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O mar devolve todo o lixo que banhistas deixam na praia, aponta estudo

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Pesquisadores coletaram material da Praia de Camboinhas após as limpezas de rotina e encontraram embalagens e canudos de plástico
Pesquisador sugere que quiosques colaborem mais com a limpeza do lixo deixado por clientes Foto- Amanda Ares
Pesquisador sugere que quiosques colaborem mais com a limpeza do lixo deixado por clientes Foto: Amanda Ares

Camboinhas é uma das praias mais frequentadas de Niterói. Seja pela beleza da vista ou pelo aspecto turístico, com grande quantidade de quiosques, atrai moradores e turistas diariamente para se exercitar ou se espreguiçar na faixa de areia branca, que é limpa duas vezes pela Clin e pela Associação de Moradores, a Soprecam. Mas pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) publicaram um estudo que mostra que a praia muda de aspecto depois de uma ressaca, ficando cheia de lixo que o mar devolve à costa. Outro problema é o resto de resíduo plástico deixado por quem frequenta a orla.

O professor Abílio Soares, do Departamento de Biologia Marinha da UFF (GBM/UFF), é um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo “Eficiência da limpeza em uma praia do sudoeste Atlântico”, publicado na revista internacional Regional Studies in Marine Science. Ele explica ao A Seguir: Niterói que a conclusão mais preocupante do estudo é que a maior parte do lixo de tamanho pequeno é negligenciada na limpeza. Ele explica como foi feito o estudo:

– Nós fizemos a pesquisa antes e após a limpeza que é realizada pela companhia de limpeza, a Clin. Fomos no final do dia, quando os banhistas já tinham saído da praia, e fizemos a coleta de dados. A Soprecam faz a limpeza à noite, então às 6h da manhã retornamos e fizemos outra coleta de dados, depois dessa limpeza da noite. A conclusão a que chegamos é que a limpeza é muito pouco eficiente, especialmente para itens de menor tamanho.

O estudo concluiu que a maior parte do lixo é composta de itens utilizados no consumo de alimentos na própria praia, e que muitas vezes são vendidos pelos quiosques. Mas também há muitas embalagens que foram trazidas de volta pelo mar, e a maior parte era material plástico:

– Encontrei principalmente embalagens de comida, entre várias coisas, pacotinho de biscoito por exemplo. Muito ítem plástico, que demonstra ser oriundo de banhistas que compram coisas nos quiosques e jogam na areia. Também bituca de cigarro, palito de picolé, muito canudo, copo plástico.

Restinga também é impactada

O estudo aponta que é necessária uma atenção especial à área da restinga:

– Se é feita uma limpeza ali, é com uma frequência muito baixa.

Além de prejudicar o crescimento das plantas, a poluição também afeta a grande quantidade de espécies que dependem da restinga. Ele diz que o lixo acumulado entra acidentalmente para a dieta dos animais:

– Ali, nós temos várias espécies terrestres, como cobras, lagartos, pequenos mamíferos, temos inclusive caranguejos que vivem na restinga, e ali é uma área de proteção, tem aves, que se alimentam de animais que vivem ali, e muitos comem lixo pensando que é comida.

Outro problema é a erosão, que destrói a parte construída da orla de Camboinhas. O professor diz que ainda não há dados suficientes para apontar que a sequência de ressacas entre julho e agosto seja consequência do aquecimento global. De todo modo, a cidade precisa estar atenta para retirar os resíduos que ficam na areia com mais eficiência após uma erosão:

– O aquecimento global é uma preocupação, sim, mas essa erosão da praia de Camboinhas, por exemplo, foram várias frentes frias que entraram, e não necessariamente tem a ver com o aumento do nível do mar. O aumento das frentes frias uma atrás da outra pode ser uma consequência do aquecimento global, e é isso que tem que ser observado, mas não há dados suficientes para afirmar que foi necessariamente uma consequência do aquecimento global.

O pesquisador espera que o estudo possa contribuir para melhorar a limpeza das praias da Região Oceânica. Ele aponta algumas possíveis soluções, que passam pelo melhor treinamento das equipes, melhoria nos equipamentos de coleta do lixo, e uma política de proibição de itens plásticos em toda a orla. Em Niterói, já é proibida desde janeiro deste ano a utilização de canudos de plástico em bares, lanchonetes, barracas de praia, restaurantes, ambulantes e comércio em geral em Niterói.

– Alguns lugares do mundo têm feito isso, áreas livres de plástico, “plastic free”.

Tem o problema da lei que não pega, né. Por exemplo, o canudo poderia ser de papel, ou outro material, o copo poderia voltar a ser o de vidro, o talher pode ser o tradicional. Por aí vai. Mas outra coisa que eu acharia importante é que os quiosques, que têm a autorização pra explorar a orla, poderiam contribuir muito mais com a limpeza do espaço do que eles fazem atualmente.

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