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“O Rio de Janeiro não aguenta mais ser governado por máfias”, diz Freixo

Por Luiz Claudio Latgé
| aseguirniteroi@gmail.com

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Candidato promete forte investimento na Educação: “se estou aqui foi porque tive oportunidade de ensino.”
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Sabatina do A Seguir apresenta aos candidatos ao Palácio Guanabara perguntas do morador de Niterói

O deputado federal Marcelo Freixo rebate de forma contundente a crítica dos adversários que dizem que não teria experiência para governar o estado do Rio: “me preparei a vida inteira para ter esta oportunidade”, sustenta, com a mesma determinação que defende suas propostas. Diz que a população “não aguenta mais ser governada por máfias” e que representa a melhor alternativa para tirar o estado da crise. Mas acha que não é possível falar em recuperação da economia sem pensar no aumento do salário mínimo regional.

A entrevista com o candidato do PSB – e de uma aliança de partidos, que inclui o PT, PSOL, Rede, PCdoB, PSDB, PV e Cidadania – inaugura a sabatina do A Seguir Niterói com os candidatos ao Palácio Guanabara, “Niterói pergunta”. Freixo conhece bem a cidade, morou aqui boa parte de sua vida. Falou sobre a necessidade de subsidiar o serviço das barcas e considera realista pensar na construção do metrô, com o apoio do candidato do PT, ao governo federal, o ex-presidente Lula. Freixo fez ainda uma defesa eloquente da Educação para o desenvolvimento do estado: “Só estou aqui porque tive oportunidades de ensino”.

Nos próximos dias, o A Seguir Niterói entrevistará os candidatos Rodrigo Neves, do PDT; Claudio Castro, do PL; Cyro Garcia, PSTU; Eduardo Serra, PCB; Juliete Panjota, UP, Luiz Eugênio, PCO; e Paulo Ganine, Novo.

A Seguir Niterói:  O senhor fez um movimento importante para construção do apoio da
sua candidatura pelo ex-presidente Lula. Saiu do PSOL e foi para o PSB. E concorre como candidato do PT. Mas, apesar de todo esforço, parece que nem tudo anda bem na sua candidatura. Integrantes do PT chegaram a anunciar apoio ao candidato do PDT, Rodrigo Neves. O deputado Alessandro Molon insiste na candidatura ao Senado mesmo com o apoio da sua campanha à candidatura do petista André Ceciliano ao cargo. O
senhor acha que pode ser o nome para unir as forças de esquerda e do centro, especialmente num segundo turno?

– Nossa candidatura é um feito inédito do nosso campo no Rio de Janeiro. Conseguimos aliança com oito partidos (PSB, PT, PSOL, Rede, PCdoB, PSDB, PV e Cidadania). O presidente Lula sempre foi muito firme no compromisso assumido com a nossa candidatura e nunca titubeou. Também destaco nossa aliança com o PSDB, que trouxe como vice o César Maia e toda a sua experiência em três mandatos como prefeito da capital, além de toda a sua história política. Temos uma campanha muito forte, que vem conquistando o apoio de muitas personalidades de todas as áreas do conhecimento no Rio. A questão do Senado está resolvida e, além disso, lideranças importantes que foram apresentadas como apoiadores do ex-Prefeito de Niterói reafirmaram o compromisso com nossa candidatura. Estamos muito confiantes na vitória e não tenho dúvidas que somos a candidatura com mais possibilidade de ampliar apoios num segundo turno. Por uma questão muito simples: o carioca e o fluminense não aguentam mais ser governados por máfias. E o Cláudio Castro, que é vice do Witzel, afastado por corrupção na Saúde durante a pandemia, é mais do mesmo. Castro montou o esquema dos funcionários fantasmas do Ceperj nas vésperas da eleição. O resultado está aí: todos ser serviços públicos do Rio estão sucateados.

O senhor construiu sua trajetória política no PSOL, um partido que tem uma pauta progressista e se posicionou de forma bem taxativa sobre temas que muitas vezes dividem a sociedade, como a liberação de drogas e o aborto? Agora, o senhor parece ter mudado suas convicções. Não acha arriscada essa mudança de posição diante do seu eleitor? Qual é o Marcelo Freixo que o eleitor vai encontrar?

– Minhas convicções, meus princípios de ética e honestidade são inegociáveis. O eleitor sabe que desde que entrei na vida pública não me furtei das lutas mais importantes para libertar o povo do Rio das máfias, das milícias e do tráfico. Presidi a CPI das Milícias que colocou mais de 200 milicianos na cadeia. Agora tenho pela primeira vez a oportunidade de realizar um trabalho ainda mais amplo de recuperação do Rio de Janeiro em todas as esferas. É uma tarefa que ninguém faz sozinho e para isso é preciso negociar, ampliar visões, agregar pessoas. O papel de um parlamentar é diferente de um governador que precisa estar muito mais aberto para ouvir todos os segmentos da sociedade agregar e unir as pessoas, ainda mais nesse momento do país e em especial do Rio. Na construção dessa caminhada estou buscando o que une os segmentos democráticos que querem dar um basta nessas máfias que governam o Rio há anos. Mas valores como a honestidade, transparência,
democracia e respeito ao povo são inegociáveis e sempre me guiarão.

O senhor, ao longo de sua carreira política sempre se confrontou à questão da violência policial e das milícias. A Segurança é um problema crítico no estado. O senhor acredita que pode enfrentar resistência dos quadros da polícia? Qual seria seu plano para a Segurança Pública?

Eu venho conversando com muitos policiais e estou bem atento às demandas da categoria. A grande maioria da Polícia é composta por homens e mulheres honestos que querem fazer um bom trabalho para a sociedade e querem ser reconhecidos por isso. Mas eles precisam de melhores condições. As Polícias estão sucateadas, o ticket alimentação de um policial é de apenas R$ 12,00. Nós não vamos garantir o direito à segurança sem o importante apoio das Polícias. Quero os comandantes da PM e da Polícia Civil muito próximos do governador. Vamos criar o Gabinete Integrado de Combate ao Tráfico de Armas e ampliar os investimentos em inteligência e tecnologia. As operações mais bem sucedidas no Rio de apreensão de armas foram feitas sem nenhum tiro. Isso não quer dizer que o Estado não estará pronto para enfrentar o crime e botar bandidos na cadeia. Mas o que existe hoje é um estado que enxuga gelo. Não há um plano verdadeiro de combate ao crime. Existem apenas respostas pontuais que levam pânico e pavor para as pessoas que moram nas comunidades. Segurança também é prevenção. Não existe sucesso nessa área sem um forte investimento na área social. Precisamos disputar o futuro dos nossos jovens e crianças.

O estado tem enormes carências e os indicadores sociais mostram que até áreas que pareciam assistidas, como a Educação, patinam com resultados muito ruins, agravados pela crise da economia, que provocou a saída de muitos alunos das escolas particulares. É possível estabelecer metas e o compromisso de que todas as crianças terão escola e que a escola será capaz de oferecer qualificação para elas, e não apenas uma progressão sem conteúdo? Como fazer para atender à exigência de mercado de uma geração que encontrará ao sair da escola o mundo conectado, sem ter acesso à tecnologia na escola?

– Para mim, não existe motivo maior para ser governador do Rio que não seja assumir um compromisso firme com a Educação. Tenho muito orgulho de ter sido professor por 20 anos em Niterói e sei do poder de transformação da educação. Eu sou fruto disso. Meu pai começou a vender laranja com oito anos, depois virou padeiro e, sem estudo, chegou a inspetor de uma escola. Se estou aqui hoje, disputando o mais importante cargo no meu estado, devo tudo aos meus pais e as oportunidades que tive de ensino. Nós vamos trabalhar com metas na educação sim. A minha primeira meta é recuperar os dois anos de pandemia quando muitas crianças passaram de ano sem aprender nada. Vamos contratar uma rede de explicadores universitários para que essas crianças não fiquem para trás. Um atraso no aprendizado na infância impacta toda a vida adulta. Não dá para seguir em frente deixando essa geração para trás. Vamos trabalhar firme para aumentar o ensino integral, tirar as crianças das ruas, dar escola de qualidade, lazer, esporte, refeições de qualidade. O Rio despencou de quarto lugar no IDEB para o vigésimo. Temos orçamento, determinado na Constituição, para garantir educação de qualidade. O que falta é gestão qualificada, avaliação sistemática, formação de professores e o fim do aparelhamento político que compromete os resultados educacionais em diversas cidades e estados brasileiros. Vou acompanhar pessoalmente as
metas da educação, diariamente.

A pandemia exigiu muito do sistema de Saúde, e testou a eficiência da rede pública. O Sistema Único de Saúde representa uma proteção para a população do estado. Embora muitas vezes tenhamos testemunhado a precariedade do atendimento em grandes hospitais do Rio, com doentes expostos em macas no corredor e até sem conseguir vaga para internação de emergência. Qual o plano para uma área que tem sido castigada pela má administração dos recursos, com seguidos casos de corrupção e a prisão de administradores públicos? Como descentralizar os serviços, e atender cidades que hoje contam apenas com socorro de ambulâncias?

Como foi lembrado aqui, o Rio coleciona casos de corrupção na Saúde. A primeira coisa que vamos fazer é um Programa Especial de Integridade para a Secretaria de Saúde com avaliações permanentes e fortalecimento do controle social. Em outras palavras: tem que parar de roubar. E isso não é pouca coisa. Vamos aumentar a oferta de atendimento especializado, cirurgias, exames, diagnósticos etc. com a contratação de mais 3 mil médicos, para diminuir a fila do SISREG e dar transparência e previsibilidade ao cidadão. Vamos ampliar a cobertura da atenção primária. E o estado precisa assumir o seu papel de coordenador do SUS em todo o território do Rio de Janeiro. Saúde é vida! E
todas as vidas importam. Não vamos deixar ninguém para trás.

Uma questão importante para o morador de Niterói. O transporte público se tornou um dos problemas mais graves do estado, com a crise da economia e, depois, a pandemia. Os serviços de trens urbanos, o metrô, as barcas Rio-Niterói e até os ônibus se mostraram deficitários, nos municípios e nos estados. Só a CCR Barcas cobra uma dívida do estado de mais de R$ 1 bilhão do estado. Técnicos do estado já sentenciaram que o “sistema” está falido. O que o senhor pretende fazer sobre isto? O estado vai subsidiar os transportes públicos?  O que vai acontecer com as barcas?

– Vamos aumentar o subsídio que hoje está na casa de R$ 400 milhões para R$ 1 bilhão. Vamos sentar com as concessionárias e negociar, fazer a nossa parte, mas também cobrar o que está nos contratos. O atual governador fala da Supervia e do transporte de um modo geral como se ele não estivesse no
governo há quatro anos. Ele tem sim muita responsabilidade nesse caos que se instalou nos transportes do Rio. Não podemos prejudicar mais a população que tem um transporte de péssima qualidade. Precisamos chegar num equilíbrio desses contratos de concessão para que os investimentos sejam contínuos e para isso não tenho receio de dizer que vamos aumentar sim o subsídio. Quanto às barcas, já no período de transição, vamos nos sentar com a CCR e fazer um plano emergencial até a próxima licitação. As barcas são extremamente importantes e vamos dar a atenção devida a esse modal também.

Na primeira semana de campanha o senhor prometeu que vai levar o metrô para Niterói e São Gonçalo. O senhor não acha que está fazendo promessas demais, num governo que não tem dinheiro em caixa e enfrenta tantas questões sociais?

– Sabemos das limitações e respeitaremos o Regime de Recuperação Fiscal, mas não podemos deixar de atender as necessidades da nossa população. Eu já conversei com o (ex-) presidente Lula, que vai voltar ao Palácio do Planalto no ano que vem, e ele está muito ciente da necessidade dessa obra. Estamos combinando um comício em São Gonçalo no qual eu e Lula conversaremos diretamente com os moradores da cidade sobre nossos planos para a região.

O governador Claudio Castro, seu principal oponente, segundo as pesquisas, diz que o senhor não tem experiência de gestão para assumir o governo do estado. O estado do Rio enfrenta grave situação fiscal, estrangulado pelo refinanciamento de dívidas, com enormes demandas sociais e diante da retração da economia brasileira. O senhor está preparado para governar o Rio de Janeiro, numa situação de crise e emergência social?  Qual a sua proposta para a reativação da economia? Que ações o governo do estado pode articular para o crescimento da atividade econômica?

– Eu venho me preparando para esse cargo a minha vida toda. Ao longo dos últimos anos como deputado estadual e depois federal venho estudando e encaminhando soluções para os principais problemas do estado. Além disso, não há preparação melhor do que aquela que é fruto do trabalho e da experiência enfrentando os problemas do estado. Dei aula por mais de 20 anos, morei até os 40 anos numa região periférica, aqui no Fonseca, em Niterói. Sei das dificuldades que nosso povo enfrenta. E é porque estamos nessa situação crítica que me sinto desafiado e o mais preparado para mudar a história do Rio de Janeiro. Precisamos virar essa página, romper com essas máfias que vem governando o Rio há tanto tempo e nos trouxeram até aqui. Mas obviamente ninguém governa sozinho. Tenho ao meu lado as melhores cabeças do Rio de Janeiro em todas as áreas, pessoas que conhecem a fundo suas áreas de atuação e que estão me ajudando a desenhar as soluções. Posso
citar aqui Armínio Fraga, Marcelo Trindade, Lígia Bahia, Ricardo Henriques e vários outros especialistas das mais diferentes áreas que estão conosco planejando as soluções para os principais problemas do estado. Em relação à atividade econômica no estado, retomar o desenvolvimento do estado é um de nossos principais compromissos. Nosso governo trabalhará de forma coordenada para atrair investimentos nacionais e estrangeiros diretos, além de captar recursos para projetos em parceria com o governo federal e organizações multilaterais. Criaremos um conselho de novos investimentos e um escritório de projetos diretamente ligados ao gabinete do governador para
liderar essa estratégia de retomada da economia. Precisamos garantir obras de infraestrutura (como a linha 3 do metrô), reaquecer a indústria naval e investir na indústria 4.0 e na economia criativa.
Além disso, o estado do Rio de Janeiro tem tudo para assumir uma posição de vanguarda no desenvolvimento de uma economia verde, de baixo carbono e produção de energia limpa em escala. A própria indústria do petróleo pode financiar essa transição. Mas temos de agir para formar recursos humanos para esse novo momento da economia do estado do Rio. Neste sentido, precisamos desenvolver políticas consistentes de qualificação profissional e investir em um ensino técnico de qualidade, capaz de animar nossos jovens e mantê-los mais tempo na escola. Por isso, queremos investir em políticas de permanência, além de ampliar a oferta de educação integral e ensino
profissionalizante na rede estadual.

Niterói tem um laço forte com a história e a obra do pintor Antônio Parreiras, que manteve na cidade uma escola de Artes, em sua casa e ateliê, no século passado. É o endereço do Museu Antônio Parreiras, que está fechado há mais de dez anos, privando o público de dos mais importantes acervos do país. Qual o plano do seu governo para o Museu Antônio Parreiras?

– Em nosso governo, vamos concluir as obras e integrar o Antônio Parreiras ao circuito de museus que existe no corredor do Ingá. Já assumi o compromisso com a ampliação dos investimentos em cultura e a preservação do patrimônio arquitetônico, artístico e cultural de nosso estado é uma prioridade. O
abandono e o descaso com que muitos de nossos equipamentos culturais vêm sendo tratados é inadmissível em um estado que sempre foi a principal referência cultural do país.

Caso o senhor seja eleito, qual será seu primeiro ato de governo?

– Eu vou descongelar o salário mínimo regional. O Witzel e o Castro congelaram o
mínimo em 2019 e Rio é o único estado que manteve o salário regional congelado. Vamos passar de R$ 1.238 para R$ 1.580. Recuperar o poder de compra dos mais humildes e colocar o pobre na economia é a receita certa de crescimento. O presidente Lula já mostrou isso. O momento recente
em que o país mais cresceu foi quando o salário mínimo teve ganho real.

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