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Faz cinco anos que Juliana Figueiró desistiu de pegar ônibus para ir ao trabalho, em um cartório no Centro de Niterói. A escrivã de 34 anos trocou o engarrafamento e o estresse provocado pelo trânsito pela praticidade e rapidez da bicicleta. O meio de transporte, que não polui, ocupa menos espaço e evita aglomeração dentro do ônibus, vem se tornando a opção de transporte cada vez mais viável para ir e voltar do trabalho, especialmente com a alta do combustível, o que torna a bicicleta mais atrativa mesmo para quem tem carro.
É muito fácil distingui-los dos ciclistas por lazer, ou dos estudantes que a usam para ir à escola. Calça, camisa social, terninho, sapato fechado compõem o visual nada atlético e dificilmente associado à imagem de quem anda de magrela por aí. Mas de manhã cedo, no sinal da Rua Roberto Silveira com Miguel de Frias, é possível notá-los levando suas frasqueiras com o almoço em suas bicicletas, como faz Juliana todos os dias.
Agora, com mais gente pedalando, os problemas que costumam incomodar os ciclistas por esporte vêm dificultando a vida de mais gente. Juliana comenta que motoristas e também pedestres muitas vezes não respeitam as leis de trânsito, como se os ciclistas fossem menos importantes:
– Olha, se todo mundo seguisse as leis de trânsito, eu acho que protegeria muito mais. Isso acaba colocando todo mundo em risco, não só o ciclista, mas o pedestre também, que muitas vezes não colabora e anda no meio da ciclovia. Aqui nessa parte, no Centro, é bem sinalizado, é ótima a ciclovia, mas nas ruas internas é bem mais complicado.
Cidade adota a bicicleta
E Niterói vai se tornando cada vez mais uma cidade que se move sobre duas rodas. O aumento dessa frota de ciclistas foi percebido pela CCR Barcas, que fez modificações nas regras e estrutura das embarcações para atender à demanda crescente por espaço para as bicicletas dos passageiros.
Em 2012, a média diária de bicicletas na linha Praça Arariboia-Praça XV era de 240 veículos por dia. Atualmente, essa média é de 500 bicicletas diariamente, um aumento de 108%. Os veículos eram permitidos nas embarcações apenas aos fins de semana, mas passaram a fazer parte do dia a dia das viagens, e em 2018 foram instalados os bicicletários das proas das embarcações Gávea, Ingá, Urca e Neves.
A Coordenadoria Niterói de Bicicleta, ligada à Secretaria de Mobilidade e Urbanismo, é uma resposta do poder executivo à essa mudança de paradigma na mobilidade urbana. Através de estudos, busca entender o perfil do ciclista da cidade para adequar as vias ao seu uso, que é um dos objetivos do plano estratégico municipal “Niterói que Queremos”. Uma obra importante para os ciclistas que usam a barca para irem trabalhar no Rio foi o Bicicletário Arariboia, aberto ao público em 2017 com 446 vagas.
O Plano de Mobilidade Urbana Sustentável indica que 6% de todos os deslocamentos realizados na cidade já são por meio de bicicleta. Com obras recentes de urbanização, a malha cicloviária se encontra com 46 quilômetros de extensão, e a expectativa é que até 2024 haja 120 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas ou ciclorrotas.
Está em andamento o estudo Perfil Ciclista 2021. Um formulário online ficou disponível para a população entre junho e julho, e as respostas estão sendo analisadas pela Prefeitura. Não há data para a publicação do estudo.
Reflexos na economia
O aumento da demanda por bicicleta disparou durante a pandemia, com o apelo da necessidade de evitar aglomerações, somada à necessidade de se ir trabalhar todos os dias. Bom para o Rodrigo, que vende bicicletas na loja Bike Haus, em Icaraí. Enquanto vários setores da economia sofreram com a pandemia, ele viu as vendas de bicicletas aumentarem consideravelmente:
– Teve uma saída grande. Quando reabriu, em maio (2020) tudo o que a gente comprava, acabava em três dias, especialmente sábado. Parecia Natal. Foi um aumento de 300% nas vendas.
Até quem é do ramo opta pela magrela como meio oficial para ir e voltar do trabalho, como Claudio dos Santos, dono da Amazonas Bike. Morador do lngá, há muitos anos ele também trocou o carro pelas duas rodas no dia a dia. Ele considera que o túnel Charitas x Cafubá também trouxe ciclistas da Região Oceânica para pedalar na Zona Sul e até a acessar o Centro de bicicleta:
– Tenho vários amigos que moravam lá, e na época antes do túnel, eu chamava pra ir pedalar, e eles não queriam, porque cansava muito, ou por medo de voltar à noite. Agora, com o túnel e a ciclovia, o pessoal todo da Região Oceânica passou a se sentir mais seguro.
A Amazonas Bike também observou uma grande procura logo após a primeira reabertura, em maio do ano passado, se mantendo alta durante vários meses, até estabilizar em novembro, e voltar a crescer em 2021. Para Claudio, também representa uma mudança de hábitos e de perfil de ciclista:
– Tem a questão da pandemia. Porque de bicicleta, você evita andar colado com o outro, evita aglomerar no transporte público e se contaminar, evita também o ambiente da academia, que geralmente é um ambiente fechado, e em que você tem que dividir os aparelhos com outras pessoas. Então, acho que isso colaborou pra que as pessoas mudassem de hábito e passassem a pedalar mais.
Qual bicicleta usar?
Para quem trabalha perto de casa e vai pedalar curtas distâncias, Claudio diz que a bicicleta ideal é a bicicleta praiana, já popular pelas ruas da cidade:
– É boa, bonita, barata e muito eficiente. Tem com e sem marcha.
Agora, quem precisa se deslocar por longas distâncias até o trabalho, pode precisar de uma bicicleta mais resistente, tanto para o percurso quanto contra os efeitos do tempo:
– Se for fazer maiores distâncias, tipo de camboinhas pra cá, eu recomendo uma mais resistente, como a mountain bike aro 29, de alumínio, que é mais leve, e tem a questão da oxidação.
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