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Vinte anos de Orgulho LGBTQIA+ de Niterói

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Neste 28 de junho, o Grupo Diversidade de Niterói comemora conquistas que reconhecem e fomentam as culturas das identidades no município
bandeira lgbt
Grupo foi criado como reação à violência praticada por grupos homofóbicos, em Niterói. Fotos: reprodução

Houve uma época em que frequentar a Cantareira, em São Domingos, poderia ser muito perigoso – dependendo de quem a frequentava.  Durante um tempo, em Niterói, foi relativamente comum gangues perseguirem integrantes da comunidade atualmente denominada  LGBTQIA+ para agredi-los, nos arredores da região. Dois jovens decidiram que era hora de dar um basta na situação. Foi nesse instante que começou a nascer o Grupo Diversidade de Niterói.

Leia mais: Uma festa e dois ‘arraiás’ animam o Dia do Orgulho, em Niterói

Nesta sexta-feira, 28 de junho, quando se celebra em todo o mundo o Dia do Orgulho, o GDN vai comemorar com festa seus 20 anos de fundação. Trata-se da sexta edição da Fervo, a ser realizada no Caminho Niemeyer, a partir das 19h30, com entrada franca.

Um dos jovens que decidira enfrentar a violência contra si e seus amigos é atualmente o diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, Victor De Wolf. O outro, Renato Marques, mora em Londres (UK). O vereador e ex-secretário municipal de Cultura, Leonardo Giordano, é um dos membros fundadores do grupo.

Será em Assunção, no Paraguai, que Wolf, um dos diretores do GDN, vai comemorar a data. Ele e a presidenta do GDN, Bruna Benevides, participam, desde o último dia 26, do 54ª Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), ao lado de outros integrantes da comitiva brasileira.

28 de junho é o Dia do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queer, Intersexuais e Assexuais, letras representadas na sigla LGBTQIA+. A data relembra a rebelião de Stonewall, que aconteceu em Nova York (EUA), em 1969, no bar Stonewall Inn, e é considerada o marco do movimento de liberação sexual e o momento em que o tema ganha o debate público e as ruas. O bar, frequentado pela comunidade LGBTQIA+, era constantemente alvo de batidas policiais. E em um belo dia, mais precisamente, 28 de junho, os frequentadores se cansaram dessa situação e começaram a gritar e atirar objetos contra os policiais, que mais uma vez perturbavam a ordem do local. O confronto durou dias e o bar chegou a ser incendiado. No ano seguinte, um ativista comemorou a data, que se espalhou pelo mundo.

Parada do Orgulho LGBTQIA, organizada pelo GDN,, reuniu cerca de 60 mil pessoas, na praia de Icaraí, em 2023.

– O amor é um componente essencial na luta da comunidade LGBTQIA+, mas o Orgulho vai muito além disso. É nossa insurreição e resposta à opressão e a afirmação de uma resistência contra todas as formas de discriminação que enfrentamos. Celebrar o Mês do Orgulho não é somente reivindicar o direito de amar quem queremos ou ser quem somos; é, sobretudo, honrar a coragem das pessoas que se levantaram contra as injustiças e exigir o respeito e a igualdade que merecemos. O Orgulho é um ato de insubordinação contra as normas sociais que nos excluem, as políticas que nos oprimem e qualquer forma de controle que tente silenciar nossas vozes”, afirmou Bruna, também presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), em mensagem para o A Seguir, do Paraguai.

Passados 20 anos, o GDN tem muito a comemorar, segundo avaliação de Vinícius Coelho, diretor de Cidadania da instituição. Ele cita como conquistas do Grupo a criação, em 2013, da Coordenadoria de Defesa dos Direitos Difusos e Enfrentamento à Intolerância Religiosa (Codir) vinculada à Secretaria Municipal de Participação Social, que atende cerca de 5 mil pessoas por ano.; a criação, em 2015, do Conselho Municipal LGBT; o ambulatório de Atenção à Saúde da População Travesti e Transexual, João W. Nery, inaugurado em 2018 – Niterói foi pioneira dentre todos os municípios do Rio de Janeiro com a destinação de um espaço exclusivo para as pessoas transexuais serem assistidas em seus processos de hormonização; e a adoção pela Universidade Federal Fluminense (UFF) do nome social, a partir de 2021.

Dentre a conquista das conquistas, está a sede do GDN que há nove anos funciona na Avenida Rio Branco 251, no Centro de Niterói. Criada e mantida por conta da participação do GDN em editais de fomento à Cultua.

Vinícius Coelho, Diretor de Cidadania do GDN.

Tudo são flores para a comunidade LGBTQIA+ em Niterói ? Não, claro que não.

– O início foi muito difícil porque não havia colaboração nem diálogo com as instituições e o governo municipal. Nós que organizamos a Parada do Orgulho na cidade. Só não fizemos duas edições nos anos da pandemia da Covid. As primeiras, não tivemos suporte. Não nos deram importância. Íamos para a rua e era um caos no trânsito, na cidade. Conforme foi aumentando nossa força, conseguimos abrir um diálogo com o governo. Nos últimos anos, temos recebido o suporte necessário para um evento que já reuniu 100 mil pessoas na praia de Icaraí. Isso foi há dez anos. Esse evento foi grande demais até para nós. Tanto que paramos de anuncia-lo. Agora, reunimos cerca de 60 mil pessoas na parada – contou Coelho informando que a data da parada deste ano ainda não foi marcada.

Segundo ele, houve ao longo desses 20 anos uma melhoria no acolhimento da comunidade LGBTQIA+ por parte da população de Niterói. E uma das armas usadas para isso foi a Cultura, com a realização de exposições, ocupações e festas realizadas de forma gratuita, em espaços públicos.

Em paralelo, muita formação e qualificação, principalmente de servidores públicos, conforme as conquistas institucionais foram acontecendo. Como observou, não adianta ter um ambulatório de Atenção à Saúde da População Travesti e Transexual se o usuário for maltratado pelo porteiro do prédio, por exemplo.

– Estamos mais seguros em Niterói hoje. Mas foram necessários 20 anos de muita formação continuada e aproximação com as pessoas – afirmou Coelho lembrando que a população trans é, no momento, a que mais enfrenta dificuldades na cidade, principalmente, nas escolas.

Se no espaço público, a situação melhorou, contraditoriamente, no privado não muito. É no ambiente familiar, segundo Coelho, que quem assume sua diversidade sexual ainda passa por “sofrimento e violência”, não necessariamente física, “mas a violência da não aceitação”.

– Na minha vida, teve muito tiro, porrada e bomba – disse ele, que é assessor parlamentar na Câmara Municipal de Niterói, tem 38 anos e há 14 anos faz parte do GDN.

Na sua opinião, datas com o Dia do Orgulho “são fundamentais” para dar visibilidade às questões da comunidade LGBTQIA+.  No que é endossado por  Bruna Benevides:

– No Brasil, celebremos um movimento LGBTQIA+ que se organiza há 45 anos e o movimento trans que, há mais de três décadas, tem promovido transformações profundas na forma como o Estado lida com nossas vidas. Nesse contexto, o Mês do Orgulho é um lembrete constante de que os direitos da comunidade LGBTQIA+ devem ser conquistados através da nossa capacidade de nos ouvir, de nos organizar e de resistir às tentativas de desviar nossos caminhos na busca por cidadania plena.

 

 

 

 

 

 

 

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