Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.
Publicado

O ano que o teatro ganhou a cena em Niterói

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

COMPARTILHE

Em entrevista ao A Seguir, a nova diretoria do Teatro da UFF fala da importância de uma curadoria atenta e dos planos para o ano que vem: ampliar e diversificar ainda mais as histórias
Leonardo Simões
O superintende do Centro de Artes UFF, Leonardo Simões. Foto: Divulgação

O espaço cênico ganhou outras dimensões, ainda mais significativas, com o fim da pandemia. Para quem soube olhar com cautela para a demanda latente do entretenimento, sobretudo coletivo, pode ver plateias lotadas e uma bilheteria movimentada, algo pouco comum na era do streaming e aplicativos como Tik Tok.

Leia mais: Réveillon em Niterói: confira como vai funcionar o esquema de trânsito e segurança

O que se consumiu de cultura, em especial no Teatro da UFF neste ano em Niterói, revelou, em matéria, a carência da troca de olhares, do riso sobressaltado e amparado no acolhimento do outro, que não se conhece, mas que compartilha e se identifica. A comunhão do teatro e força que ele impõe resultou em plateias cheias e em um arsenal de  peças consagradas da crítica.

Só esse ano passaram por lá peças como “Ficções”, monólogo com Vera Holtz, “Um dia a menos“, com Ana Beatriz Nogueira, “O pior de Mim“, com Maitê Proença, “Pormenor de ausência“, com Giuseppe Oristanio, “Síndromes“, de Miguel Falabella e “Cora Carolina“, no início do ano, monólogo com Raquel Penner e dramaturgia de Leonardo Simões.

– A fidelidade de espectadores e a ampliação do nosso público, através de novas propostas estéticas, incluindo os eventos ligados à música, são um patrimônio importante, através do qual ganhamos credibilidade para atrair uma programação cada vez mais qualificada – afirma o superintende do Centro de Artes UFF, Leonardo Simões.

Cora do Rio Vermelho ficou em cartaz em março no Teatro da UFF. Foto: Divulgação

Em entrevista ao A Seguir: Niterói, o coordenador de artes da UFF, Pedro Gradella, e o superintende, Leonardo Simões, fazem uma retrospectiva do que foi grande parte da cena teatral em Niterói neste ano. Ao longo da conversa, eles citam a preocupação na curadoria das peças ao contemplar um público mais diverso, a seleção de peças premiadas como atrativo do público e adiantam os principais planos da nova gestão, no ano que vem, como o aprimoramento das condições técnicas do teatro. Uma das metas é a manutenção de alguns dos equipamentos e estruturas, tendo em vista que, neste ano, alguns equipamentos tiveram que passar por reformas.

Outra prioridade é qualificar ainda mais a programação, ampliar e diversificar as histórias. Do ponto de vista interno, uma das ideias é implementar mecanismos mais democráticos e transparentes para o acesso da classe artística.

A quem possa interessar, a programação do Teatro da UFF retoma a todo vapor na última semana de janeiro.

Confira abaixo os melhores trechos da entrevista:

A Seguir: Niterói: O Teatro da UFF foi palco de grandes peças nesse ano de 2023, algumas premiadas e com um elenco consagrado. Como foi feita a curadoria?

Pedro Gradella – Fazemos isso a partir de eixos curatoriais que estabelecemos coletivamente, que abrangem tanto espetáculos realizados por autores, diretores, atores e companhias de reconhecida qualidade e relevância no meio teatral, bem como grupos e artistas promissores. Ampliando, assim, o acesso do público, seja as estruturas cênicas formais, seja a inovações de estéticas e de linguagem.

Além disso, esses eixos apontam também para aspectos como o protagonismo das diversas identidades e subjetividades que compõem o país e para uma perspectiva decolonial da história do teatro. A partir desses eixos, buscamos e selecionamos os espetáculos, muitos deles premiados após suas exibições aqui, outros já premiados anteriormente.

Todo o trabalho realizado no teatro busca consolidar o espaço como uma das principais opções de artes cênicas para o público e só é possível pelo trabalho realizado por toda a equipe em suas variadas especialidades.

⁠A programação de peças tem sido bem vasta, isso é uma preocupação? Contemplar um público mais popular e também o público que costuma sempre ir ao teatro?

Pedro Gradella: Certamente, tendo como princípio a qualidade das produções e os eixos curatoriais é uma preocupação e atenção nossa abranger a diversidade de histórias, formas de contar e performar do Teatro, produzindo identificação e reconhecimento bem como reflexão e novas perspectivas. A formação de público é uma consequência desse processo.

Leonardo Simões: Como centro cultural de uma Universidade pública, nós temos a preocupação de associar a qualidade artística e a temática dos espetáculos ao interesse junto ao público. A diversidade de propostas visa este objetivo, atendendo ao público habitual do Teatro da UFF, mas também alcançando novos grupos de espectadores, com outros perfis.

Peça “O pior de mim”, com Maitê Proença. Foto: Divulgação

– ⁠As peças costumam estar bem cheias, algumas com pouquíssimos ou nenhum ingresso (algumas em que os ingressos se esgotam rapidamente). Podemos dizer que houve uma recuperação boa da bilheteria em relação ao período da pandemia?

Pedro Gradella: Muitos de nossos espetáculos esgotaram seus ingressos rapidamente. A casa cheia é sempre fundamental para a experiência tanto dos artistas como da plateia. O importante também é que essa lotação se deu com espetáculos variados em forma e conteúdo, com artistas de renome e também iniciantes.

Podemos dizer que após a pandemia a frequência do teatro já alcançou o comportamento pré-pandemia, mas, além disso, temos indicativos positivos na ampliação da média e na diversificação de público. A experiência coletiva de ir ao teatro tem retomado sua força e gerado interesse num público mais amplo.

Leonardo Simões: Esse reencontro do público com o Teatro tem ocorrido, sim, de modo contínua e crescente. Além de uma compensação pela “abstinência forçada” dos espectadores no período da pandemia, ávidos por se reconectarem com a experiência presencial e ao vivo, percebemos que esse fenômeno é consequência de uma programação continuada, com a diversidade de espetáculos de qualidade a preços acessíveis.

– ⁠Como costuma ser feita a seleção de peças?

Pedro Gradella: Através de pesquisa, buscamos espetáculos e também selecionamos produções que nos procuram de acordo com os eixos curatoriais estabelecidos.

Leonardo Simões: A composição da programação, que se divide de modo propositivo e receptivo, como explicado pelo Pedro Gradella, resulta da análise e da discussão entre a equipe do Teatro e a Coordenação de Artes.

Adaptação do livro ‘Sapiens’, de Yuval Noah Harari, peça “Ficções” teve duas temporadas na UFF

– ⁠Qual a importância de consolidar um público cada vez mais ativo/participativo no Teatro?

Pedro Gradella: Num mundo com cada vez mais opções para se experienciar imagens, histórias e conteúdos de maneira individualizada, o teatro é a mais antiga novidade, parte da necessidade humana de ritualizar e performar sua vivência, imaginação e subjetividade no mundo, no caso do teatro, essa só consegue acontecer plenamente, no encontro entre público e artista.

Leonardo Simões: O teatro continua sendo a velha arena de debates aliada ao prazer de refletir e de se ver refletido, como indivíduo e como sociedade, em qualquer gênero ou estilo que se apresente. O fenômeno teatral se constrói com base nessa comunhão com o público.

A fidelidade de espectadores e a ampliação do nosso público, através de novas propostas estéticas, incluindo os eventos ligados à música, são um patrimônio importante, através do qual ganhamos credibilidade para atrair uma programação cada vez mais qualificada. Para os produtores, artistas e coletivos, vir se apresentar no Teatro da UFF representa uma garantia de público e isso é fundamental nessa relação de parceria que estabelecemos.

Monólogo com Ana Beatriz Nogueira, “Um dia a menos”, baseado em obra de Clarice Lispector. Foto: Divulgação

– ⁠O que planejam para o ano que vem nessa nova gestão de diretoria?

Pedro Gradella: Do ponto de vista da gestão do espaço, pretendemos implementar mecanismos mais democráticos e transparentes para o acesso da classe artística.

Além disso, buscamos qualificar ainda mais a programação, ampliar e diversificar as histórias que contamos e o público que com elas se identificam ou se imaginam de outras perspectivas.

Leonardo Simões: No momento, estamos agindo para o aprimoramento das condições técnicas de realização dos eventos, com a manutenção de alguns dos nossos equipamentos e estruturas. Por isso, nas primeiras semanas de 2024, estaremos somente com trabalho interno, sem espetáculos no Teatro. A programação será retomada na última semana de janeiro.

Entre os mecanismos citados pelo Pedro, lançaremos em breve um Edital para seleção de projetos de artes cênicas, que irão compor parte da programação de 2024, organizando melhor e ampliando a dinâmica receptiva da nossa programação. Não haverá alteração na prática de discussão e análise conjunta das propostas, das quais eu já vinha participando nos últimos anos, mesmo antes de assumir a direção.

E agora, a partir do Edital, essa análise será ampliada através de outros olhares. Seguiremos, também, colaborando com os projetos transversais do Centro de Artes UFF, no âmbito das artes cênicas.

COMPARTILHE