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Opções de feijoada para se fartar em Niterói

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Queridinho da gastronomia do Rio de Janeiro, o prato é sinônimo de final de semana e ainda mais procurado em dias de temperatura mais amena
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A feijoada do Quilombo do Grotão é servida aos sábados e domingos. Fotos: Divulgação

Na gastronomia  do Rio de Janeiro, um dos sinônimos para “chegou o final de semana” é a feijoada. O prato é sucesso o ano todo, mas é ainda mais consumido quando o tempo esfria um pouquinho. Quem mora em Niterói está muito bem servido de opções para se fartar com essa iguaria que, reza a lenda, foi criada pelos africanos escravizados trazidos para o Brasil. A História, porém, já desmentiu essa versão.

O que é fato inconteste é que uma das melhores feijoadas de Niterói é produzida justamente por descendentes de africanos escravizados, que ainda hoje moram em um quilombo, no Engenho do Mato, em plena Serra da Tiririca.

No Quilombo do Grotão, feijoada ainda rima com roda de samba. O prato é servido nos finais de semana, a partir das 12h30 – algumas horas antes do samba começar. Quem prepara é José Renato Gomes da Costa, o Renatão do Quilombo, neto de Manoel Bonfim, fundador do lugar.

Manoel e sua esposa Maria Vicência, descendentes de escravizados, chegaram em Niterói vindos de Sergipe, na década de 1920, para trabalhar na fazenda que mais tarde daria nome ao bairro. Lá se produzia farinha, banana prata e hortifrutigranjeiros. Nos anos 1950, o negócio faliu e os dois ganharam como indenização um pedaço do terreno e duas mil mudas de banana para recomeçar a vida.

– Na senzala, se comia o feijão com farinha e carnes que iam ser jogadas no lixo pelo senhor de engenho. Com o tempo, o prato foi sendo adaptado e hoje ficou até elitizado – comenta Renatão, de 55 anos.

Foi em 2003 que a feijoada começou a ser servida, no Quilombo. Naquela época, Renatão auxiliava suas irmãs na cozinha. Ele assumiu as panelas em 2018.

Agora, prepara 15 quilos de feijão, por semana, que renderão cerca de 200 pratos. O trabalho começa na quarta-feira, quando as carnes vão para o molho de 24 horas na água fria; depois é a hora do molho na água quente, seguido pelo cozimento só das carnes – a etapa mais trabalhosa, na opinião de Renatão.

A feijoada do Quilombo leva lombo, carne seca, paio, costelinha, orelhe e pé de porco. O sal das carnes, ele vai experimentando ao longo da semana. Aliás, “cuidar do sal” já era sua função quando ainda era apenas um auxiliar das irmãs.

Na hora de fazer o feijão e finalizar o prato, vão oito pessoas da família para dentro da cozinha para ajudar. Até as crianças participam. Calibrar o sal e o tempero  seguem como tarefas de Renatão.

No Quilombo, a feijoada é feita em fogão à lenha.

Ele afirma que a procura pelo prato aumenta um pouco, quando a temperatura esfria. Porém, no Quilombo, mesmo em pleno verão, o lugar está sempre fresquinho, pelo fato de estar no meio da floresta.

Fresquinho para o público, é claro. Porque na cozinha, com o forno à lenha a pleno vapor para fazer a comida, a temperatura é outra.

“Somos heróis por fazer feijoada com calor de 45 graus”, brinca Renatão.

A boa notícia é que, agora, é possível receber a feijoada do Quilombo em casa. O delivery, implantado por conta da pandemia do Coronavírus, se mostrou um sucesso e vai se manter. Quem mora na Região Oceânica de Niterói pode pedir na sexta-feira e no sábado; no domingo, as entregas são feitas em Icaraí e no Fonseca.

 

 

 

Self service

Feijoada também é sinônimo de comida farta. E se tem um lugar em Niterói que as pessoas se fartam até dizer chega é no tradicional restaurante À Mineira, em São Francisco.

Por lá, a feijoada é a atração das sextas-feiras. O preço é fixo e come-se o quanto quiser. As carnes utilizadas são paio, carne seca e costelinha. Porém, tem torresmo e linguiça disponíveis no buffet, bem como todos os itens tradicionais de uma feijoada e mais uma série de opções para o almoço do dia.

– As pessoas misturam de um tudo, na feijoada – comenta Antonia Lúcia,  relações públicas do restaurante.

Segundo ela, a maioria das cerca de 200 pessoas que almoçam no À Mineira, às sextas-feiras, chega, mesmo, em busca da feijoada.

O prato, agora, é o grande sucesso no delivery da casa. Com a vantagem de que está disponível no cardápio todos os dias e não apenas na sexta-feira, como no restaurante. São, pelo menos, cinco pedidos diários de feijoada. Nesse caso, o prato segue em uma embalagem compartimentada contendo linguiça, arroz, farofa, couve, torresmo e o feijão com paio, linguiça e carne seca.

Como no Quilombo, o À Mineira só passou a fazer delivery por conta da pandemia. O sucesso garantiu a manutenção do serviço.

Uma dica preciosa de Antonia: apesar de só ter feijoada, no restaurante, na sexta-feira, todos os dias é possível encontrar, no buffet, o “feijão carregado”,  ou seja, preparado com linguiça, carne seca e pé de porco. Convenhamos, é  praticamente uma feijoada.

Para um

Essa fama de prato para duas ou até três pessoas, da feijoada, já deixou muita gente “solitária” com água na boca. Foi pensando nelas que o Armazém São Jorge, no Jardim Icaraí, lançou a opção para um.

O feijão com as carnes vem no potinho e o restante já montado no prato. A casa tem a opção para dois, também, mas essa versão “solitária” é a que mais tem feito sucesso por lá.

– Lançamos a feijoada há quatro meses. Temos muitos clientes que costumam vir aqui sozinhos, então, resolvemos apostar na feijoada para um. Fizemos vários testes até chegar à quantidade ideal, a que a pessoa fica muito satisfeita e não sobra nada – conta o gerente Victor Chagas.

Feijoada para um, no Armazém São Jorge.

O Armazém serve a feijoada apenas no final de semana. Como o bar é pequeno, bem como sua cozinha, tudo é feito aos poucos, ao longo da semana pelos três cozinheiros: Alan Silva, Rick Célio e Renan Machado. Mas é o “boss” Rogério Silva que dá a palavra final sobre o sal e os temperos. A finalização é feita só na hora de servir.

Semanalmente, a equipe prepara  10 quilos de feijão. E já teve dias de acabar e  deixar clientes na mão. Segundo Victor, o prato fica no cardápio, mesmo quando o calorão voltar. No Armazém, a feijoada também é entregue pelo delivery.

Caseiro

No Restaurante do Pereira, em Santa Rosa, dia de feijoada também é na sexta-feira. Comida mais caseira do que lá, difícil achar em Niterói. O local é literalmente a casa onde mora o casal Eduardo Pereira e  Zorahida Faillace.

Ele pilota o fogão e ela cuida da administração do pequeno negócio, devidamente legalizado. Ambos se revezam para atender os clientes, servidos em mesinhas dispostas na varanda da casa. Zoara também se encarrega de cuidar dos pedidos de delivery.  O casal faz malabarismos para que a comida chegue quentinha na casa das pessoas.

A feijoada do Pereira leva carne seca, costela, lombo e linguiça. Na “quentinha” ainda vai arroz, farofa, couve e torresmo. Semanalmente, ele prepara 5 quilos de feijão. O cheiro vai longe, na travessa onde fica a casa.

– O sal e o tempero ficam por conta dele, mas eu sempre provo e dou a palavra final – diz Zorahida.

O segredo da feijoada que é o carro chefe do cardápio? Pereira não conta, nem para os amigos.

História

Historiadores e especialistas em culinária indicam que pratos como a feijoada, que misturam vários tipos de carnes, legumes e verduras, têm origem milenar. Similares são o cozido, em Portugal; o cassoulet, na França; apaella, à base de arroz, na Espanha; e a casouela e o bollito misto, na Itália.

Em relação ao Brasil, a versão que as carnes pouco nobres do porco eram dadas aos escravos pelos senhores, também é contestada pelos  historiadores. Há quem diga que absolutamente nenhum alimento era desperdiçado por eles, principalmente, um pedaço de carne, fosse ela qual fosse. Assim, os escravos comeriam, se tanto, feijão com farinha.

Há consenso que os portugueses foram os responsáveis por trazer ao Brasil a técnica e a combinação do cozido com carnes, que com o passar do tempo e evolução dos costumes, teve o nosso feijão acrescentado. Ou seja, a “contribuição” brasileira para esse prato, agora, tradicional no país, é o uso do feijão preto.

Cerveja de feijoada

É isso mesmo que você leu. Em 2020, o cervejeiro Bernardo Couto, da marca 2cabeças, fez uma série especial de cervejas, inspirada em comidas. Uma delas foi a feijoada.

O rótulo Feijoada era uma Rauchdoppelmärzen  com 8% de álcool e 30 IBU (teor de amargor). A receita teve como adjuntos feijão preto, arroz, pimenta, sal e malte defumado.

De acordo com o cervejeiro, resultou em uma Lager “complexa, intensa, defumada e levemente salgada”, com a coloração que remete ao prato e um leve toque final de pimenta.

Os outros rótulos dessa série experimental foram Batida de Maracujá, Bolinho com Café, Pudim, Roiz Doce e Apfelstrudel.

Em março passado, Bernardo “completou” a feijoada lançando o rótulo Farofa: uma Rauchweizenbock feita com fécula de mandioca “e uma dose boa do lúpulo Northern Brewer, que traz um perfil mais herbal, emulando a salsinha”.

Na descrição do próprio cervejeiro, Farofa é uma cerveja de trigo alemã escura e potente, com 8%  de teor alcoólico e um toque de malte defumado. Segundo ele, “a mandioca suaviza um pouco o corpo da cerveja, aumentando o drinkability”.

Por serem cervejas experimentais, foram produzidos poucos litros, já esgotados.

Serviço

Quilombo do Grotão: Rua 41, sítio 77 Manoel Bonfim, Serra da Tiririca, Engenho do Mato.

Contato: (21) 99650-2825

 

À Mineira: Av. Quintino Bocaiúva, 353, São Francisco

Telefone: (21) 3611-4150; WhatsApp: (21) 964142138

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Armazém São Jorge: Rua Dr Leandro Motta, 8, Jardim Icaraí

Telefone: (21) 98366-4822

 

Restaurante do Pereira: Travessa Herdy, 16, Santa Rosa

Contatos: 21 96495-9789;  21 97015-6440

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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