11 de dezembro

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Onda recorde de calor: sensação térmica chega a 56º, em Niterói

Por Gabriel Mansur
| aseguirniteroi@gmail.com

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Calor excessivo demanda cuidados específicos com a saúde, principalmente para evitar quadros de insolação
Praia de Itaipu costuma ficar cheia em fins de semana de sol. Foto: leitor
Moradores lotam praia de Itaipu em dia de sol. Foto: leitor

O primeiro fim de semana de fevereiro, marcado especialmente pelo agito pré-carnavalesco, foi de alta temperatura, em Niterói. De acordo com o Centro de Monitoramento e Operações da Defesa Civil, a cidade atingiu uma sensação térmica de 56º, no sábado. Os termômetros também não apontaram refresco: 42º.

Leia mais: É verão!

A meteorologista Cristiane Nascimento, do Alerta Rio, explicou que a sensação costuma ser superior ao número apontado nos termômetros porque é uma variável que quantifica a temperatura que o corpo humano está sentindo de uma forma generalizada.

– Não é uma variável real. É calculada por uma fórmula empírica, ou seja, através de observações. A sensação térmica divulgada e registrada por órgãos de meteorologia é calculada por medidas variáveis meteorológicas. Isso significa que a sensação térmica real varia de pessoa para pessoa – justificou.

Ambas as marcas são recorde para o verão em 2023 e representam o ápice, pelo menos até aqui, de uma sequência de três fins de semana em que o morador da cidade tem experimentado temperaturas cada vez mais sufocantes. E pode piorar: especialistas apontam que novos recordes podem ser estabelecidos até o fim da estação, em 21 de março.

Eles informam que as ondas de calor são causadas por padrões climáticos que produzem uma alta pressão persistente, condições sem nuvens e ventos continentais secos durante o verão. Alegam que as mudanças climáticas estão aumentando as temperaturas porque gases de efeito estufa esquentam a atmosfera, o que seca o solo.

– As altas temperaturas têm sido influenciadas pelo novo posicionamento do sistema de alta pressão. Isso faz com que tenhamos temperaturas altas, associadas à possibilidade de pancadas de chuva rápidas e isoladas ao fim do dia – completou Anselmo Pontes, meteorologista do Sistema Alerta Rio.

O que fazer

Como de praxe, parte dos niteroienses aproveitou o dia de sol e calor entre os blocos de carnaval e as praias da região oceânica, únicas próprias para banho, segundo o boletim de balneabilidade do Instituto Estadual do Ambiente (INEA). Camboinhas, Itacoatiara, Itaipu, Piratininga e Sossego ficaram lotadas.

Outra parte preferiu evitar a fadiga, como diria o carteiro Jaiminho. Optaram, assim, pelo conforto de casa, principalmente onde havia cômodos refrigerados. Esse é o caso de Cecília Carvalho, que ainda comprou umas guloseimas para colocar os seriados em dia.

– Eu já não curto muito ir à praia aos fins de semana, por causa dos engarrafamentos e da lotação. Quando eu vou aos fins de semana, costumo ir bem cedinho, umas 7h, e vou embora às 10h, quando o pessoal começa a chegar. Mas com esse calor, prefiro ficar em casa mesmo. No máximo uma piscina. A água fica mais escura, o sol dá insolação, fora o desânimo de pegar ônibus debaixo desse sol – falou.

Houve também quem tivesse que trabalhar, como o motoboy Jean Lima. Ele relata que, além de queimaduras nos antebraços, que nem sempre estão protegidos, há mais dificuldade para respirar devido ao capacete.

– Calor é uma tortura para quem não conta com o conforto de ambientes refrigerados. Eu sempre chego em casa com insolação, braço e pernas bem avermelhados. Fora a dificuldade que é respirar dentro do capacete, parece que estou na altitude. O ar é escasso. Encontrar medidas para amenizar esse calorão é questão de justiça com os trabalhadores – alegou.

Cuidados com a Saúde

É importante destacar que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), O calor excessivo demanda cuidados específicos com a saúde, principalmente para evitar quadros de insolação e desidratação.

Outro efeitos das altas temperaturas à saúde é o estresse térmico, ou estresse por calor, que pode trazer agravantes. Quando os mecanismos do organismo se tornam insuficientes para controlar a temperatura, aparecem os sintomas desagradáveis.

A vasodilatação exacerbada abaixa a pressão arterial, o que leva à hipotensão, sensação de tontura e cansaço. O excesso de suor também pode levar a sintomas de desidratação, como dores de cabeça, boca e pele secas, tonturas ao levantar ou sentar rápido demais e até desmaios.

Chuvas de verão

Além de ser a estação mais quente do ano, o verão tem outra característica bem conhecida: as chuvas repentinas que, geralmente, caem no fim da tarde. Com o tempo, o fenômeno até ganhou um nome: chuva de verão.

O ar fica mais quente e com capacidade maior para armazenar umidade – isto é, vapor. Nesse calorão, mais água evapora da superfície terrestre. É assim que as nuvens surgem no céu e provocam fortes chuvas.

Chuvas geram alagamentos em Niterói. Foto: Sônia Apolinário

A partir daí, gera um efeito cascata. Em Niterói, devido a falta de mobilidade urbana, as ruas ficam alagadas e geram transtornos. Este último fim de semana, especificamente, causou queda de energia. Até esta segunda, 20% da população ainda estava sem luz, conforme um levantamento da Distribuidora Enel.

Rio 58º

Niterói arde, mas não torra sozinha. De acordo com o Alerta Rio, a sensação térmica bateu os 58°C, no bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste da capital. A menor sensação térmica registrada no sábado foi no Alto da Boa Vista, e esteve longe de ser amena: 40,3ºC, às 13h45.

Observatório do Calor

Participantes de um projeto que une cientistas e voluntários contra as mudanças climáticas provaram que os cariocas também podem sentir o corpo pegar fogo antes mesmo da medição das máximas do verão virarem notícia.

Trata-se do Observatório do Calor, programa de monitoramento e mapeamento urbano com participação popular. O Rio é a primeira cidade do Hemisfério Sul a participar do projeto criado nos Estados Unidos e coordenado na capital pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Geografia do Clima (GeoClima) da UFRJ.

O observatório é fruto de uma parceria com a Administração Atmosférica e Oceânica Nacional dos EUA (Noaa, na sigla em inglês), o Sistema Nacional de Informação Integrada sobre Calor e Saúde dos EUA, além da empresa americana Capa Strategies, que presta consultoria sobre clima urbano e calor extremo.

Com os sensores, os pesquisadores podem captar ínfimas variações associadas a fatores como concentração de pessoas, volume de tráfego, pontos de ônibus, feiras livres, edificações, arborização e características geográficas, como presença de morros e praias.

A coordenadora do programa, Núbia Beray, frisa que mudanças climáticas são uma realidade e metrópoles formam suas próprias bolhas quentes, o que torna o calor extremo em muitos lugares.

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