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O biotipo suspeito. Pesquisa da UFF mostra que Polícia aborda mais negros e pardos

Por Redação
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Policial faz tese de mestrado em Sociologia sobre abordagem da Operação Segurança Presente
Niterói teve 18 furtos por dia nos últimos três meses. Foto: Pixabay
Pesquisa mostrou que polícia aborda mais negros que brancos. Ilustração: arquivo
Ser negro no Brasil é motivo para ser enquadrado como suspeito. Esta é uma   das conclusões de um estudo desenvolvido pelo policial militar Leonardo Fernandes Hirakawa durante pós-graduação em Sociologia na UFF: “Desvendando a cor padrão: O viés racial na seleção do suspeito na Operação Segurança Presente”.

Leonardo é major da PM e quis estudar como ocorre o racismo na seleção do suspeito em atividade policial.  No mestrado, trabalhou com a orientação da professora Verônica Toste, na análise de dados do serviço de segurança na base do Recreio dos Bandeirantes no Rio, mas diante de uma situação que se repete em todo o país.

Negro trauma

A questão do racismo na abordagem policial é objeto de estudos há algum tempo. Um desses levantamentos, coordenado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESEC) e intitulado “Negro trauma: racismo e abordagem policial na cidade do Rio de Janeiro”, aponta que 68% das pessoas abordadas andando a pé e 71% no transporte público são negras, ainda que pretos e pardos somem 48% da população do estado. Os dados revelam que os suspeitos escolhidos pela polícia possuem uma cor padrão, gerando um ciclo vicioso no sistema de justiça.

O trabalho de Leonardo Fernandes Hirakawa segue esta linha e se vale do conhecimento do tema a partir da experiência como policial. O termo cor padrão, por exemplo, que aparece no título da dissertação, é usado no dia a dia dos policiais.

-Essa é uma terminologia que já foi usada, em termos informais, na comunicação entre policiais. Não importava se o policial era negro ou branco, sempre perguntavam qual era a cor, a característica do suspeito, e então se respondia ‘a cor padrão’. Com isso, já se sabia que era negro – afirma.

A dissertação possui como foco a Operação Segurança Presente (OSP), na unidade instalada no Recreio dos Bandeirantes. De acordo com a orientadora Verônica Toste, a base se vale de grupos de Whatsapp para se comunicar com a comunidade, divulgando informações de interesse da operação e recebendo comunicados de supostos crimes ocorridos na região. E isso “cria um mecanismo, uma linha direta entre policial e morador, na qual o residente pode dar vazão a todo o seu racismo, como ao presumir que as pessoas, por estarem utilizando o espaço público, estão cometendo crimes. É uma subversão total do espírito constitucional, da igualdade, da isonomia, dos direitos constitucionais que estabelecem que a segurança é um direito de todos”.

Segundo o estudo, um outro fator que corrobora a manutenção de práticas racistas é a alta demanda sobre o número de abordagens para que o policial seja mantido no posto. “Quem são essas pessoas que vão ser abordadas? É o preto, o pardo e o pobre. Independentemente de o policial ter uma aversão a pessoas negras ou não, ele vai abordar as pessoas que enxerga como pobres para evitar problemas pra ele. Tal fato é ainda mais intensificado ao levar em consideração que a OSP é um trabalho extra realizado por policiais que precisam da renda, necessidade fortemente atrelada à desvalorização da profissão”, sustenta Verônica.

Resultados do trabalho de campo realizado por Leonardo reforçam o argumento de que há um estereótipo quanto à escolha de quem será abordado. Foram 1217 abordagens analisadas, e os dados revelam que o meio de transporte utilizado pelos indivíduos é um fator importante a ser considerado. Isso porque um percentual maior de indivíduos pretos e pardos foi abordado quando andava a pé (68%), em comparação com indivíduos brancos na mesma situação (40%). Uma quantidade maior de brancos (50%) foi abordada quando andava de moto, em comparação com com pretos e pardos (24%). De acordo com o estudo, isso poderia sinalizar que indivíduos brancos são mais frequentemente abordados por estarem de moto do que pela rotulagem de sua aparência. Soma-se a isso o fato de que a polícia identifica esse meio de transporte como o favorito dos praticantes de crimes de assalto ou roubo. Já os indivíduos pretos e pardos parecem ser abordados exclusivamente em razão de sua aparência física.

Reportagem baseada em material de divulgação acadêmica distribuído pela UFF

 

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