Niterói terá cursinho especializado em vestibular para Medicina

Enfiar a cara nos livros e virar a noite estudando faz parte da rotina de quem pretende disputar uma vaga numa faculdade de medicina, o vestibular mais concorrido e difícil do país. Mesmo que isso signifique enfrentar noites mal dormidas, abrir mão das atividades físicas e da socialização com os amigos e com a família. Equilibrar esta equação é o desafio de um novo curso de preparação para o vestibular especializado na medicina, o Skued, inaugurado em Niterói.

A proposta é dos também fundadores do Colégio e Curso AZ, Naun Faul e Carlos Ferrão. Eles idealizaram um curso baseado no sistema de algumas escolas de Medicina, com uma grade de aulas específica para a carreira. Um “intensivão”, com peso nas cadeiras que mais pontuam no exame, como Biologia, e muitas aulas e simulados no modelo do Enem e da UERJ. Aulas, simulados, redações, mais simulados… e mais aulas extras no fim de semana, ufa.

Em conversa com o A Seguir: Niterói, Naun Faul, que foi Diretor Pedagógico do AZ por mais de uma década, fala das novas metodologias de estudo e na aposta no Team Based Learning – aprendizagem baseada em times adotada em diversas escolas de medicina de ponta, como a Einsten, em São Paulo. Ele também foi autor do material didático utilizado no  Colégio pH.

Confira os melhores trechos da conversa:

A SEGUIR: NITERÓI: O que você carrega dessa bagagem de 30 anos de sala de aula? E como surgiu a ideia de fundar o Skued? 

NAUN FAUL: Eu acho que me fez entender a demanda dos alunos, especialmente nesse momento tão importante que é de preparação do pré-vestibular. Além disso, eu fundei e cuidei da gestão de um colégio de preparação para pré-vestibular, em 2006, o AZ, junto de Carlos Ferrão. Ele foi por muitos anos referência em aprovação de Medicina no Rio de Janeiro.

Vendemos o AZ e decidimos dar continuidade ao trabalho de pré-vestibular. A gente está abrindo a primeira turma do Skued no ano que vem. As matrículas já estão abertas, mas as aulas começam em fevereiro de 2024.

Eu e o Carlos escolhemos Niterói porque tivemos excelente experiência enquanto professores e contribuímos, juntos, para ótimos resultados. Niterói respira os ares universitários da UFF e tem famílias que reconhecem a qualidade de ensino superior de uma faculdade pública. É uma cidade que valoriza bastante a educação e tem ótimas escolas. Esse casamento entre a nossa experiência e esse contexto tem tudo para dar certo.

Onde você conheceu o Carlos Ferrão?

Nos conhecemos no Colégio pH, onde fomos professores. Somos amigos e trabalhamos juntos desde 1994.

O curso de vocês tem uma metodologia específica, o Team Based Learning. Poderia explicar no que ela consiste?

O Team Based Learning (TBL) é uma das inúmeras metodologias ativas que existem. Ela sugere que o aluno não seja apenas o polo passivo da comunicação, que não seja apenas o receptor e que ele passe a ter um protagonismo durante as aulas.

O TBL  tem uma estrutura que faz com que os alunos sejam divididos em pequenos grupos, geralmente de 6 a 8 alunos, que juntos vão resolver um conjunto de questões. Ao invés do professor mostrar o gabarito, eles terão um momento em que discutirão qual a resposta que cada um daria. A partir dessa explicação que vem o engrandecimento do processo de aprendizagem. Porque eles procuram por soluções, de forma ativa, junto com seus colegas.

Existem inúmeros estudos de neurociência que mostram que qualquer atividade realizada de maneira colaborativa maximiza os desempenhos individuais. Isso vale para todas as esferas da vida e não é diferente no processo de ensino e aprendizagem. Quando as pessoas trabalham juntas a soma da energia do trabalho é maior que cada uma separadamente.

Além disso, quando você explica um conteúdo para alguém você aprende melhor ainda aquilo que você está ensinando. Os alunos acabam assumindo uma posição de quem explica e não simplesmente de quem recebe explicações. Aliás, o nome do curso vem dessa metodologia. “Skued”, que significa pequeno grupo.

A inteligência artificial também é introduzida no curso de vocês. Como funciona esse processo?

A gente tem uma parceria com uma plataforma de ensino que é capaz de, a partir do resultado de exercícios feitos pelos alunos semanalmente, gerar uma nova lista de questões novas a partir da identificação dos erros cometidos, das habilidades que estavam sendo medidas em cada uma das questões que teve erro e do grau de dificuldade para cada uma que teve erro.

Funciona assim: ao longo de 10 semanas o aluno faz 120 questões de uma determinada disciplina. Se o aluno errar, por exemplo, 30 questões, serão propostas novas questões mapeadas no mesmo perfil daquelas que ele errou. Ou seja, que meçam as mesmas habilidades dentro do mesmo grau de dificuldade para a gente saber se entre o momento em que houve o primeiro erro e a aplicação de uma nova questão ele conseguiu sanar o problema que o levou a não acertar aquela questão original.

A ideia é corrigir essas falhas e testar mais uma vez se aquele aprendizagem que havia alguma lacuna já foi solucionado. Isso tudo é feito de forma automática por essa plataforma por meio da inteligência artificial.

O curso é voltado apenas para Medicina?

Ele é pensado para carreiras concorridas, mas não é exclusivo para Medicina. Mas, sim, podemos dizer que é pensando especialmente para Medicina. Nas disciplinas Biologia e Química a gente trabalha com questões discursivas desde a primeira semana de aula, o que garante que provas como a UERJ, aplicadas no final do ano, tenham sido nosso objeto de estudo desde o início do ano. Geralmente é comum o estudo das questões discursivas no período entre o Enem e a UERJ. O que geralmente corresponde a um período de três semanas. E aí o aluno é obrigado a virar a chave.

Outra coisa é que as redações semanais no Skued são monitoradas pelo próprio professor. O TBL de redação funciona com um debate em torno de meia hora sobre o tema da semana em pequenos grupos. Depois a discussão é estendida pela turma inteira, entre os grupos. No momento seguinte, os alunos escrevem a redação com a assistência dos professores.

Como é a carga horária do curso?

Temos uma turma integral com uma carga de 35 horas semanais, além de  seis horas diárias de monitoria. Também há disciplinas avulsas, divididas por área. À tarde e à noite são dadas aulas dessas matérias avulsas, com duas horas/ duas horas e meia de duração. Essas aulas são indicadas para alunos do Terceiro Ano do Ensino Médio para ter uma preparação mais forte em paralelo ao ensino da escola.

Vocês têm um projeto de parceria com as famílias. Como funciona esse diálogo com os alunos num momento de tensão tão forte como o pré-vestibular?

A ideia é desfazer alguns mitos em relação à preparação para o vestibular. Um deles é que você precisa ser massacrado para ter um bom desempenho no pré-vestibular. Isso não é verdade. Você precisa estudar bem. Deixar de fazer atividade física, abrir mão da sua vida social, dormir pouco. Nada disso vai ajudar na preparação do vestibular.

Tem cursos de pré-vestibular que mantém os alunos confinados dentro da instituição o dia inteiro. Às vezes por 12 horas. A gente consegue conciliar um estudo que é feito de maneira inteligente com as ferramentas que ajudam o aluno a fazer o uso racional do tempo que não tem nada a ver com abdicação da vida social. Existe uma necessidade de concentração, mas não de massacre e é nesse sentido que a participação das famílias é muito importante.

As famílias estão com a gente na orientação dos alunos e nos ajudam no diálogo com eles relação à distribuição de tempo, na importância de compreender que, apesar da grande carga de estudo o aluno precisa parar. A ideia é ter uma troca para a gente falar a mesma língua, debater sobre tempo de estudo e de como tem sido a rotina deles.

O que vocês orientam para preservar a saúde mental?

Cada estudante tem as suas individualidades, mas há alguns cuidados universais. Primeiro: o aluno precisa ter tempo para fazer alguma outra atividade fora do ambiente do curso. Os nossos alunos estudam uma carga horária elevada, mas devem sair a tempo de ir para as suas casas e fazer alguma atividade física ou terapia, ter um relaxamento. É um momento de descompressão.

A rotina ideal é o aluno ir para a sua casa, se alimentar, descansar por meia hora, pelo menos e assim fazerem as suas atividades e se preparar para o dia seguinte. Claro que quem faz preparação para esporte de alto desempenho não dá para manter as duas rotinas, mas para pessoas que recorrem a atividade física para o autocuidado é quase mandatório. Manter a atividade física regular é muito importante.

Quanto é recomendado de estudo para fora do espaço do curso?

Em torno de três a quatro horas de estudo. Mas como o aluno já costuma produzir muito dentro do curso, esse tempo pode variar.

Como são feitas as inscrições para o curso?

Elas podem ser feitas pelo WhatsApp do Curso (21) 99139-4469), pelo direct do Instagram (cursoskued) ou pessoalmente, na Rua Capitão Zeferino 13, em Icaraí.