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Era manhã da última terça-feira quando Antônio Carlos de Souza saiu animado da sala de atendimento da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) com uma ficha na mão e uma pasta na outra, repleta de documentos. Era o alívio após resolver uma situação desgastante, uma pequena dívida que virou uma bola de neve. Depois de receber atendimento jurídico, Antônio, mais conhecido como Chave de Ouro, conseguiu renegociar o débito com desconto e poderá, enfim, sair da lista de inadimplentes.
– Eu fiz um cartão de crédito e o atendente me disse que, para liberar o cartão, eu teria que fazer uma compra. Coloquei R$ 10 de crédito e no dia do vencimento fui ao banco para retirar o boleto. Paguei os R$ 10 e ficou uma dívida lá que eu não sei de onde veio. Hoje ela já chega em R$ 98. Eu tenho o comprovante de que havia pago, então agora eu vou atrás dos meus direitos na justiça. Estou aliviado porque, com a negociação que fiz aqui, vou pagar R$ 29,71.
Antônio foi um dos mais de 200 atendidos no “Quita Niterói”, mutirão promovido pela CDL para mediar e facilitar a negociação de dívidas na cidade. Mais um esforço conjunto da entidade, em parceria com a Prefeitura, empresas e concessionárias para reduzir o endividamento entre os niteroienses. De acordo com o Mapa da Inadimplência do Serasa, divulgado nesta quinta-feira, 187.448 moradores da cidade tinham 620.024 dívidas em setembro, e os débitos somados chegam a R$ 927.966.704.
Numa comparação com o balanço de julho, os números de endividados e de dívidas caíram. No começo do semestre, 189 mil pessoas constavam como inadimplentes e havia 637 mil contas não pagas. Mas a soma dos débitos era de R$ 924.260.217,91. Ou seja, em dois meses, há menos niteroienses com “nome sujo”, mas essas pessoas estão devendo mais.
Num cenário de crise econômica, inflação e desemprego, iniciativas como a da CDL são uma oportunidade para pessoas saírem de listas de proteção ao crédito, como o aposentado Nilton José, que só conseguiria pagar o que deve se pudesse parcelar os débitos.
– Não tenho décimo terceiro e fico preocupado de não conseguir pagar, mas vai dar tudo cedo. Eles deram a orientação aqui e vou ao órgão que estou devendo para quitar essa dívida – ressaltou.
Golpes de cartão são recorrentes
Nos três dias de evento na CDL chamou atenção a quantidade de pessoas que entraram em listas de inadimplência após terem sido vítimas de golpes de cartão. Um dos representantes da Secretaria Municipal de Defesa do Consumidor do Procon Niterói, Matheus Araujo, relata que, em alguns casos, as pessoas não têm conhecimento de como podem contestar uma cobrança indevida e acabam correndo riscos. Matheus explica qual o melhor caminho para proceder nesse tipo de situação:
– Quando as pessoas não têm reconhecimento da dívida, é necessária a contestação preliminar com a empresa. Muitas das vezes as pessoas não têm contato com um meio jurídico e simplesmente não sabem negociar porque não têm acesso à informação. Com a presença de um advogado ou algum representante do Procon, elas acabam ficando mais confortáveis com a tratativa. Quando há negativação indevida e a pessoa não reconhece, nós orientamos que ela faça primeiro a contestação com a empresa – explicou.
Para o caso de pessoas que reconhecem suas dívidas de outros anos, que abrange, geralmente, um período de 2 a 3 anos, é possível a renegociação e o parcelamento.
– Nesse caso, a gente entra em contato com a central e busca a melhor forma de negociação para a pessoa, avalia se não estão sendo aplicados juros abusivos – ressaltou.
O Secretário Municipal de Defesa do Consumidor, Roberto Teixeira, afirma que o papel desse tipo de evento é promover um elo para tentar chegar a um acordo e a um parcelamento que se adeque às condições dos consumidores para que eles consigam consumir novamente.
– Temos noção exata da dificuldade da população e esse evento possibilita que credores e devedores sentem e negociem para que consigam seguir em frente. O nosso objetivo é que os credores tenham seus créditos sanados. O resultado foi um trabalho de equipe muito bom e promissor – ressaltou.
O presidente da CDL, Luiz Vieira, lembra que é importante que qualquer ação que se faça no momento de retomada econômica, seja ela de orientação, de intervenção do poder público ou de capacitação. Ele pontua que o empresário, após a pandemia, ficou muito fragilizado, principalmente em termos do caixa, já que precisou bancar um período complicado.
– A pandemia e o desemprego fizeram com que as pessoas não conseguissem arcar com seus custos, com suas dívidas. O mercado ainda não reagiu. O comércio reabriu, mas ainda não existe a totalidade, em termos percentuais, dos valores anteriores ao da pandemia – afirma. – O propósito do evento é fazer com que as pessoas fiquem aptas a obter crédito novamente. Mesmo após o evento, o “Quita Niterói” estará disponível no sistema do SPC, então a pessoa pode entrar e fazer a renegociação online – concluiu.
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