COMPARTILHE
A Ponte Rio-Niterói completa 50 anos nesta segunda-feira (4), ainda como uma das maiores obras do país, símbolo do Brasil Grande e de um país que construía o futuro. São toneladas de aço, concreto, engenho e arte atravessando a paisagem da Baía de Guanabara para reduzir distâncias e unir pessoas, facilitar os negócios e tornar a vida melhor.
Inaugurada em 1974 pelo Presidente Emílio Garrastazu Médici, que atravessou os seus 13 km num Rolls Royce com pompa real, a Ponte mudou ao longo de todo este tempo.
Como um organismo vivo, se transformou para receber diariamente 150 mil carros por dia, três vezes mais que o previsto inicialmente entre Rio e Niterói, e a ligação de Sul a Norte do Brasil, pela BR 101. Ganhou novas pistas, acessos e saídas, incorporou tecnologias, uma operação eficiente, para que não pare nunca.
Um acidente repercute na vida – e no humor – de milhares de pessoas. Na celebração da data, a concessionária Ecoponte ainda tem novidades para anunciar, como um sistema de cobrança de pedágio que dispensa a parada nas cabines.
A história da Ponte é recheada de acontecimentos marcantes na vida não só dos moradores de Rio e Niterói e do estado do Rio, mas de todo o Brasil.
Um roteiro que começa com planos que vêm do Império, inclui uma visita da Rainha da Inglaterra, foi cenário de acidentes, como o que matou a cantora Maísa, temporais, engarrafamentos, cenas inusitadas, como gente andando de patins, um sobrevoo de asa delta e sexo no vão central… até uma escola de samba inteira passa por ali, a Viradouro, campeã do Carnaval do Rio.
Teve ônibus sequestrado, cenas de faroeste, e um navio abandonado bateu nos pilares para fechar a ponte por mais de três horas. Muita a coisa entre o céu e o mar além da nossa vã filosofia.
Na vida de Niterói, a Ponte é um acontecimento diário. O morador da cidade é o principal usuário da rodovia, que alarga os limites do município para todas as atrações do Rio.
O niteroiense, antes da Ponte, conhecia a Praça XV e o Centro, e um pouco da Zona Sul. Ir de carro para o Rio era um suplício nas longas filas das barcaças Cantareira e Valda.
Com a Ponte, dá para programar o passeio. Praia, jantar, teatro, cinema. Niteroiense adorava ir comer na La Mole ou nas churrascarias da Barra.
Niterói sofreu com isto. Primeiro, porque com a Ponte, acontece finalmente a fusão entre os estados da Guanabara e o antigo estado do Rio.
Veja que a capital já estava em Brasília desde 60 e a fusão só acontece em 75, para dar uma ideia da importância da Ponte. Niterói deixa de ser capital.
Política, negócios e lazer acontecem no Rio. O trabalho empurra um fluxo sempre crescente de pessoas de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Maricá para o outro lado da baía. Cidades dormitório.
A ocupação se degrada, aumentam as desigualdades. Todos os dias, com picos de manhã e, na volta, de noite. Fala-se muito do esvaziamento da cidade, difícil competir com a cidade maravilhosa.
Para o morador do Rio, Niterói não é destino. A ponte é acesso para a região dos Lagos, um caminho, no programa de fim de semana e feriados. Os cariocas não vivem a Ponte diariamente como o niteroiense. Talvez fosse mais preciso rebatizar a Ponte como Niterói-Rio.
Demorou para Niterói recobrar seu rumo e a autoestima. A cidade hoje tem recursos dos royalties da produção do petróleo e exibe o melhor Índice de Desenvolvimento Urbano e renda do estado do Rio.
Atrai visitantes para suas praias e atrações como Museu de Arte Contemporânea – o MAC, a Fortaleza de Santa Cruz e a Boa Viagem, entre outras,
Nos 50 anos da Ponte, o A Seguir Niterói não esconde o lado que ocupa nesta história. E produz uma série de reportagens sobre a história da Ponte, a importância na vida da cidade e do estado e, sobretudo, resgata com os moradores da cidade suas melhores lembranças e histórias desta longa travessia.
Veja a cobertura completa em: https://aseguirniteroi.com.br/especial-50-anos-ponte-rio-niteroi/
Mas comece por aqui. Pela inauguração da Ponte em 4 de março de 1974.
No dia 4 de março de 1974, o presidente da República, general Emílio Garrastazu Médici, cruzou a Ponte Rio-Niterói num Rolls Royce, acompanhado do Ministro dos transportes, coronel Mário Andreazza, para inaugurar a maior obra de engenharia do Brasil. O jornalista Orivaldo Perin, morador de Niterói, cidade onde escolheu viver, estava entre repórteres que cobriram o evento. Trabalhava no Jornal do Brasil, então, o mais relevante veículo de imprensa do país.
A pedido do A Seguir Niterói, Perin aceitou revisitar aquele momento da história. Como bom repórter, com passagens pelo Globo, Diário de São Paulo e Folha de São Paulo, entre outros, reviu anotações, fez algumas pesquisas e afinal entregou o texto, sem atrasar o fechamento.
Teve o cuidado de apresentar a matéria, obedecendo o formato das antigas laudas de redação, que reservam espaço para informar, a data, o nome do repórter e o assunto. Inauguração da Ponte Rio-Niterói, 4 de março de 1974, Orivaldo Perin.
O presidente da República, general Emílio Garrastazu, Médici inaugurou ontem (4 de março de 1974) a maior realização do governo dos militares que estão no poder desde o golpe de março de 1964. Apesar da grandiosidade da obra – uma ponte de 13 quilômetros sobre as águas da baía de Guanabara -, a cerimônia foi simples e rápida.
Reuniu cerca de 10 mil pessoas na praça do pedágio e durou pouco mais de meia hora, começando por volta das 8h50, quando Médici desatou uma fita simbólica no acesso do lado carioca e embarcou em seguida com seu ministro dos Transportes, coronel Mário David Andreazza num Rolls Royce em direção a Niterói, onde a comitiva presidencial chegou por volta das 9h20.
Hino nacional, hasteamento da bandeira do Brasil, descerramentos de placa e de fita precederam o único discurso da festa, a cargo do ministro dos Transportes.
Durante 15 minutos o orador enalteceu o governo militar, chegou a pedir um minuto de silêncio pelos operários mortos durante a obra – oficialmente seriam 33 – e concluiu sua fala afirmando que “a ponte encerra uma mensagem de confiança no futuro. Que as gerações que hão de vir sejam dignas dela”, afirmou Andreazza, maior incentivador do projeto de ligação entre Rio e Niterói, algo que começou a ser sonhado por D. Pedro II, ainda no Império.
No cenário da festa formou-se um gigantesco estacionamento de carros oficiais, meio de transporte das autoridades e das equipes de apoio.
Entre os presentes, estavam os governadores da Guanabara (Chagas Freitas) e do Rio de Janeiro (Raimundo Padilha); oito ministros, entre eles Delfim Netto, da Fazenda e Alfredo Buzaid, da Justiça; o embaixador da Inglaterra, Derek Dodson; o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, D. Eugenio Salles; a primeira dama Scylla Médici e D. Iolanda Costa e Silva, viúva do ex-presidente, na companhia de três netos.
Sob a vigilância rigorosa dos seguranças da presidência, a imprensa foi confinada num cercado junto à mureta lateral da praça do pedágio, a cerca de 50 metros do ponto onde Médici desfez o nó da fita inaugural. A segurança do evento contou também com agentes em barcos nas águas da baía e com a interrupção dos voos nos aeroportos do Galeão e Santos Dumont por cerca de uma hora.
Pouco depois das 10h a ponte estava, enfim, à disposição dos moradores do Rio e Niterói, depois de seis anos de obras. Porém, o tráfego entre as duas cidades não foi aberto por carros , mas pela multidão que compareceu ao evento.
Assim que a comitiva presidencial deixou a praça do pedágio, Médici partiu para o Rio Grande do Sul e milhares de pessoas romperam cordões de isolamento e partiram a pé rumo ao Rio. Se não fossem contidas pela PM e por seguranças da Marinha na altura da ilha de Mocanguê, atingiriam o Rio.
(O general Médici inaugurou a ponte 11 dias antes de passar a faixa presidencial a Ernesto Geisel, o quarto general a comandar o país nos últimos dez anos.)
O programa de inauguração contou ainda com um missa campal, na praça do pedágio, rezada ao anoitecer pelo frei Anselmo Fracasso, do Mosteiro de Santo Antonio. Andreazza e auxiliares estiveram presentes.
A cerimônia reverenciou os operários mortos na obra. Após a missa os carros puderam, enfim, estrear na ponte. Formou-se um congestionamento histórico, que começou por volta das 20h e entrou noite adentro.
A ponte será aberta oficialmente ao tráfego às 6h de hoje (5 de março de 1974), encurtando em 100 quilômetros a viagem para o Norte fluminense e permitindo velocidade de 100 Km/h no trecho sobre as águas.
O sistema de segurança inclui anemômetros, aparelhos que medem a velocidade dos ventos, e iluminação especial no trecho do vão central em respeito às recomendações do controle de tráfego aéreo do aeroporto Santos Dumont.
O transporte de passageiros entre as praças 15 e Araribóia não sofrerá impacto imediato com a abertura da ponte. A estatal STBG (Serviço de Transportes da Baía de Guanabara) já adiantou que a concorrência chegará no próximo mês, com a inauguração das linhas de ônibus entre Niterói, São Gonçalo e o Rio.
Pelas barcas entre o Rio e Niterói viajam diariamente cerca de 100 mil passageiros. A travessia marítima pode ser feita também por aerobarcos, da Transtur e contará no próximo mês com um serviço de hovermarines, da STBG, capazes de ligar Rio e Niterói em cinco minutos.
A festa na praça do pedágio significou o fim de um serviço histórico para cariocas e fluminenses.
Estão saindo de circulação as barcaças que por décadas transportaram veículos entre Rio e Niterói, notadamente às sextas-feiras, quando aumentavam em duas ou três horas o tempo de viagem para quem, a caminho da Região dos Lagos, preferia a travessia marítima em vez de encarar o precário e cansativo trajeto rodoviário ao redor da baía, via Magé.
As barcaças operavam em pontes de embarcação na Praça 15 e no centro de Niterói. O trajeto demorava, em média, uma hora, a cargo de duas empresas, a STBG e a Valda, esta também conhecida como Cantareira.
A STBG encerrou ontem a operação noturna. As duas empresas operavam, juntas, nove embarcações ao todo, com saídas a cada meia hora.
A Valda promete funcionar por mais alguns dias, em intervalos de até 90 minutos. A STBG também vai parar em breve. O destino das barcaças deverá ser a Amazônia.
COMPARTILHE