vale a visita, se não para o banho de mar, pelo menos para contemplar a vista.
A Praia do Sossego conta ainda com uma plataforma de monitoramento participativo, a Coast Snap, que consiste em utilizar fotos tiradas sempre de um mesmo local para monitorar as praias arenosas. A Prefeitura instalou im suporte para apoio de celular. Basta acoplar o aparelho no suporte e fotografar. Após fazer a imagem, o visitante ou banhista deve publicar a foto em suas redes sociais (Instagram ou Facebook) com a hashtag #CoastSnapSossegoRJ. Após isso, a equipe do projeto, formada por um grupo de geógrafos de universidades do Rio e de Niterói, encontra todas as fotos nas redes e realiza as análises ao longo do tempo.
Na volta para casa, o mesmo sufoco
Se o dia de praia foi maravilhoso, muitas vezes esticada até o por do sol, um dos mais bonitos da cidade, a volta para casa ainda reserva algum “sufoco”: engarrafamento de novo, para sair de Camboinhas… Aí, a queixa vale também para quem sai de Piratininga, o trânsito embola na rotatória.
A Prefeitura aposta em um projeto de remodelação da rotatória para tentar resolver o problema. O projeto foi apresentado nesta sexta-feira (11), e prevê a remodelação e ampliação do atual acesso ao bairro, com a construção de uma rotatória expandida em uma área que já foi desapropriada pelo município. O trabalho deve durar oito meses, e ainda não há data para começar.
Sobre a falta de uma linha de ônibus que passe a rotatória e entre no bairro, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes informou que “não há demanda dos moradores do bairro” para uma linha ali. Apesar das queixas de quem se sente “barrado” na porta, e da dificuldade dos trabalhadores que entram e saem todos os dias, a Secretaria informou que “as únicas manifestações recebidas foram no sentido da manutenção das linhas como estão hoje.” Disse ainda que vai avaliar a realização de “uma consulta pública sobre o assunto, e que caso essa seja uma demanda dos moradores, analisará o pedido.” Não deu prazo nem informou se a consulta será restrita aos moradores do condomínio ou aos moradores da cidade que tem a praia como uma opção de lazer.
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