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A impressão que se tinha ao ver o último debate entre os candidatos ao governo do estado do Rio organizado pela TV Globo era que todos tiveram a orientação do mesmo marqueteiro: o importante era manter o tom de voz calmo, a feição amigável e não perder a linha, não importa a pergunta, diante de acusações graves, de dados distorcidos ou promessas fantasiosas.
Tiro ao alvo
O governador Claudio Castro (PL), que lidera as pesquisas eleitorais, foi o alvo principal dos demais candidatos. Principalmente do seu adversário mais próximo, Marcelo Freixo (PSB), que não perdeu a oportunidade de bater no mesmo ponto a cada intervenção: os cinco últimos governadores do Rio foram presos por corrupção, e Castro é acusado de receber dinheiro de empresários e de ter cinco secretários presos, o último deles o seu ex-secretário de Polícia Civil, Alan Turnowski apontado como integrante de organização criminosa. “O Rio não pode ter mais um governador preso”, apelava Freixo. O escândalo da distribuição de dinheiro na boca do caixa através do Ceperj para cabos eleitorais e até presidiários também apareceu na pauta em vários momentos.
Com boa frente nas pesquisas e uma forte aliança com prefeitos do estado, Claudio Castro não perdeu a pose. Disse que o estado do Rio está melhorando e listou realizações que fez em dois anos de governo, como se não tivesse chegado ao Palácio Guanabara há quatro anos, como vice do ex-governador Wilson Witzel, afastado por denúncias de corrupção. “Parece que vive na ilha da fantasia”, atacou o candidato do PDT, Rodrigo Neves, depois de ouvir uma lista de ações do governo na educação incluindo a reforma de CIEPs, projeto abandonado em quase todo o estado.
Claudio Castro seguiu à risca o tom amigável que procurou imprimir à sua campanha, com a fala macia e olhar plácido, distante do discurso truculento de quem liderou três das maiores chacinas policiais ocorridas na história do estado. Mas deu o troco aos adversários: atacou Freixo na pauta de costumes, por defender a liberação do uso de drogas e sua posição pelo aborto. Deu o recado ao eleitorado evangélico, mesmo tendo subido o tom e provocado um direito de resposta. Não se expôs tanto diante de Rodrigo Neves, mas repetiu o questionamento que já havia usado contra o ex-Prefeito de Niterói, que se apresenta como bom gestor mas não conseguiu resolver os engarrafamentos da cidade.
Rodrigo Neves, em terceiro lugar nas pesquisas, também atacou o candidato Freixo, mirando uma improvável chance de avançar pelo território da esquerda para chegar ao segundo turno. Mas Freixo fugiu das provocações, sem perder de vista a necessidade de alianças no segundo turno: “Não esperava essa agressividade”, retrucou, e em vários momentos lembrou que em muitos momentos da vida pública tiveram alguma afinidade política.
O debate contou ainda com Paulo Ganine, do Novo, que se apoia na experiência do governador de Minas, Zema, para se apresentar com alternativa, entre Bolsonaro e Lula, embora o partido tenha surfado na última eleição na onda bolsonarista. Castro chegou a lembrar que o candidato do presidente era ele.
E algumas propostas…
Apesar da troca de acusações, os candidatos aproveitaram a oportunidade para apresentar suas propostas de governo.
Castro insistiu na ideia de que o estado está melhorando. “Está bom? Não está. Mas estamos no caminho certo.” E falou direto a seus aliados da Baixada Fluminense e do interior do estado prometendo mais recursos para os municípios e a extensão do metrô até Nova Iguaçu.
Rodrigo Neves apresentou propostas para estimular a recuperação da economia, prometeu um programa de renda básica de R$ 500 e disse que vai levar o metrô até Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, tirando do papel a linha 3, projetada há 50 anos. Teve bons momentos, especialmente, na defesa da pauta da educação, resgatando o legado do ex-governador trabalhista Leonel Brizola e seu vice Darcy Ribeiro, criadores dos CIEPS. Prometeu reformar todos os CIEPs e garantir escola o dia inteiro.
Coube a Freixo o discurso mais político. Foi o único dos candidatos a destacar a integração com um projeto nacional, citando o entendimento com o ex-presidente Lula (Neves preferiu falar do apoio do Prefeito do Rio Eduardo Paes do que de Ciro Gomes.). Professor, também baseou seu projeto político na educação. E não se omitiu de tratar com contundência a questão da segurança pública, que está na base de sua trajetória. Mas preferiu se apresentar como a alternativa de um candidato sem ficha policial para evitar o risco de um sexto governador na cadeia.
Ah, e tinha Paulo Ganine…
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