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Niterói quer fazer da maternidade Alzira Reis referência em parto humanizado

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Após reforma de quase três anos, maternidade em Charitas foi reinaugurada nesta quinta-feira (8) com a presença do ministro da Saúde
maternidade alzira reis
Após reforma, maternidade Alzira Reis foi reinaugurada nesta quinta-feira (8). Foto: Sônia Apolinário

Ao lado do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, reinaugurou a Maternidade Municipal Alzira Reis, em Charitas.

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A unidade começou a funcionar há 21 anos, na gestão do então prefeito Godofredo Pinto, que participou da solenidade, realizada nesta quinta-feira (8), ao lado do também ex-prefeito Axel Grael.

O palco montado no estacionamento da maternidade ficou pequeno para receber tantas autoridades, de diferentes partidos políticos, como, por exemplo, a deputada Talíria Petrone (PSOL). Sua presença deve-se ao fato de ter destinado R$ 1,2 milhão para a obra, por intermédio de emenda parlamentar.

Placa de inauguração descerrada, a maternidade entra, agora, em um período de transição até iniciar seu pleno funcionamento, previsto para 1º de junho. Orçada em R$ 27 milhões, a reforma da Alzira Reis levou quase três anos. Nesse período, muitos niteroienses nasceram nas instalações do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), no Centro, para onde a maternidade foi “transferida”.

Segundo a secretária municipal de Saúde, Ilza Fellows, a reforma vai dobrar a capacidade da maternidade que, agora, terá condições de realizar 300 partos, por mês.

O prefeito Rodrigo Neves fez questão de explicar porque a obra demorou tanto:

– Durante o trabalho de reforço das fundações, foram encontradas ossadas. Em um primeiro momento, se pensou que fossem de indígenas e órgãos do patrimônio histórico determinaram a paralisação da obra. No final, os estudos indicaram que não se tratavam de ossadas de indígenas – contou.

A maternidade

Uma das novas instalações da maternidade. Fotos: Prefeitura de Niterói

Com a reforma, a unidade passou a ter 28 leitos de internação, sendo 10 novos leitos destinados ao atendimento das gestantes em trabalho de parto. Com a Alzira Reis, a prefeitura de Niterói pretende que o município seja referência em partos humanizados.

A Maternidade Alzira Reis conta com dois leitos de recuperação pós-anestésica e toda estrutura de apoio a partos cirúrgicos, assim como aos partos normais, com cinco novos ambientes planejados para a realização de pré-parto, parto e pós-parto no mesmo ambiente, além dos demais recursos de internação, com acolhimento familiar. Também há uma Unidade de Cuidados Intermediários para recém-nascidos.

O projeto contempla, ainda, melhorias nos ambientes de acolhimento das gestantes, com salas específicas para os exames de ultrassonografia, ecocardiograma e análises clínicas; leitos de observação para avaliação da indicação de internação; além de ambientes planejados para estar de acompanhantes e para as atividades de apoio ao aleitamento.

Neste primeiro momento, a maternidade terá equipes de plantão para realização do acolhimento, primeiro atendimento e realização de exames. Caso necessário, as gestantes serão transferidas ainda para o Hospital Universitário Antônio Pedro.

A partir de 19 de maio, começa a segunda fase do processo de transição da unidade, quando o atendimento na Maternidade Municipal Alzira Reis será ampliado, com a realização de alguns procedimentos. A partir de 1º de junho, a expectativa é de que a unidade esteja 100% operante, com a completa desmobilização das equipes que hoje atuam no Huap.

–  A Alzira Reis será referência para o Brasil de parto humanizado. Vocês vão ficar orgulhosos dessa maternidade – afirmou Rodrigo Neves.

Parturientes ilustres

Mãe (E), tias e irmã (D) do prefeito Rodrigo Neves. Foto: Sônia Apolinário

A mãe, duas tias e uma irmã do prefeito Rodrigo Neves participaram da cerimônia de reinauguração da maternidade. Mais do que prestigiar o ente querido, elas viveram momentos de nostalgia. Foi na Alzira Reis que a mãe do prefeito, Maria Luiza, deu à luz Adriana, terceira filha da família, sendo Rodrigo seu irmão caçula. As tias Maria Auxiliadora e Maria Inês também tiveram, cada uma, dois filhos na maternidade.

– Era tudo direitinho, mas não se compara como está agora que está muito lindo – afirmou Maria Luiza.

– Eu me lembro bem dessa rampa (na entrada da maternidade). Eu subi por ela segurando a barriga – lembrou Maria Auxiliadora.

O prefeito não nasceu na Alzira Reis. Ele é gonçalense.

– A bolsa estourou e meu médico estava de plantão em São Gonçalo e eu tive que ir rápido para lá. Rodrigo foi apressadinho e acabou não nascendo em Niterói – contou Maria Luiza.

Na obra

Bruno Gomes trabalhou na reforma Foto: Sônia Apolinário

Distantes da cerimônia, funcionários da Empresa de Infraestrutura e Obras de Niterói (ION, ex-Emusa) acompanharam a reinauguração da maternidade. Nos últimos dias, o ritmo de trabalho foi intenso para que a obra pudesse ser entregue na data prevista.

Dentre eles estava Bruno Gomes. Ele reformou o local onde nasceram dois dos seus três filhos. O mais velho foi em 2020 e a lembrança que Bruno tem do local é que a “maternidade era bem precária”.

O segundo filho nasceu em 2022, com uma parte da maternidade interditada por conta das obras. Já o terceiro, nasceu no Hospital Azevedo Lima porque a reforma já tinha tomado conta de toda a unidade.

– A maternidade, agora, está muito bonita diante do que eu conheci. Espero que seja mantida assim. Dá gosto ver – disse ele.

Pretende ter um quarto filho para “estrear” a maternidade reformada? – perguntou o A Seguir

– Não, chega. Pelo amor de Deus – disse ele entre risos.

Governo federal

O ministro Alexandre Padilha e o prefeito Rodrigo Neves: Foto: Prefeitura de Niterói

Antes da solenidade de inauguração da maternidade, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, fez a entrega de uma ambulância para o prefeito de Niterói Rodrigo Neves.

Segundo o ministro, o ato simbolizou parcerias que estão sendo desenvolvidas entre os governos federal e municipal.

Atualmente, Niterói tem dez ambulâncias sendo que o município arca com as despesas de uma delas.

– O governo federal vai repor para Niterói o custo que o município tem com a ambulância e cada veículo que necessitar substituição, será prontamente substituído – afirmou Padilha.

Na cerimônia, ele informou que dois quadros do ministério da Saúde foram deslocados “para ficarem juntos” da equipe da Alzira Reis.

Também afirmou que Niterói poderá contar com o governo federal para financiar a construção de um Centro de Exames, na Região Oceânica.

Alzira Reis

A neta de Alzira Reis, ao lado da secretária municipal de Saúde, Ilza Fellows, durante a cerimônia. Foto: Sônia Apolinário

A mineira Alzira Reis (1886 – 1970) foi a primeira médica formada do Estado de Minas Gerais e uma das primeiras eleitoras do Brasil.

Nascida na cidade da Barra, aos 16 anos, já formada professora, passou a lecionar em diferentes cidades do estado. Foi em Juiz de Fora que aflorou sua vocação pela medicina. Em 1913, ingressou na  Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

– A mãe dela ficou de mal com ela quando ela entrou para a faculdade. Ficou até sem falar com ela por vários meses. Várias pessoas falaram para ela não fazer a faculdade. Mas ela fez, ela fez, ela fez – recordou, emocionada, a neta de Alzira Reis que participou da cerimônia de reinauguração da maternidade ao lado de uma das tataranetas da médica pioneira.

Niterói entra na vida de Alzira quando ela se casa com Joaquim Vieira Ferreira Neto, que conheceu no curso de Medicina –  e provoca outro escândalo, não só na família. O rapaz tinha 18 anos e ela 33. Estabelecidos na cidade, tiveram quatro filhos. Joaquim faleceu em 1961. Alzira em 1970.

Alzira trabalhou em posto de saúde de Niterói. Foi uma médica obstetra empenhada, sobretudo, na defesa dos portadores da hanseníase.

Em 1905 ela e algumas amigas alistaram-se como eleitoras invocando a Constituição..O envolvimento de Alzira com a luta feminina a levou a aliar-se a Berta Lutz, em 1931, participando da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em defesa do direito do voto da mulher, concorrendo, inclusive, à Assembleia Constituinte.

Não bastasse ter chocado a sociedade ao estudar Medicina e brigar pelo direito ao voto das mulheres, Alzira “ousou” cortar seu cabelo a “La Garçonne” – curtinho na altura da orelha e batido na nuca. Ela passou a maior parte da sua vida ouvindo que só lhe agradava fazer “coisas de homem”.

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