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O futuro do Brasil tem 50 anos

Por Luiz Claudio Latgé
| aseguirniteroi@gmail.com

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Ponte Rio-Niterói permanece como símbolo da modernidade brasileira, sua maior obra; o futuro prometido não chegou
Ponte Rio-Niterói
Ponte foi a obra mais emblemática do milagre brasileiro, durante o Regime Militar. Foto: reprodução

O futuro do Brasil completa 50 anos, com a Ponte Rio-Niterói. Foi a maior obra realizada no país, símbolo do Brasil grande pregado pelo Governo Militar. Era o milagre brasileiro. O Brasil já havia ensaiado ganhar o mundo, no pós-guerra, com a Bossa Nova e Juscelino Kubistchek,  a arquitetura modernista de Niemeyer. Brasília, cinquenta anos em cinco.

Chegamos aos anos 70 e o futuro batia à nossa porta, 70 milhões em ação. Então construímos o futuro: a maior obra de engenharia do país. Naquele 4 de março de 1974, o Brasil deixou todos os seus problemas políticos e sociais debaixo dos pilares da ponte e inaugurou o futuro!

Mas por que a ponte merece todo este simbolismo, se havia outras obras? Transamazônica, Itaipu, Usina Nuclear de Angra, Ferrovia do Aço?

Alguns projetos foram engolidos pelo barro, como a rodovia da floresta, outros não chegaram a ser completados, como a ferrovia do Aço, mas mesmo obras que estão de pé como a Usina de Itaipu não simbolizam este tempo como a Ponte Rio-Niterói. Não dá para comparar uma usina elétrica com o desenho sinuoso da ponte avançando pela paisagem mais bonita do país.

A Ponte faz parte da vida das cidades, mudou a vida das pessoas. Do morador do Rio, de Niterói, de todo o estado do Rio, e do Brasil.

A ponte era uma espécie de elo perdido, o trecho que faltava para unir o Brasil. O país se modernizava no eixo Norte-Sul. Mas esbarrava na Baía de Guanabara, uma geografia intransponível, na época.

O trânsito de caminhões pesados e carros de passeio se enfiava por um trajeto de quase 100 km nas estradas estreitas e esburacadas de Magé. Se a Ponte era o futuro, visite a estrada de Magé, vai ver como era o passado, ainda está lá, com todas as melhorias… Faltava apenas vencer com engenho e arte aquele desafio: lançar uma ponte entre Rio e Niterói.

Um projeto desafiador para a engenharia nacional. A obra era tão grande e tão difícil que os bancos e construtoras americanos disputaram com os bancos e construtoras ingleses quem tocaria o projeto.

A Rainha Elizabeth levou a conta. Veio ao Brasil em 69 com pompa e circunstância para trazer 31 milhões de libras, algumas toneladas de máquinas e aço e lançar a pedra fundamental da Ponte.

Era para ficar pronta em 71, mas quem mira o futuro, mesmo em tempo de milagre, pode esperar um pouco, e a obra foi entregue em 74, com o General Emílio Médici desfilando de Rolls Royce com o Ministro dos Transportes Mário Andreazza, passando pela primeira vez pela Ponte Presidente General Costa e Silva.

Pronto, chegamos ao futuro. O Brasil era um pais de 70 milhões em ação, que queria se modernizar.

São Paulo já era uma Metrópole, a FIESP começava a ganhar corpo, e o metrô estava em obras, o país se urbanizava, queria deixar de ser o país do agronegócio, que vendia café e cana, do analfabetismo e dos mosquitos, queria ser cosmopolita, falar como a Europa e os Estados Unidos, subir a rua augusta a 120 por hora.

A ponte nos levava mais perto deste ideal.

Não é preciso nenhuma licença poética para dizer que o futuro é um caminho longo, sinuoso e acidentado.  Avançamos pouco, além da Ponte. É como se o Brasil tivesse parado no engarrafamento do pedágio.

Está certo, o país ficou melhor neste tempo. De acordo com o último censo, o Brasil é mais urbano que rural, muitos indicadores melhoraram mas ainda temos gente (muita gente) sem água e esgoto, e se não temos mais analfabetos, nossos resultados na educação ainda são precários.

A balança comercial melhorou, agora temos petróleo, mas metade da receita ainda vem da agricultura: carne, soja e ainda o café. A promessa da indústria não prosperou, engolida pela concorrência dos produtos chineses.

Ainda temos mosquitos, dengue e Covid neste início de ano. Além disso, surgiram novos problemas, a violência e o aumento da desigualdade, milícias e um radicalismo político que nos mantém em permanente manifestação nas ruas – e às vezes dentro de casa.

Não era aquele futuro cheio de tecnologia, como víamos nos desenhos dos Jetsons. Nos livramos das fichas telefônicas e dos orelhões e hoje quase toda a população está no mudo digital na tela de um celular.

Mas a modernidade parece que nos empurrou para o passado: o Uber, por exemplo, virou sinônimo de trabalho precário. E os serviços de entrega, um risco sobre duas rodas.

Não é atoa que a Ponte Rio-Niterói, 50 anos depois, permanece viva como um símbolo do Brasil moderno. Que grande obra pudemos exibir depois disto? O Museu do Amanhã? Belo Monte? O aeroporto de Guarulhos? O VLT? Do que nos orgulhamos?

Cinquenta anos depois da inauguração da Ponte, o futuro do Brasil foi ficando para trás.

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