9 de março

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Niterói tem duas escolas de samba na elite do Carnaval 2026 e consolida sua tradição no samba

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Cidade terá a tricampeã Viradouro e Acadêmicos de Niterói no Grupo Especial do Carnaval do ano que vem; Pela primeira vez na história duas escolas de uma mesma cidade fora do Rio estão no Grupo Especial do Carnaval
viradouro 2025
Em mais um ano, Unidos do Viradouro surpreende na Sapucaí. Foto: Divulgação/Renata Xavier

Com Viradouro desfila em mais um ano no Desfile das Campeãs no próximo sábado (8), após ter conquistado a quarta posição, e a Acadêmicos de Niterói se classifica pela primeira vez ao Grupo Especial e com isso, Niterói será representada por duas escolas no Carnaval 2026.

Desfile da Unidos do Viradouro no Carnaval 2025. Foto: Divulgação/Viradouro

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A cidade tem se destacado e se inserido cada vez mais na cultura do carnaval carioca. A Unidos do Viradouro, inclusive, é recém campeã na edição do Carnaval 2024.

Desfile da Unidos do Viradouro no Carnaval 2024, ano em que foi campeã. Foto: Divulgação/Viradouro

Em um perfil de sua rede social, o prefeito de Niterói Rodrigo Neves destacou que Niterói tem demonstrado tradição e força no samba e assegurou que em 2026 a cidade seguirá investindo no Carnaval e na cultura.

– Niterói é a cidade onde nasceu Ismael Silva,temos tradição e a força do samba em nossas comunidades e bairros. Acreditamos e investimos na cultura popular! Em 2026, pela primeira vez na história, duas escolas de uma mesma cidade fora do Rio no Grupo Especial do Carnaval. Vamos apoiar mais uma vez a Viradouro e a Acadêmicos de Niterói na maior festa popular do Brasil e do mundo, o Desfile na Marques de Sapucaí – Passarela Professor Darcy Ribeiro, criada por Leonel Brizola!

Carnaval 2025: um ano de boas conquistas

Neste ano, a Viradouro levou para a Avenida da Sapucaí a trajetória de “Malunguinho –  O Mensageiro de Três Mundos”. Malunguinho foi uma entidade afro-indígena, que se manifesta como Caboclo, Mestre e Exu/Trunqueiro.

Sua história remete ao estado de Pernambuco, na primeira metade do século 19. O quilombo do Catucá era foco de resistência e viu seu último líder, João Batista, o Malunguinho, ser duramente perseguido por seus atos libertários.

Já a Acadêmicos de Niterói, coroada campeã da Série Ouro, chega ao título no terceiro desfile da escola no grupo de acesso do carnaval do Rio.

Foto: Alexandre Loureiro/ Riotur

A agremiação desfilou com o enredo “Vixe Maria”, que celebrou a cultura popular das quadrilhas de festas juninas. Criada em 2018, a escola entrou na Série Ouro em 2023 e, em seu terceiro desfile, subiu para o Grupo Especial em 2025. O enredo homenageou a festa de São João em Maracanaú, no Ceará, destacando os principais elementos culturais das quadrilhas locais.

A escola apostou em alegorias e fantasias que remetiam à toda a atmosfera do nordeste. No carro abre-alas, uma fogueira simboliza o tradicional fogaréu das quadrilhas de São João. Já as baianas vieram vestidas de milho verde.

O carnavalesco Tiago Martins, que já esteve no Grupo Especial pela São Clemente dedicou a vitória ao pai, seu maior incentivador, que morreu em 2016, e disse que já tem ideias de enredo para o próximo desfile, mas prefere primeiro descansar e depois discutir com a direção sobre os rumos para 2026:

Neste ano, a agremiação contou com apoio da Prefeitura de Niterói, que investiu R$ 2 milhões para fortalecer o Carnaval da cidade.

Histórico Viradouro

Viradouro no desfile do Carnaval 2024. Foto: Divulgação/Viradouro

A Viradouro é tricampeã do Grupo Especial, mas já passou por alguns percalços na estrada – inclusive tendo sido rebaixada – até conseguir ser reconhecida e, hoje, aclamada.

A escola foi fundada em 24 de junho de 1946. A agremiação desfilou pela primeira vez em 1947, em Niterói, com as cores azul e rosa, inspiradas no manto de Nossa Senhora Auxiliadora, padroeira da escola.

Em sua estreia, na Rua Visconde do Uruguai, no Centro de Niterói, então a capital do Estado do Rio, a Viradouro ficou em quarto lugar. Mas o primeiro título não demorou muito: apenas dois anos após seu primeiro desfile, a escola venceu com o enredo “Arariboia”, em 1949.

Em 1964 e 1965, a diretoria decidiu levar a agremiação para a cidade do Rio. Porém, não conseguiu alcançar bons resultados ruins. Além disso, contou um atraso nos desfiles na Praça Onze contribuiu para que a escola voltasse a competir em Niterói, em 1966.

Nessa época, travou grandes disputas com a Acadêmicos do Cubango, outra força do carnaval local. Entre 1966 e 1985, a Viradouro conquistou oito títulos, com destaque para um pentacampeonato, de 1980 a 1984, tornando-se a escola com mais títulos no carnaval niteroiense, totalizando 18 conquistas.

Em 1971, a Viradouro decidira trocar as cores da bandeira de azul e rosa para vermelho e branco. A mudança foi a saída encontrada diante da dificuldade de encontrar tecidos na tonalidade original, após o fechamento da Fábrica Matarazzo, em São Paulo.

Em 1986, a vermelho e branco retornou de vez ao carnaval carioca. Sob comando do bicheiro José Carlos Monassa, a trajetória da escola até o Grupo Especial foi supreendente.

Mas levou 11 anos para a Viradouro faturar seu primeiro campeonato no Grupo Especial. Data de 1987 a sua vitória com o enredo “Trevas! Luz! A Explosão do Universo”, que discursava sobre a origem do universo, com a explosão do Big Bang.

Nos carnavais seguintes, a Viradouro se manteve sempre “bem na fita”, alcançando bons resultados e garantindo sua classificação para  desfile das campeã, sempre se posicionando entre as cinco primeiras escolas. Mas um outro troféu de campeã era um sonho distante. Foram mais de 20 anos.

Entre altos e baixos

Em 2010, a escola foi rebaixada e só retornou em 2014, mas logo voltou a ser rebaixada em 2015. Três anos depois, voltou à primeira divisão e, em 2020, conquistou seu segundo título, com um enredo que enaltecia a cultura popular baiana e o poder feminino ao contar a história das Ganhadeiras de Itapuã. A conquista quebrou um jejum de 23 anos.

Quatro anos depois, a Viradouro conquistou o terceiro troféu da sua história com um desfile de tirar o fôlego, difícil de se colocar defeito com o enredo “Arroboboi Dangbe!”, baseado nas crenças voduns dos povos africanos que viviam na Costa da Mina, região onde atualmente está Gana, Togo, Benim e Nigéria.

O enredo revelou a força da mulher negra e o culto à cobra sagrada e sabedoria africana e saudou o vodum, palavra que significa espírito na língua bês, da serpente.

Para esse desfile a vermelha e branca contou com 140 maquiadores15 franceses que vieram estagiar no carnaval, além de 5 maquiadores alunos do programa EMPODERADAS, que atende mulheres vítimas de violência.

“É o hino da serpente!”

A serpente foi um dos auges do desfile. A inovação colocou a escola de Niterói na boca do povo e viralizou nas redes sociais. Na época, o A Seguir entrevistou a coreógrafa Priscila Motta, responsável pelo desfile. Ela contou que a ideia de trazer uma serpente foi inspirada em Dangbé, a serpente divinizada, o vodum Dangbé.

Viradouro no desfile do Carnaval 2024. Foto: Divulgação/Viradouro

– A gente trouxe a serpente também na sua forma terrena. Foi um processo muito complexo porque a gente teve que chegar numa proporção da serpente. Não é só fazer ela andar, mas fazer com realismo, para não virar uma estrutura que não parecesse uma serpente. A serpente era um skate elétrico com uma pessoa dentro dirigindo por controle remoto. Fizemos muitos testes com quatro cobras de tamanhos diferentes.

Outro ponto de destaque foi a iluminação cênica, novidade do Carnaval deste ano. A escola foi uma das que mais utilizou o recurso. No momento em que as luzes da avenida apagavam, sobressaíam as cores neon das fantasias e do abre-alas, especialmente no primeiro setor do desfile.
Neste ano, a escola trouxe alegorias que se destacaram e fantasias imponentes. No entanto, a evolução com o bom samba não acompanhou o visual neste ano. A escola parou diversas vezes na pista e precisou correr atrás no fim e acelerar para não ultrapassar os 80 minutos e perder pontos com isso.
No entanto, com o somatório das demais categorias, a escola demonstrou sua força e alcançou a quarta posição e estará no Desfile das Campeãs no próximo sábado (8) com toda sua tradição e resiliência.

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