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O resgate do amparo: psicoterapeutas de Niterói dão assistência às vítimas da pandemia e da catástrofe de Petrópolis

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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O trabalho, desenvolvido no Programa de Ajuda Humanitária Psicológica, é relatado em livro que será lançado na próxima quarta-feira (17) na Livraria da Travessa de Botafogo
Grupo PAHP
Grupo se reuniu na Casa da Cidadania, em Petrópolis, com 40 mulheres de várias idades, estado civil, religião para uma trabalho de assistência psicológica. Foto: Acervo Pessoal

Impacto emocional provocado pelas perdas familiares e de amigos, um  sentimento de medo, que foge do controle, isolamento social e a instabilidade no trabalho foram alguns dos fatores que colaboraram para o aumento da ansiedade e depressão, após a pandemia da Covid-19. Há quem prefira classificar esse momento de “emoções em caixa alta”  como o surgimento de uma “segunda pandemia”: aquela que se refere à saúde mental.

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A situação merece todo o cuidado. Se ainda patinamos para resolver nossas próprias questões, imagina se levarmos em conta um cenário em que somos obrigados a encarar a maior emergência de saúde pública do século?

Números do Datasus apontam que o total de óbitos por lesões autoprovocadas dobrou nos últimos 20 anos, passando de 7 mil para 14 mil.

Mas isso não é de hoje. Dados anteriores à pandemia já apontavam episódios depressivos como a principal causa de pagamento de auxílio-doença não relacionado a acidentes de trabalho, correspondendo a 30,67% do total, seguida de outros transtornos de ansiedade (17,9%).

A prevalência global de depressão e ansiedade aumentou em 25% no primeiro ano da pandemia da Covid-19, de acordo com um resumo científico divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no início de dezembro.

O que fica são sequelas que mostram o quão pouco foi feito em termos de medidas práticas no combate à crise da saúde mental, anunciada desde 2020. Mas há quem tenha se mobilizado em busca da melhoria do bem-estar de pessoas, seja pelo acolhimento ou pela técnica e experiência de um profissional.

O livro

Um desses projetos é retratado no livro “Coragem, Resiliência e Esperança: Assistência Psicológica Humanitária Integrativa na Pandemia da Covid“, resultado de uma coletânea de autores e voluntários que se uniram em um longo trabalho desenvolvido pelo Programa de Ajuda Humanitária Psicológica (PHAP).

O livro será lançado na Livraria da Travessa de Botafogo na próxima quarta-feira (17), às 19h, e entre os autores há três psicólogas de Niterói: Gilvane Bispo, Lilian Tostes e Rita Saraiva.

No Capítulo 21, “Vozes de Petrópolis: Nós podemos acolher o difícil e transformá-lo“, as psicoterapeutas, que foram docentes no curso de aprimoramento da parceria da fundação Universitária Regional de Blumenau com o Programa de Ajuda Humanitária Psicológica na Assistência Psicológica Integrativa em Pandemia, relatam as experiências desenvolvidas na Casa da Cidadania de Petrópolis e, com o apoio do Rotary Club de Petrópolis e o Rotary Club do Butantã.

O trabalho em Petrópolis

No capítulo, elas abordam o trabalho desenvolvido com mulheres costureiras que sofreram dupla catástrofe: a pandemia e as chuvas e deslizamentos de Petrópolis em 2022.

Gilvane e Lilian conversaram com o A Seguir sobre a experiência com o Programa.

– Quase impossível colocar em palavras o vivido. Todos os sentidos em circuito quando acesso as lembranças do testemunho das mulheres de Petrópolis. Ficam em mim as emoções que nenhuma enchente leva assim como a frase final de uma delas: “Vocês vão, mas deixam um pouco de vocês aqui” – afirmou Gilvane, psicóloga pela UFF, com formação em Psicodrama e Psicopedagoga. Também é Terapeuta de Família e possui experiência com Terapia EMDR e Brainspotting.

O Programa

O Programa de Ajuda Humanitária Psicológica (PHAP) tem como objetivo oferecer capacitação e assistência psicológica em catástrofes naturais e incidentes críticos que tratam da vulnerabilidade humana.

O impacto de eventos críticos sobre os indivíduos, como foi a pandemia Covid-19, pode ser desastroso, trazendo consequências sérias no funcionamento psíquico. Uma dessas consequências é o TEPT – transtorno de estresse pós trauma. O livro se debruça nisso mas, principalmente, explica, de forma empírica, como esses transtornos podem ser tratados.

Psicoterapia EMDR

Desde 2013, a OMS indica a Psicoterapia EMDR para o tratamento de traumas emocionais, os quais são muito pouco diagnosticados refletindo no que alguns pesquisadores chamam da “epidemia invisível do trauma”. Então, uma forma de prevenir possíveis TEPT, é intervindo com esta modalidade terapêutica cuja fundamentação é a neurobiologia cerebral.

A psicóloga e co-autora do livro, Lilian Tostes, lembra que as tempestades na Região Serrana do Rio costumam ser muito frequentes. Consequentemente deparamos com uma população muito sofrida e traumatizada.

Lilian possui especialização em Psicologia Clínica e formação em Terapia EMDR e Brainspotting, Psicodrama, Terapeuta de Família e Psicotraumatologia.

Os resultados

Ela cita um dos episódios mais recentes, em 2023, quando a cidade de Petrópolis sofreu com as tempestades. Nesse contexto, a área têxtil foi totalmente atingida e muitas mulheres perderam sua fonte de renda – muitas perderam também moradia, pessoas da família, vizinhos.

– Este foi o contexto que encontramos, na Casa da Cidadania, em Petrópolis, com 40 mulheres de várias idades, estado civil, religião para uma trabalho de assistência psicológica. Da dor e da desesperança estas mulheres se encontraram, falaram, choraram e, com toda expertise de uma equipe bem preparada puderem resgatar a força interna para voltar a vida cotidiana.

E acrescenta: O movimento final das mulheres de ânimo, de muita coragem foi muito potente, uma vibração diferente. O estado do começo e do final teve uma diferença significativa. Na verdade, fizemos um trabalho de assistência a mudança de estado para a reação ao que se precisa para a catástrofe – conclui Lilian.

Dito e feito.

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