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‘O MAC é símbolo da retomada da autoestima de Niterói’, diz arquiteto

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Nos 25 anos do museu, o Vice-presidente da Fundação Oscar Niemeyer explica o legado do monumento, suas inovações e simbolismo
O Museu de Arte Contemporânea : Foto- Divulgação
O Museu de Arte Contemporânea / Foto: Divulgação

É impossível falar de Niterói e não lembrar do Museu de Arte Contemporânea, o MAC. Símbolo da cidade, a obra foi idealizada e projetada por um dos grandes gênios da arquitetura brasileira, Oscar Niemeyer. O MAC, ao contrário do que muitos pensam, não faz alusão a um disco voador, mas sim às representações egípcias da flor de lótus, que pousa sobre a água. A sua imponente arquitetura moderna e à frente do seu tempo se traduz como um verdadeiro cartão de visitas da cidade. Nesta quinta-feira, 2 de setembro, o MAC completa 25 anos, um quarto de século. Para celebrar a data, o A Seguir: Niterói preparou uma série de reportagens sobre o museu.

Nesta reportagem, você irá conferir a conversa com o Vice-presidente da Fundação Oscar Niemeyer e professor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFF, José Pessôa, sobre as principais contribuições do MAC sob o ponto de vista da arquitetura, seu simbolismo, sua importância para a história da arte moderna e muito mais.

Foto: Gabriela Florentino

O MAC foi inaugurado no dia 2 de setembro de 1996 e demorou 5 anos para ser construído. A ideia da construção partiu do Prefeito de Niterói na época, Jorge Roberto Silveira, que convidou Oscar Niemeyer para a criação do projeto. O edifício do MAC Niterói é a primeira obra que o museu oferece para contemplação. A estrutura de linhas circulares do edifício integra a escultura de 16 metros de altura em praça aberta, em que o espelho d’água, colocado em sua base, e o sistema de iluminação conferem grande leveza. A rampa sinuosa externa conduz ao interior, com dois pavimentos.

Rampa sinuosa do MAC / Foto: Gabriela Florentino

Confira abaixo a conversa com o Vice-presidente da Fundação Oscar Niemeyer e professor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFF, José Pessôa:

A Seguir: Niterói: A que você atribui o simbolismo do MAC?

José Pessôa: O simbolismo do MAC está relacionado à poética da obra de Niemeyer, ao arrojo de suas formas livres e ao arrojo tecnológico que suas formas exigem. Isso tudo criou uma identidade da arquitetura brasileira do século XX, do qual o MAC é um símbolo dentro dessa obra. Eu acredito que essa poética criou uma espécie de identidade, de reconhecimento popular dessas formas livres que Niemeyer propõe.

Há outros museus no mundo que se inspiram no design do MAC?

Eu não conheço outros museus no mundo inspirados no design do MAC. A obra de Oscar Niemeyer tem um enorme repercussão na arquitetura moderna e internacional. A liberdade das formas e a preocupação com o valor plástico das edificações vão estar presentes nas obras de outros criadores, de outros arquitetos, especialmente na França, mas também em Portugal e no Oriente Médio, a obra do Niemeyer tem um impacto e é uma referência importante.

O que o MAC rompeu em termos de tradição? Quais foram suas principais contribuições do ponto de vista da arquitetura?

O MAC é um exemplo notável do que nós poderíamos chamar de última fase criadora de Oscar Niemeyer. O MAC representa uma revalorização da obra do Niemeyer e consagra esse último período marcado por uma pesquisa plástica e tecnológica, com uma preocupação de transmitir a ideia de leveza aos edifícios. Nesta última fase, Niemeyer busca formas simples, mas que expressam um único grande apoio que segura o museu como um todo e que traduzem essa leveza. São prédios em que ele busca a ideia de que estão quase flutuando no ar. No caso do MAC, esta poética se associa a ideia de uma flor, mas nós também poderíamos dizer que também remete a um disco voador. Uma imagem forte para mim, que fui criança nos anos 60, é o MAC como a casa dos Jetsons.

O que o MAC representa para Niterói? Sendo um cartão postal, de que forma ele traduz a cidade?

O MAC é um símbolo do processo de retomada da qualidade de vida e da autoestima de Niterói. Ele é um símbolo do que a cidade vem vivendo há mais de duas décadas, essa retomada da cidade como exemplo de qualidade de vida urbana não só no estado, como no país inteiro. O MAC é um ícone identificador da cidade de Niterói, um cartão postal.

Como equipamento cultural e como equipamento público, o MAC está associado a esse processo de qualificação da cidade e não só por isso, mas principalmente porque ele está inserindo em um ponto da paisagem e não se pretende de forma alguma se mimetizar com essa paisagem e, sim, estabelecer um diálogo muito interessante entre o museu e a paisagem que circunda ele: Niterói e a Baía de Guanabara.

É muito curioso pensar em dois aspectos nessa relação de diálogo com a paisagem. O primeiro é a forma do museu em si, as paredes laterais do corpo principal, do corpo elevado do museu, que são levemente inclinadas e de vários ângulos estabelecem um diálogo direto, quase como um paralelismo entre o desenho do museu e a encosta do Pão de Açúcar.

Um outro aspecto é a inusitada rampa de acesso, que vista de fora, não parece muito lógica como caminho de acesso ao salão principal do museu. No entanto, ao ser percorrida, se compreende a lógica e a genialidade de Niemeyer. Ele desenhou uma rampa que faz com que o visitante, antes de ingressar nas instalações do museu, percorra visualmente todo o entorno da baía de Guanabara e da cidade de Niterói, em função do traçado que essa rampa permite, criando um verdadeiro percurso paisagístico daquele local. Eu acho que é nessa relação com a autoestima da cidade e com o seu visual que ele traduz essa nova imagem da cidade de Niterói. E faz isso muito bem há 25 anos.

**José Simões Pessôa é arquiteto pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1982). Possui especialização em conservação e restauração de monumentos e sítios, UFBA (1984), doutorado em Pianificazione Territoriale – Istituto Universitario Di Architettura Di Venezia (1992) e pós-doutorado sobre Invariantes Urbanísticas nos Centros Históricos Portugueses, Universidade de Coimbra (2007). Atualmente é professor associado da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Tem experiência nas áreas de Restauração e Conservação do Patrimônio Histórico Edificado, de Planejamento Urbano e Regional, com ênfase em Restauração e Revitalização de Centros Históricos, atuando principalmente nos seguintes temas: patrimônio cultural, projeto de restauração, centros históricos, história da arquitetura e do urbanismo, morfologia urbana e arquitetura moderna.

Professor convidado das universidades: Universidade de Coimbra (2015, 2017 e 2019); Politecnico di Milano(Italia, 2015); UNIROMA 3 (Italia,2007, 2015); Universidade Nova de Lisboa (Portugal, 2007 e 2010); Universidade do Algarve (Portugal, 2007); Instituto Superior Técnico de Lisboa (Portugal, 2007, 2010, 2013 e 2019); Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique, 2012); Universidade de Évora (Portugal, 2013); Université Aix Marseille (França, 2013, 2015, 2018 e 2019), entre outras.

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